“Cada indivíduo importa. Cada indivíduo tem um papel a desempenhar. Cada indivíduo faz a diferença.”
Jane Goodall
Já parou para pensar que proteger a natureza começa muitas vezes com pequenos gestos, mas conscientes? Escolher o que plantamos no jardim, o que deixamos nos trilhos por onde passamos ou o que partilhamos com os outros pode fazer toda a diferença. Às vezes, até libertar um animal de estimação exótico — como uma tartaruga ou um peixe que já não queremos — pode contribuir para desequilíbrios nos ecossistemas e causar problemas sérios.
As espécies exóticas invasoras são um exemplo claro disso — plantas, animais e outros organismos que chegam de outros territórios, se reproduzem sem ajuda humana e se espalham sem controlo, acabando por se estabelecer em grande quantidade e causar danos profundos à biodiversidade, à agricultura, à economia e até à nossa saúde. Muitas vezes são introduzidas acidentalmente ou de forma inconsciente, e é por isso que a informação e a sensibilização são tão importantes.
A boa notícia? Cada um de nós pode ajudar a travar este problema.
Um problema que não tem fronteiras
De acordo com um relatório de 2019 da IPBES (Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas), as espécies invasoras são já a quinta principal ameaça à biodiversidade no planeta. Em 2023, a mesma plataforma estimou que os prejuízos causados por estas espécies ultrapassam os 423 mil milhões de dólares por ano, estando associadas a mais de 60% das extinções de espécies na Terra. E os seus efeitos não se limitam ao ambiente — tocam de perto o nosso dia-a-dia e bem-estar:
- Na agricultura destroem culturas e aumentam os custos de produção;
- Na pesca alteram ecossistemas aquáticos e ameaçam espécies nativas;
- Nos serviços dos ecossistemas prejudicam a qualidade da água, alteram os ciclos de nutrientes e aumentam o risco de incêndios;
- Na economia local afetam pescadores, apicultores e produtores florestais, além de custos muito elevados no seu controlo;
- Na saúde algumas espécies provocam alergias, são tóxicas, causam ferimentos ou transmitem doenças;
- No lazer e bem-estar limitam o acesso a zonas naturais e tornam os espaços verdes menos seguros ou agradáveis.
De facto, 85% dos impactes das espécies invasoras na natureza e na qualidade de vida das pessoas são negativos, ainda que algumas também tenham efeitos positivos.
E em Portugal?
Também por cá os impactes são bem visíveis. Eis alguns exemplos de espécies invasoras já estabelecidas e muito disseminadas no nosso território:
- A mimosa (Acacia dealbata) domina encostas e impede a regeneração da floresta, substituindo as espécies autóctones, afetando as cadeias tróficas e provocando alergias;
- O jacinto-de-água (Pontederia crassipes) cobre totalmente rios e albufeiras, afetando a biodiversidade aquática, o abastecimento de água, a pesca, os desportos náuticos e até a circulação de embarcações;
- A erva-das-Pampas (Cortaderia selloana) invade dunas, terrenos baldios e bermas de estradas, competindo com a vegetação autóctone, provocando alergias graves depois do verão e podendo magoar devido às folhas cortantes;
- O chorão-das-praias (Carpobrotus edulis), muito comum na nossa costa, parece inofensivo, mas desequilibra os sistemas dunares, substitui a vegetação nativa e agrava a erosão costeira;
- A vespa-asiática (Vespa velutina) ameaça as abelhas e outros insetos, os produtores de mel e representa um risco para quem é alérgico às suas picadas;
- O lagostim-vermelho (Procambarus clarkii) e o peixe-gato (Silurus glanis) desequilibram os ecossistemas aquáticos e afetam a pesca artesanal.



Todas estas espécies interferem com a qualidade de vida humana, a economia, o turismo, a agricultura… e com o planeta que queremos deixar às próximas gerações.
O que diz a nossa lei?
Em Portugal continental, desde 2019, o Decreto-Lei n.º 92/2019 proíbe a detenção, cultivo, criação, comércio, introdução na natureza e o repovoamento de espécies incluídas na Lista Nacional de Espécies Invasoras (LNEI) – estão listadas mais de 100 espécies de algas e plantas, e mais de 90 espécies de animais. Na Madeira está em vigor o Decreto Legislativo Regional n.º 17/2023/M e nos Açores o Decreto Legislativo Regional n.º 15/2012/A, que também listam muitas espécies.
Mas, mesmo que as leis sejam importantes, sem a ação de cada cidadão não fazem muita diferença.
O que podemos fazer?
A boa notícia é que todos podemos fazer parte da solução. Cada gesto conta:
- Escolher espécies nativas (ou exóticas “seguras”) para jardins e varandas;
- Nunca libertar animais de estimação ou plantas ornamentais na natureza;
- Informar-nos e partilhar o que sabemos com amigos, escolas ou vizinhos; comece por explorar o invasoras.pt, que reúne muita informação sobre plantas invasoras;
- Participar em ações locais de remoção, formação ou sensibilização;
- Usar apps ou plataformas de ciência-cidadã (por exemplo, o iNaturalist/ BioDiversity4All) para registar e mapear espécies invasoras.
Junte-se à #SEI2025
De 3 a 11 de maio de 2025, decorre a próxima edição da Semana sobre Espécies Invasoras (#SEI2025) — um movimento que une Portugal e Espanha para sensibilizar, informar e mobilizar cidadãos e entidades.
Através de ações de controlo ou educativas, formações, passeios interpretativos, oficinas e até projetos de ciência cidadã — como o MACRO-Bioblitz, que convida cada cidadão a registar espécies invasoras no seu território — a #SEI2025 é uma oportunidade para agirmos em conjunto por um futuro mais sustentável.
Pode juntar-se de duas formas:
1️) Organizando uma atividade e registando-a na plataforma da #SEI2025;
2️) Participando em atividades promovidas por outras entidades ou grupos.
Descubra mais em: https://www.speco.pt/sei
Porque proteger a natureza é cuidar de nós
As espécies invasoras são, muitas vezes, um problema que passa despercebido, mas tem consequências bem reais e, por vezes, graves. Ao cuidar dos nossos ecossistemas, estamos também a proteger a nossa saúde, o nosso bem-estar, a nossa economia e a beleza natural que faz parte da nossa identidade.
Neste caminho, ninguém é pequeno demais para fazer a diferença.