Na minha prática clínica atual, noto uma mudança na percepção das emoções. A ideia de que existem emoções negativas, tais como a tristeza, está a dissipar-se. Consideradas como non gratas, muitas vezes tentamos evitá-las, camuflá-las ou ignorá-las, como se fossem um incómodo a evitar.
A verdade é que não existem emoções intrinsecamente negativas.
Algumas emoções são desconfortáveis porque, na maioria das vezes, não fomos ensinados a lidar com elas desde cedo. Crescemos a ouvir frases como: “Não fiques triste”; “Não chores”; “Vamos dar tautau à mesa que bateu no bebé!”. E se somos do sexo masculino, o reforço é ainda maior com o ditado: “Os homens não choram”.
Estas narrativas ecoam ao longo da nossa jornada de crescimento, cristalizam-se, tornando-se parte do nosso diálogo interno e moldando a forma como percebemos a vulnerabilidade.
Muitas pessoas que procuram ajuda terapêutica veem a vulnerabilidade como fraqueza. Parte do trabalho terapêutico é desmontar essa ideia e aprender a abraçar a vulnerabilidade, desenvolvendo autocompaixão. A tristeza, muitas vezes, desempenha um papel adaptativo fundamental e é essencial reconhecê-la. Ou seja, ela precisa de lá estar.
Estar triste não é o mesmo que estar deprimido, assim como felicidade não é sinónimo de euforia.
O silêncio não é vazio, mas, sim, uma presença que nos obriga a estar em contato connosco mesmos. No entanto, muitas pessoas têm dificuldade em aceitar o silêncio e sentem a necessidade de preenchê-lo a todo o custo, evitando confrontar-se com sua própria presença.
Como psicóloga, acredito que o silêncio pode ser tão, ou até mais, revelador do que palavras. Recordo-me de “Maria”, uma mulher que vivia a braços com uma depressão profunda e que, numa fase avançada da terapia, me disse isto: “É bom podermos contar com o silêncio quando estamos tristes”.
O silêncio não é ausência, é presença.
Muitas vezes evitamos a nossa própria presença, mantendo-nos ocupados com distrações e objetivos externos para evitar o confronto com nós mesmos. Essa constante fuga de nós mesmos gera ansiedade e sentimentos negativos. A busca incessante por novidades e entretenimento, especialmente nas redes sociais, pode aumentar o vazio interior.
A ideia de que o aborrecimento pode ser evitado através de estímulos contínuos é ingénua. Quanto mais tentamos evitá-lo, mais entediados nos sentimos. Estou convencida de que o tédio é importante para a criança ser uma boa companhia para si mesma e que “não fazer nada” é essencial para ela adquirir competências para a sua vida.
Em vez de tentar “tratar” a tristeza, é importante reconhecer o seu valor.
Estar triste não é estar deprimido, pelo que não faz sentido “tratar” a tristeza. Até porque a tristeza pode mesmo ser considerada o melhor antidepressivo que existe.
Hoje, como mãe de dois rapazes, jamais direi aos meus filhos: “Os homens não choram”.