9 Dicas para uma alimentação e compras (mais) conscientes

Eunice Maia // Fevereiro 21, 2021
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De acordo com a Global Footprint Network, a nossa alimentação exige do planeta metade da sua biocapacidade[1]. Em Portugal, segundo um estudo[2] publicado em 2020, a alimentação é responsável por 29% da pegada ecológica nacional, assumindo-se como o país mediterrânico com a maior pegada alimentar per capita.

Por outro lado, no mundo, por ano, a FAO estima que 1,3 mil milhões de toneladas de alimentos adequados ao consumo humano se perdem ou desperdiçam, o que representa ⅓ de todos os alimentos produzidos[3]. De forma paradoxal, cerca de  820 milhões de pessoas no mundo vivem em situação crónica de subnutrição ou de insegurança alimentar[4].

Não ao desperdício alimentar!

Desperdiçar alimentos é dilapidar recursos valiosos – solo, água, energia – e continuar a contribuir para aprofundar o fosso inexorável entre os que têm acesso e se dão ao luxo de descartar e aqueles que nada têm. É, sem dúvida, um dos maiores (e mais lamentáveis) paradoxos do nosso tempo. É inaceitável e imoral. Não podemos, como comunidade, continuar a descartar comida. Temos o imperativo moral de a valorizar e aproveitar, porque temos a sorte de a ter.

E se é verdade que este desperdício ocorre ao longo de toda a cadeia alimentar, desde a produção agrícola, ao processamento, à distribuição e ao consumo; é na fase final da cadeia que se verificam, no caso dos países mais desenvolvidos, os valores mais elevados de desperdício alimentar. Em Portugal, o Projeto de Estudo e Reflexão sobre o desperdício Alimentar (PERDA), realizado em 2012, apontou para um total de perdas e desperdício alimentares que ascendiam a 1 milhão de toneladas (17% da produção anual), o que corresponde a 96,8 kg de desperdício alimentar per capita, sendo que 31,4% se verifica ao nível do consumo.

Estes números confirmam que também no nosso país é sobretudo ao nível familiar e doméstico que se gera mais desperdício. Isto significa que, enquanto consumidores, embora façamos parte do problema, também somos parte da solução e temos um papel, a título individual, que é fundamental para combater estes dados avassaladores.

Evitar o desperdício alimentar está nas nossas mãos.

A forma como nos alimentamos e como escolhemos e compramos alimentos é uma poderosa ferramenta para reduzirmos a nossa pegada ecológica, para combatermos o desperdício alimentar e para contribuirmos, ao mesmo tempo, para uma sociedade mais justa e para um planeta habitável e sustentável para todos.

Como comprar alimentos de forma (mais) consciente?

Planificar 

  1. Fazer uma lista de compras, depois de verificar a despensa e o frigorífico (repensar), e definir um orçamento;
  2. Planificar refeições e porções a confecionar e comprar em função das quantidades exatas a usar nessas refeições (reduzir);
  3. Conceber um plano de refeições que permita reduzir a aquisição de produtos de origem animal, experimentando novas receitas (com leguminosas, hortícolas, cereais e tubérculos, sementes, frutos gordos, fruta…) (reduzir);
  4. Optar por recipientes e sacos reutilizáveis para reabastecimento a granel (reutilizar).

Comprar menos, comprar melhor

  1. Privilegiar a compra de alimentos de agricultura não intensiva e que valorize (e regenere) os ecossistemas. Procurar informações sobre mercados de produtores biológicos que se realizam, normalmente, aos fins-de-semana em locais específicos de cada localidade; 
  2. Incentivar um sistema de produção e comercialização de alimentos baseado em circuitos curtos agroalimentares, apoiando os produtores locais e nacionais, respeitando a sazonalidade;
  3. Recusar a sobre-embalagem ou embalagens desnecessárias e de uso único; 
  4. Escolher alimentos fora dos padrões estéticos impostos ou calibre habitual, apostando igualmente no seu aproveitamento integral (talos, ramas, sementes, etc. – por exemplo: a rama do alho francês fica deliciosa assada ou salteada);
  5. Apoiar projetos e descarregar aplicações de combate ao desperdício alimentar;
Too Good to Go e Phenix Portugal: aplicações que ligam superfícies comerciais (restaurantes, cafés, padarias, floristas, supermercados…) ao consumidor, permitindo o excedente alimentar que seja vendido a preços muito mais baixos, reduzindo o desperdício e otimizando os recursos.
Olio: aplicação que permite a partilha com vizinhos de alimentos ou outros bens, em vez de os descartar.
Refood: um dos projetos pioneiros e mais reconhecidos no combate ao desperdício, a Refood recolhe excedentes alimentares, que são depois distribuídos depois por voluntários por quem mais precisa. 
Fruta Feia: cooperativa que resulta de uma iniciativa para aproveitar fruta e vegetais que de outra forma seriam desperdiçados, por não terem o aspeto perfeito e/ou o calibre necessário.
Equal Food: Startup que faz parcerias com agricultores de várias regiões do país, e também de Espanha, que fornecem excedentes imperfeitos, mas, em perfeitas condições de consumo, que não são vendidos nos canais habituais. Vende cabazes de legumes e fruta até 40% mais baratos.
GoodAfter: Supermercado online dedicado à venda de produtos que se encontram perto do fim do prazo de consumo preferencial, ou mesmo ultrapassado esse prazo, estando ainda aptos para o consumo. Para além de contribuir para evitar o desperdício alimentar, tem descontos até 70%.
  1. Ter em conta a validade do produto –  a indicação “consumir de preferência até…” significa que o mesmo ainda poderá ser consumido após esse prazo, desde que esteja em bom estado. Como consumidores, devemos (ativamente) exigir transparência, rastreabilidade e acesso generalizado a informação validada por organizações competentes e independentes, tornando possível (e fácil) fazer a comparação fundamentada entre produtos, tendo em conta: ciclo de vida do produto, impacto ambiental, social e económico[5].

Consumir de forma consciente é co-criar o futuro em que queremos viver.

Fontes (consultadas em dezembro de 2020):

. [1] Global Footprint Network: https://www.overshootday.org/solutions/food/

. [2] Galli, A., Iha, K., Halle, M., El Bilali, H., Grunewald, N., Eaton, D., Capone, R., Debs, P., Bottalico, F. 2017. Mediterranean countries’ food consumption and sourcing patterns: An Ecological Footprint viewpoint. Science of the Total Environment, 578, 383–391.

. [3] FAO. 2011. Global food losses and food waste – Extent, causes and prevention. Rome.

. [4] HLPE. 2014. Food losses and waste in the context of sustainable food systems. A report by the High Level Panel of Experts on Food Security and Nutrition of the Committee on World Food Security. Rome. p.11. [Online].  Disponível em http://www.fao.org/3/ai3901e.pdf.

. [5] UNEP. 2017 Guidelines for Providing Product Sustainability Information Published, International Trade Centre (ITC).

. FAO, 2013. Food wastage footprints. Factsheet. Disponível em http://www.fao.org/fileadmin/templates/nr/sustainability_pathways/docs/Factsheet_FOODWASTAGE.

. FAO. 2015. Food Wastage Footprint & Climate Change. Rome. p.1. [Online].  Disponível em http://www.fao.org/3/a-bb144e.pdf.

. FUSIONS 2016. ‘Estimates of European Food Waste Levels.’ Disponível em http://www.eufusions.org/phocadownload/Publications/Estimates%20of%20European%20food%20waste%20levels. pdf.

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