Telmo, um jovem libertado pela dança

Fátima Lopes // Abril 28, 2017
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Na comemoração do Dia Mundial da Dança, decidi pegar na história impressionante do Telmo, para homenagear esta arte.

Conheci o Telmo, como a maioria dos portugueses, através de uma magnífica reportagem do Jornalista Paulo Salvador, emitido no Repórter Tvi, no passado domingo e 2ª feira.

Telmo nasceu em Câmara de Lobos, na Madeira, numa família cheia de dificuldades, destruturada, sem pai nem mãe presentes, liderada por uma avó implacável e onde a fome, a miséria e a violência, foram as suas mais fiéis companheiras. Pedia esmola diariamente e levava pancada também quase diariamente. Razão: não trazer para casa os 1000 escudos que a avó lhe exigia ou fazer chichi na cama. Estas esmolas eram imprescindíveis para sustentar uma casa onde viviam 22 pessoas. O pai não o conheceu até aos 22 anos e nem aí deixou saudades, a mãe partiu quando ele era bebé sem olhar para trás. Ficou com os irmãos, todos pequeninos, ao cuidado dos avós. Nunca percebeu porque não teve direito a um pai e a uma mãe, a um colo, carinho e cuidados. Fazia por sobreviver e desenvolveu este seu instinto ao máximo.

Aos 9 anos entrou para uma instituição onde estavam internadas crianças com necessidades especiais. Foi mais uma forma da avó receber um subsídio extra. Foi aqui que conheceu pela primeira vez o que era ter quem cuidasse de si, onde deixou de ter fome e onde conseguiu criar a noção de família. A sua família. Não a que a vida lhe impôs, mas aquela que escolheu. Ganhou uma “mãe”, uma “tia” e uma “madrinha”. E foi por estar nesta instituição, que pode ir experimentar as aulas de dança que um brasileiro sonhador tinha começado a implementar na Associação Dançando com a Diferença, entretanto criada por ele.

Telmo gostou, envolveu-se, passou a participar cada vez mais e a estar disponível para ajudar os outros a conseguirem dar o seu melhor com as suas múltiplas dificuldades e diferenças. Tornou-se professor e hoje tem um papel fundamental na vida de todas as pessoas que têm a sorte de se cruzar com ele, porque ajuda-as a superarem-se, a aceitarem-se, a sonhar e a serem felizes na sua condição. Telmo ganhou asas com a dança, sonhou e libertou-se. Telmo fez as pazes com o passado, perdoou a quem tinha que perdoar e deixou que fosse a arte a alimentá-lo.

A dança foi a maior benção que a vida lhe deu, mas a verdade é que cada vez que Telmo dança, dá à dança um carácter maior.

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