Nos últimos anos, os alimentos processados e o seu impacto na saúde têm vindo a ser discutidos. Contudo, com tanta informação dispersa, é fundamental clarificar o que realmente se entende por alimentos processados. Neste artigo desmistificamos este e outros conceitos relacionados com designações atribuídas a produtos alimentares nos dias que correm.
Processamento alimentar
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define processamento de alimentos como “qualquer método usado para transformar alimentos frescos em produtos alimentares”. Este processamento pode incluir a lavagem, o corte, a pasteurização, a congelação e a fermentação.
Já a Direcção-Geral de Saúde (DGS) define alimento processado como “alimento submetido a alterações da sua composição ou estrutura natural, com o objetivo de prolongar a conservação, melhorar a segurança alimentar ou facilitar o consumo”.
Produtos alimentares segundo o seu grau de processamento:
– Alimentos minimamente processados
Incluem alimentos submetidos a transformações que não alteram significativamente a sua composição nutricional; Tais como: congelação, pasteurização, moagem, fermentação natural ou embalagem. Ou seja, são produtos alimentares que nada têm de malefícios associados ao seu processamento.
Como exemplos, pensemos nos legumes lavados e embalados, no leite pasteurizado e fruta cortada e refrigerada.
– Alimentos processados
De acordo com a EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar), são produtos que contêm alimentos in natura combinados com ingredientes como sal, açúcar ou gordura. Este processamento ocorre com o intuito de aumentar a durabilidade ou melhorar o sabor dos produtos.
Nesta categoria temos como exemplo: o queijo curado, o pão, as conservas de peixe ou de vegetais com sal.
– Alimentos ultraprocessados
Este conceito, adotado pela OMS e pela DGS, refere-se aos “produtos industrializados que contêm pouco ou nenhum alimento inteiro, sendo constituídos por extratos de alimentos, aditivos, corantes, aromas artificiais e outros ingredientes não utilizados em cozinhas tradicionais”.
Os refrigerantes, snacks embalados (como batatas fritas e gomas), bolachas industriais e refeições pré-preparadas são alguns dos produtos que fazem parte desta categoria.
O consumo frequente destes está, efetivamente, associado a um risco aumentado de obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e alguns tipos de cancro.
Consumir alimentos processados faz mal à saúde?
Assim, entende-se que o processamento alimentar não pressupõe maior risco de doença ou maior malefício para a saúde. O leite, por exemplo, passa por um processamento necessário para o tornar seguro para o consumo humano. Diferentemente do conceito de alimento ultraprocessado, que, esse sim, tem vindo a ser associado a fatores de risco de diversas patologias.
Alimentos integrais, refinados e in natura
Neste seguimento, é importante esclarecer que o processamento pode ainda classificar-se segundo o grau de refinamento. Uma vez que, surgem frequentemente termos como “integral”, “refinado” e “natural”, usados de forma ambígua no marketing alimentar.
– Alimentos integrais
Alimentos que mantêm todas os elementos que naturalmente fazem parte da sua estrutura (como o farelo e o gérmen no caso dos cereais) e, por isso, possuem uma maior quantidade de fibra, vitaminas e minerais.
O consumo regular destes alimentos está associado a menor risco de doença cardiovascular, melhoria do trânsito intestinal e maior saciedade.
Alguns exemplos são o arroz integral, o pão integral e a aveia em flocos.
– Alimentos refinados
Alimentos que passam por um processamento mais intenso, no qual perdem parte dos seus nutrientes, especialmente fibra, algumas vitaminas do complexo B e minerais.
Embora possam ser parte de uma alimentação equilibrada, o seu consumo deve ser moderado e pontual, dando preferência a versões integrais sempre que possível.
A farinha de trigo refinada é um dos exemplos destes.
– Alimentos in natura
Não existe uma definição legal, no entanto, este conceito refere-se a alimentos que não possuem adição de substâncias artificiais, como edulcorantes, aromatizantes ou conservantes. Contudo, esta designação é um tanto ambígua e muitas vezes utilizada de forma pouco rigorosa, assim, adotou-se o conceito de “alimento biológico”. Portanto um alimento biológico é aquele que é produzido sem recurso a pesticidas químicos, fertilizantes artificiais, OMG’s ou antibióticos, de acordo com as normas da UE (União Europeia).
Embora ainda exista debate acerca da qualidade nutricional alegadamente superior, a evidência aponta para duas vantagens independentes: menor exposição a resíduos de pesticidas e práticas agrícolas mais sustentáveis.
É importante compreender que nem todo o processamento é negativo!
Técnicas como a pasteurização ou a congelação, por exemplo, são instituídas para aumentar a segurança e a durabilidade dos alimentos e não comprometem o seu valor nutricional. O verdadeiro problema reside no excesso de alimentos ultraprocessados, que tendem a ser hipercalóricos, pobres em nutrientes e consumidos em grande quantidade.
Assim, embora o termo alimento processado seja frequentemente associado a algo negativo, nem todo o processamento é prejudicial. O importante é distinguir entre alimentos minimamente processados, que podem ser saudáveis, e os ultraprocessados, cujo consumo deve ser evitado.
Uma alimentação equilibrada não depende da ausência de processamento, mas, sim, da qualidade, variedade e equilíbrio dos alimentos escolhidos.
Saber ler rótulos e fazer escolhas conscientes é essencial para manter um estilo de vida saudável.
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