O coaching está a dar que falar. Todos os dias chegam-nos testemunhos sérios e credíveis de sucesso e ganhos a nível pessoal e profissional. Mas não só. Conhecemos também vários exemplos de pessoas que recorrem ao coaching para resolver a sua vida e que, por milagre, tornam-se bem sucedidas e capazes de se superarem, como se tivessem descoberto, de um dia para o outro, o seu propósito, quem são ou no que se devem focar, e que afinal ter sucesso passa apenas por querer e por ser capaz de encontrar o nosso “eu”, seja lá o que isso for. São situações que muitas vezes revelam uma postura menos séria dos profissionais desta área e que têm trazido má fama a este método. E são estes os casos que fazem soar os alarmes dos coaches que trabalham de forma ética e responsável, em particular, e dos psicólogos no geral.
Na minha visão enquanto psicóloga, importa salientar que o processo de coaching pode ser muito útil, especialmente na clarificação e definição de objetivos sobre algo que se pretende atingir, de forma relativamente rápida e quantificável. Por exemplo, quando se quer melhorar, expandir ou desenvolver numa área em particular, como começar um projeto pessoal. No compromisso com a ação, através das estratégias adequadas, passa-se das intenções à obtenção de resultados e, assim, é possível contribuir para melhorar a satisfação com a vida, por exemplo. No entanto, é um processo de mudança e, como tal, as pessoas confrontam-se com os desafios que qualquer processo de mudança implica, desafios esses que têm um impacto único e distinto em cada um. A forma como este impacto é gerido está directamente relacionada com o sucesso do processo. É muito provável que no decorrer deste processo seja necessário e importante um olhar e uma abordagem que contemple teorias da psicologia, com as quais os psicólogos se posicionam como os profissionais mais treinados e qualificados para o fazer.
O coaching e a psicologia: Parceiros na mudança
A psicologia e o coaching podem formar uma parceria que se complementa para dar resposta e proteção contra as soluções milagrosas e mágicas que se encontram por aí, criando maior segurança e assegurando a qualidade das intervenções.
O psicólogo, por ter formação em Psicologia, traz outra bagagem sobre questões cognitivas, emocionais e comportamentais, abordadas e presentes em todos os processos de mudança, para além das competências de interação one-to-one, resolução de problemas, empatia, capacidade de gerar insights, análise de comportamento e reestruturação cognitiva. A sua capacidade para identificar problemas de saúde mental também é apurada, o que é de extrema importância.
O coaching, feito por quem não é psicólogo, mas com formação credível, traz conhecimento de outras áreas de acordo com a sua formação de base e experiência, o que enriquece e contribui para o desenvolvimento pessoal e profissional, e, por isso, coaching e psicologia podem complementar-se.
Importa ainda sublinhar o preconceito presente em alguns ambientes. “Se se é fraco precisa-se de psicólogo, se se é competente precisa-se de um coach.” Isto não é de todo verdade. Porém, se existe esse bloqueio é importante dar resposta a isso e mostrar que os dois podem-se alinhar com vista a um bem comum.
Cada mudança é individual e única
Seja como for, com um psicólogo ou um coach, só com um dos dois, ou com os dois profissionais a trabalhar em conjunto, a promessa do milagre da mudança fácil e rápida deve ser substituída por uma atuação fundamentada, profissional e ética, que nada pode prometer além disso mesmo. Até porque a mudança é individual e única, tal como cada um de nós, não é previsível nem dá garantias até que aconteça.