O pontificado do Papa Francisco, iniciado em 2013, marcou profundamente a história da Igreja Católica e deixou um legado transformador para a humanidade. Durante os seus 12 anos de liderança, Jorge Mario Bergoglio destacou-se como um defensor da paz, da justiça e dos direitos humanos.
A sua abordagem progressista em temas sociais e ambientais consolidou-o como um “papa reformador”, que transcendeu as fronteiras religiosas para se tornar uma voz global de esperança e transformação.
Voz activa pela paz e pelo diálogo
Numa altura em que o mundo se vê de novo a braços com guerras terríveis em vários pontos do planeta, que dizimam diariamente centenas de vítimas inocentes, lembremos o Papa Francisco e tudo aquilo que fez pelo diálogo inter-religioso e pela paz.
Em Abu Dhabi, assinou a histórica Declaração sobre a Fraternidade Humana com o Grande Imã de Al-Azhar, Ahmed Al-Tayeb. Este documento tornou-se um marco na cooperação inter-religiosa global. A sua abordagem transcendeu o mero intercâmbio de ideias, comprometendo-se com “o genuíno desejo de aprender do outro, superar a desconfiança e promover o respeito e a dignidade humana como base comum”.
Francisco reposicionou o Vaticano como um actor global relevante, promovendo a paz, a justiça social e ambiental através da diplomacia moral.
Um pontificado transformador
Um exemplo marcante foi o papel que assumiu na reaproximação entre Cuba e os Estados Unidos, em 2014, quando o Vaticano foi o mediador fundamental para a reabertura das embaixadas, após mais de meio século de ruptura entre os dois países.
A sensação que tenho é que estamos agora a recuar a passos largos. Em vez de vermos esbater-se o peso das diferenças existentes no mundo, vemos essas diferenças ganharem proporções tais que ambicionar a paz parece uma miragem. A sede de poder é tal, que a vida humana passou a valer muito pouco.
Defesa dos mais frágeis
Francisco, que se tornou uma voz incansável na defesa dos mais frágeis — entre eles os migrantes e refugiados — teria um profundo desgosto se visse o caminho que a humanidade leva pelas mãos daqueles que lideram alguns dos países e que demonstram total insensibilidade em relação ao sofrimento infligido aos seus povos.
A primeira viagem do Papa Francisco fora de Roma foi à ilha de Lampedusa, em 2013, onde celebrou missa entre migrantes do Médio Oriente e África, trazendo atenção global para a crise migratória.
O Papa articulou a sua resposta humanitária em quatro pilares fundamentais: “acolher, proteger, promover e integrar os migrantes e refugiados”. Enfatizou que “o migrante é Cristo que bate à nossa porta” e que “o encontro com o migrante é também encontro com Cristo”.
Um chamado à união
A diferença do outro em relação a nós não pode ser motivo para guerras nem desentendimentos, sejam eles quais forem. O desafio é sempre estabelecer uma ponte para que caminhemos juntos, seja em que parte do planeta for.
O Papa Francisco transformou fundamentalmente a percepção global da Igreja Católica e estabeleceu novos paradigmas para o envolvimento religioso com questões contemporâneas.
Um legado duradouro
O seu pontificado de 12 anos foi marcado por: 47 viagens apostólicas internacionais; 427 audiências gerais; mais de 900 santos proclamados e a criação de 163 cardeais.
As suas contribuições transcenderam as fronteiras religiosas, estabelecendo-o como uma voz moral global em questões de justiça climática, direitos humanos, paz mundial e dignidade humana.
Francisco demonstrou que a liderança religiosa pode ser um catalisador poderoso para mudanças sociais positivas, inspirando milhões a trabalharem por um mundo mais justo, sustentável e fraterno.
Um modelo para o futuro
A obra do Papa Francisco representa uma síntese única entre espiritualidade profunda e engajamento social concreto, estabelecendo um modelo duradouro de como as instituições religiosas podem contribuir positivamente para os desafios globais do século XXI.

Nota: Fotografias por Verónica Silva