De médico e de louco, todos temos um pouco

Sonia Pinote Bernardes // Novembro 15, 2022
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“De médico e de louco, todos temos um pouco.” Desde pequenos que ouvimos este provérbio português. Nele está implícita a facilidade com que emitimos uma opinião sobre um sintoma, doença ou tratamento e, ao mesmo tempo, a rapidez com que, por vezes, ficamos alterados emocionalmente quando não somos compreendidos naquilo que expressamos.

O pequeno/grande passo da violência para a sua prevenção

Se existirem as circunstâncias ideais para acionar uma espécie de gatilho, em segundos, o ser humano passa de passivo a ativo, ou seja, de protetor a agressor. As teorias do “eu acho que”, na área da medicina e nas relações humanas, podem ser fonte de conflitos. É nas diferenças, nas percepções individuais, que a comunicação clara e assertiva tem uma extrema importância.

Sentirmo-nos bem física e psicologicamente, é uma necessidade básica. Mais do que a ausência de doença, sabermos lidar com os sintomas que nos surgem e com um determinado diagnóstico, é cada vez mais facilitado pelas novas tecnologias e pelo acesso à informação.

Com a informação, vem a responsabilidade de saber lidar com os sintomas e de aderir aos tratamentos de saúde. A prevenção na área da saúde, começa pelo seu conhecimento e pela aquisição de comportamentos saudáveis que nos permitam evitar as doenças. 

No entanto, a realidade ainda não é bem esta. Nem sempre controlamos o que nos acontece. 

Um SNS ao serviço de Portugal

Há 43 anos, iniciou-se em Portugal um Serviço Nacional de Saúde (SNS), dedicado ao bem-estar da população, em que os profissionais estariam disponíveis para cuidar, tratar e apoiar a diferentes níveis. Seja na prevenção, seja na intervenção, nas mais variadas unidades de saúde nacionais.

Desde então, a sociedade tem vindo a mudar. A saúde tem vindo a evoluir e os sistemas a ficarem mais complexos, com necessidade de mais organização e participação de todos. 

É nesta complexidade, que surgem novos serviços, novos profissionais, com novas tecnologias, novos acessos à informação, novas exigências e novas responsabilidades. Mas também os utentes estão diferentes. Estão hoje mais informados, mais exigentes e capacitados. Razão pela qual perguntamos agora: Será que estamos mais envolvidos nesta relação com o nosso todo, em termos de saúde (corpo e mente)? Será que estamos mais próximos e fazemos equipa, com as unidades e profissionais que cuidam de nós? E até com a sociedade?

Vivemos numa era onde as mudanças acontecem ao minuto. No entanto, na área da saúde existem tempos diferentes. E porquê ? Porque há princípios que deveriam ser respeitados por todos e, enquanto isso não acontecer, as mudanças serão sempre mais lentas. 

Um seminário sobre prevenção da violência para melhorar os cuidados de saúde 

A forma como precisamos uns dos outros, deve prevalecer no acesso aos cuidados de saúde e na forma como comunicamos neste setor.

Nada deve justificar as situações de violência verbal, física ou de assédio moral, que existem nestes locais de trabalho. Não fazem sentido comportamentos apenas fundamentados em frustrações ou necessidades que não foram atendidas, no tempo que tínhamos previsto ou na forma que tínhamos idealizado. 

O que aqui nos leva à reflexão é a forma como nos estamos a relacionar uns com os outros – quer entre profissionais, quer entre utentes, quer entre profissionais e utentes. 

Na nossa prática diária, como profissionais de saúde, temos desenvolvido estratégias para lidar com esta problemática. Mas não chegam. É preciso o envolvimento e a participação de todos nós. Para tal, temos colaborado num grupo nacional da DGS (Direção-Geral da Saúde), que está comprometido em operacionalizar um plano com medidas concretas para o bem-estar de profissionais de saúde e utentes –  o Plano de Ação para a Prevenção da Violência no Setor da Saúde, integrado no Programa Nacional de Prevenção da Violência no Ciclo de Vida.

Para combater estas situações de violência, sempre com a prevenção das mesmas no topo das prioridades, e em proximidade com um Gabinete de Segurança criado para o efeito, os próximos passos serão alertar para a consciência individual de cada um de nós. Para tal, está a ser organizado um seminário  -“Violência no Setor da Saúde – da Prevenção à Ação” – no dia 17 novembro, numa parceria da DGS, Gabinete de Segurança e todas as Regiões de Saúde, com acesso a todos e para todos – órgãos decisores, profissionais e utentes.

Saúde de todos e para todos

Enquanto utilizadores do SNS, um dia, vamos precisar de ajuda. Reconhecer a nossa postura e forma de estar nestes contextos é o começo para garantir a segurança e minimizar situações desagradáveis que, mais tarde ou mais cedo, vão ter consequências não apenas para nós, mas também para toda a sociedade. Não restam dúvidas que qualquer situação de violência que ocorra na área da Saúde afeta a qualidade dos cuidados prestados, do bem-estar da organização SNS e de toda a sociedade

A missão deste grupo da DGS é promover comportamentos saudáveis e prevenir a violência. Promover estratégias, onde todos estamos envolvidos na resolução dos problemas do Serviço Nacional de Saúde. Porque a saúde é de todos e para todos. Cuidar de quem cuida é uma responsabilidade de toda a comunidade. 

NOTA: Texto escrito em parceria com André Biscaia (Médico de Medicina Geral e Familiar; Coordenador do Plano de Ação para a Prevenção da Violência no Setor da Saúde, PAPVSS, DGS), Daniela Machado (Psicóloga Clínica; Coordenadora do Programa Nacional de Prevenção da Violência no Ciclo de Vida, PNPVCV, DGS) e Sérgio Barata (Subintendente; Coordenador do Gabinete de Segurança do Ministério da Saúde).

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