Cultive e priorize a autocompaixão

Sofia Pereira // Fevereiro 6, 2025
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autocompaixão
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No mundo acelerado e hiperconectado em que vivemos, a busca incessante pela produtividade tornou-se quase uma obsessão. Somos constantemente bombardeados por mensagens que nos impelem a fazer mais, ser mais eficientes e alcançar mais em menos tempo. Esta pressão constante para otimizar cada minuto cria um ambiente propício ao stress e à ansiedade. No meio deste turbilhão, é fácil esquecer que somos seres humanos, não máquinas, e que a vida muitas vezes apresenta desafios inesperados. E, como sabe, a vida pode ser muito dura. Existem situações e acontecimentos que nos provocam muito sofrimento, stress e ansiedade, tais como: problemas no trabalho, dificuldades  financeiras, desentendimentos com pessoas de quem gostamos, problemas de saúde, entre outros. Estas situações ou acontecimentos inesperados têm naturalmente um impacto na concretização dos objetivos que nos propomos atingir. E é aqui que entra o «poder» da autocompaixão, algo que o deve acompanhar ao longo de todo o seu processo de gestão consciente do tempo.

Autocompaixão é uma palavra ainda pouco compreendida. Atrevo‑me a afirmar que é ainda um conceito pouco usado. E, quando é usado, muitas vezes pode ser interpretado como ter pena de si próprio, gentileza ou até fracasso. Porém, estas definições não correspondem à realidade. Ainda que, em alguns dicionários, se defina autocompaixão apenas como sinónimo de autopiedade, eu defini‑la‑ia como a capacidade de falar consigo, e tratar‑se da mesma forma com que fala e trata aqueles que ama quando algo de menos bom lhes acontece. É ser gentil consigo próprio, apoiar‑se, validar‑se, sobretudo nos maus momentos. 

A autocompaixão tem vindo a ser associada a um sentimento de maior bem‑estar, contribuindo mesmo para a diminuição da ansiedade e depressão, o aumento das competências emocionais para lidar com os problemas de forma mais eficaz e uma maior compaixão dirigida às outras pessoas.

Segundo Kristin Neff, pioneira no campo da investigação da autocompaixão, que conduziu os primeiros estudos empíricos sobre o tema, há quase 20 anos, a autocompaixão representa uma atitude calorosa e de aceitação pelos aspetos negativos do self (essência individual) ou da vida. Neff defende que «ter uma verdadeira atitude autocompassiva pressupõe desejar bem‑estar ao EU,  encorajá‑lo a mudar de forma calorosa quando necessário e a retificar padrões de comportamento disfuncionais e dolorosos».

Relembro-lhe: a nossa vida é curta (cerca de 25 a 30 mil dias) e que nunca conseguirá controlar tudo, imprevistos acontecem. A autocompaixão irá permitir‑lhe tratar‑se a si próprio com amabilidade, manifestando preocupação e apoio para consigo, tal como faria com alguém querido. 

O que faz quando vê alguém de quem gosta a confrontar‑se com momentos difíceis na vida ou a enfrentar determinados desafios pessoais? Responde, certamente, com gentileza e não com severo julgamento. Reconhece que a imperfeição faz parte de toda a experiência humana. Por outras palavras, para haver autocompaixão é necessário reconhecer e aceitar as várias experiências, mesmo aquelas que são dolorosas, ao invés de as ignorar ou exagerar os seus efeitos negativos, castigando‑se.

A autocompaixão atua como um pai ou uma mãe carinhosos. Mesmo que o seu desempenho na gestão consciente do seu tempo não esteja a ser o que desejaria num determinado dia ou fase da vida, permita‑se aceitar‑se a si mesmo. E, tal como uma mãe, mostre apoio e amor incondicionais a si próprio, reconheça que está tudo bem, mesmo sabendo que não é perfeito. Ninguém é. 

Como cultivar a autocompaixão?

Quem é a única pessoa no mundo que está disponível durante as 24 horas do dia para lhe dar atenção e carinho? É isso mesmo, você próprio! Por isso, quero deixar-lhe um exercício prático, que pode encontrar no meu livro «Como ter tempo para tudo», cujo objetivo é ajudar a «trabalhar» a autocompaixão: 

Escreva uma carta para si.

Escrever sobre as nossas imperfeições e qualidades ajuda‑nos a aumentar a consciência sobre elas e, quando combinadas com mudanças na forma e no tom como nos autocriticamos, estamos a desenvolver a autocompaixão e autoestima.

Convido‑o, assim, a escrever uma carta para si, como se estivesse a escrever para um grande amigo. Olhe para si com carinho e compaixão. Escreva sobre as suas imperfeições, mas também sobre as suas conquistas, as suas qualidades. Descreva o quão corajoso tem sido. 

Guarde a sua carta. Leia‑a sempre que necessitar de um reforço da presença do seu «EU compassivo».

Uma gestão consciente do tempo não é apenas sobre cumprir tarefas, mas também sobre como escolher tratar-se nos momentos difíceis. 

Cultivar a autocompaixão é essencial para encarar os imprevistos com serenidade, cuidar do seu bem-estar e seguir em frente com equilíbrio e propósito.

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