A educação financeira é uma competência essencial para a vida adulta, mas continua a ser muitas vezes esquecida na formação das crianças e jovens. Introduzir uma semanada ou mesada pode ser uma excelente forma de lhes ensinar, desde cedo, a gerir dinheiro com responsabilidade.
Cada criança tem o seu ritmo, cada família tem a sua realidade financeira e cada contexto pode exigir ajustes. Ainda assim, existem orientações práticas que podem ajudar a tornar esta experiência educativa e positiva para todos.
A semanada e a mesada como ferramentas educativas
A atribuição de uma semanada ou mesada não deve ser entendida como uma simples entrega de dinheiro, mas antes como uma ferramenta de aprendizagem. Ao gerir um valor fixo com regularidade, a criança começa a desenvolver noções fundamentais sobre o valor do dinheiro, a importância da poupança, a diferença entre necessidades e desejos, e as consequências das suas escolhas de consumo.
Idade recomendada e periodicidade: quando começar?
A introdução da semanada pode acontecer por volta dos 6 anos, altura em que a maioria das crianças já começa a compreender conceitos simples como “guardar” e “gastar”. Nesta fase, a periodicidade semanal é geralmente a mais adequada, pois o tempo de espera entre entregas é mais curto e facilita a aprendizagem. Esperar um mês inteiro por novo dinheiro pode ser demasiado abstrato para crianças mais novas.
A partir dos 12 anos, depende muito de como estiver o processo de aprendizagem da criança, apesar de alguns especialistas ainda recomendarem a semanada nestas idades. A mesada, neste caso, representa um desafio adicional e estimula a responsabilidade. Na idade mais jovem, aí sim fará mais sentido uma mesada, porque com um acompanhamento desde pequeno, já começa a ter uma noção mais precisa de como deve gerir o seu dinheiro e as prioridades e faz mais sentido atribuir uma mesada com uma idade mais adiantada. Apesar destas indicações, cada caso deve ser avaliado individualmente. O mais importante é garantir que a criança ou jovem compreende os objetivos da semanada ou mesada e que existe acompanhamento por parte dos adultos responsáveis.
Definir o valor: o que deve ser tido em conta?
Determinar o valor a atribuir é, muitas vezes, o aspeto mais delicado. Não há montantes fixos recomendados por idade, mas é fundamental que o valor esteja adequado à realidade financeira da família, às necessidades da criança e ao objetivo pedagógico da atribuição do dinheiro. Pode começar por exemplo de 2 a 4€ por semana e ir vendo como vai correndo e depois quando passar para mesada poderá ser, por exemplo, 10 a 20€ por mês, dependendo muito da realidade financeira de cada família.
Uma abordagem prática consiste em, por exemplo, analisar os gastos habituais da criança ao longo de uma semana ou mês e, a partir daí, definir um valor base. Por exemplo, se a criança costuma receber dinheiro esporádico para comprar um lanche ou um pequeno brinquedo, esse montante pode ser canalizado para a semanada ou mesada. Assim, em vez de estar dependente de pedidos avulsos, passa a ter uma quantia fixa e aprende a tomar decisões com base nesse limite.
A poupança como parte da aprendizagem
Uma das grandes vantagens de dar uma semanada ou mesada é a oportunidade de ensinar a importância da poupança. Independentemente do valor atribuído, pode ser estabelecida a regra (ou sugestão) de guardar uma percentagem para objetivos futuros.
Este hábito, se cultivado desde cedo, tem impacto a longo prazo. Ajuda a criança a perceber que nem tudo se conquista de imediato e que vale a pena abdicar de pequenos prazeres momentâneos para alcançar algo maior. Para os mais pequenos, um mealheiro visual pode ser uma ferramenta motivadora, permitindo acompanhar o crescimento da poupança. Para os mais velhos, pode ponderar-se a utilização de aplicações ou contas bancárias específicas para jovens, que permitam acompanhar saldos e movimentos e até investir dinheiro.
Por isso, a definição de uma semanada ou mesada para crianças e adolescentes é muito mais do que uma questão de dar dinheiro. Trata-se de um processo educativo que, se bem acompanhado, prepara os jovens para uma vida adulta mais consciente e equilibrada financeiramente.