Ser mulher depois de ser mãe

Mafalda Simões // Março 13, 2018
Partilhar

Uma das maiores transformações na vida de uma mulher assenta na maternidade. Ser mãe modifica todas as prioridades na vida de uma mulher. Todos os seus conceitos da vida em geral se alteram e isso modifica muitas vezes a sensação do seu bem-estar numa fase inicial, à qual é fundamental adaptar-se. A vida em casal ou em família é o pilar desta adaptação e nunca deverá ser esquecida.

Ser mulher depois de ser mãe é uma fase de aprendizagem e não deve ficar para último plano. Também não deve ser encarado como sinónimo de ser uma mãe negligente. Pelo contrário, o bem-estar da mulher permitirá cuidar do seu bebé com maior dedicação e motivação, deixando para trás os momentos de maior angústia e ansiedade. Recuperar a forma física e psíquica permitirá à recém mãe desempenhar o seu papel de “boa mãe” cada vez melhor.

Pós-parto

No pós-parto há tendencialmente uma fase depressiva que poderá durar entre dias a meses. Dependendo da gravidade da situação poderá de ter de recorrer a um médico mais ou menos diferenciado. É essencial a mulher aproveitar a fase do pós-parto para fazer a sua revisão numa consulta de Ginecologia-Obstetrícia, onde o estado psíquico e físico deverá ser avaliado. Habitualmente esta consulta é feita 6 a 8 semanas após o parto, com o médico que vigiou a gravidez, e serve essencialmente para verificar se está tudo bem com a saúde da recém mãe, avaliando aspectos particulares como a cicatriz da eventual episiotomia ou da cesariana (dependendo da via de parto), a pressão arterial e o peso. Se a gravidez tiver sido de alto risco, outros fatores terão de ser avaliados dependendo da patologia em causa.

Também nesta consulta pode ser feito o rastreio do cancro do colo do útero se o timing for adequado e eventualmente a referenciação para uma consulta de nutrição, se for esse o desejo da mulher.

Contracepção pós-parto

A contracepção no pós-parto é um tema sempre abordado nestas consultas, suscitando sempre diversas dúvidas.O método de contracepção após o parto depende essencialmente da opção da mulher, doenças pré-existentes e se a mulher vai ou não amamentar.

É importante iniciar a contracepção precocemente após o parto, idealmente antes de ocorrer a ovulação de forma a evitar uma gravidez não planeada e indesejada. Adicionalmente uma gravidez com um intervalo curto entre gestações pode também implicar riscos acrescidos,reforçando a importância da contracepção no pós-parto.

Idealmente, esta discussão sobre métodos contracetivos, deverá ser feita no período pré-natal, devendo ser revistos ou mesmo implementados antes da alta hospitalar em algumas situações.

A maioria das mulheres que não amamenta pode ter uma primeira ovulação 4 semanas após o parto, pelo que a contracepção deve ser iniciada na 3ª semana após o parto (21ºdia).

A mulher que estiver exclusivamente a amamentar, com intervalos regulares, incluindo durante a noite, tem uma proteção contraceptiva conferida pela lactação de cerca de 98%, nos 6 primeiros meses do pós-parto.

O período pós-parto está associado a um aumento de risco de complicações tromboembólicas, em particular nas primeiras três semanas. Este risco de tromboembolismo venoso (TEV) é superior se a mulher estiver a fazer um tratamento hormonal com estrogénios pelo que a contracepção hormonal combinada (estrogénios + progestativos) não está recomendada nas primeiras 6 semanas após o parto em mulheres com fatores de risco para trombose venosa e nas primeiras 3 semanas para mulheres sem fatores de risco.

Os contracetivos com progestativos não aumentam o risco de TEV, uma vez que têm um efeito mínimo nos fatores de coagulação, pressão arterial e níveis lipídicos, sendo os contracetivos de eleição no pós-parto, na ausência de contraindicações.

Nas mulheres que amamentam, sabemos que a contracepção é eficaz perante os seguintes critérios: 6 primeiros meses do pós-parto, amamentação exclusiva com intervalos regulares (incluindo no período nocturno) e amenorreia (ausência de menstruação) – a chamada amenorreia lactacional. Uma vez que é difícil estarem presentes todos os critérios, é habitualmente recomendada uma contracepção adicional para maior segurança e eficácia. Nestas mulheres, os métodos não hormonais como o método de barreira (preservativo masculino) ou o dispositivo intrauterino de cobre poderão ter a vantagem de serem eficazes, seguros e de não serem sistémicos (não há absorção de hormonas para o sangue). Alternativamente temos a pílula com progestativo, que é eficaz e segura durante toda a amamentação, podendo ser utilizada pela maioria das mulheres na ausência de contraindicações a partir do 21ºdia.

Nestas mulheres a pílula com estrogénios está desaconselhada durante os primeiros 6 meses de amamentação devido ao risco teórico de efeito negativo na produção de leite, para além do risco já referido de TEV.

Reiniciar a vida sexual

Outro tema transversalmente abordado na consulta do pós-parto é o reinício da vida sexual. Quando se pode reiniciar? Obviamente que isso estará um pouco dependente da via de parto e da observação médica, mas a regra mais sensata é a dor funcionar como sensor. Se a mulher tiver ainda dores nas relações sexuais, então poderá ainda ter de esperar mais um pouco para recuperar a sua vida sexual em pleno.

Depois há também as questões da secura vaginal associada à amamentação e ao estado hormonal desta fase da vida, bem como a exaustão física inerente às obrigações de mãe, que dificultam o retorno a uma vida sexual normal.

No caso da secura vaginal, pode fazer uma medicação chamada estrogenioterapia tópica que poderá ajudar bastante a ultrapassar esta situação.

Voltar a praticar exercício físico

O recomeço da atividade desportiva é outra das formas da mulher recuperar mais rapidamente a sua forma física e consequente melhorar a autoestima.

A via de parto condiciona o timing deste recomeço, sendo de 8 semanas para uma cesariana e de 4 semanas para um parto vaginal.

No caso de um parto vaginal instrumental (fórceps ou ventosa) pode haver alguma indicação específica para iniciar exercícios específicos um pouco mais cedo, no sentido de prevenir disfunções do pavimento pélvico como a incontinência urinária.

A ginástica abdominal hipopressiva desempenha, nesta fase do pós-parto, um papel benéfico cada vez mais comprovado, sendo importante o aconselhamento por um profissional de saúde treinado e conhecedor do método.

Apesar de recém mãe, é fundamental ter presente que os cuidados com a saúde são armas importantes para garantir o seu bem-estar. Os rastreios não devem cair no esquecimento, pois continua a ser mulher depois de ser mãe.

Social Media

Copyright © 2023 Simply Flow. Todos os direitos reservados.

Este site utiliza cookies para melhorar a sua experiência. Aceitar Saber mais