Nos últimos tempos tenho vivido angustiada com a contínua falta de chuva e de água, em grande parte do planeta. Em Portugal tivemos, neste inverno, um período com elevada concentração de chuva num curto período de tempo e a partir daí, são raros os dias que temos a felicidade de ver cair chuva a sério. Os campos estão super secos, as barragens e os rios ressentem-se brutalmente e muitas pessoas continuam a comportar-se como se a água fosse um bem infinito e abundante. Mas não é! Nem uma coisa nem outra.
Dou por mim a observar os comportamentos das pessoas e confesso que fico chocada. As torneiras, sejam elas quais forem, abrem-se sem a preocupação de não desperdiçar água. Quer no tempo que a torneira está aberta, quer no fluxo de água utilizado. Quantas vezes entro numa casa de banho pública e constato que ninguém parece importar-se de deixar o autoclismo a correr, depois de o acionar. Normalmente resolve-se com um segundo toque, mas para isso era preciso que quem o utilizou tivesse a mínima consciência das consequências dos seus atos.
Não serve como desculpa dizer, “mas foi só uma vez. Que diferença é que isso faz?”. Faz toda!
Primeiro porque, infelizmente, essa pessoa vai repetir outras vezes os seus maus hábitos e, segundo, porque a probabilidade de entrar na mesma casa de banho uma outra pessoa igualmente irresponsável é muito grande!
Nas cozinhas as lavagens dos alimentos continuam a ser feitas por muitos, de torneira aberta, em vez de alguidares para se poupar água e poder reutilizá-la.
A água que corre no chuveiro até aquecer é, em muitas casas, desperdiçada, quando poderia ser aproveitada num balde, que serviria para a sanita ou para regar as plantas, por exemplo.
Damos como garantido que quando abrimos a torneira vai sair sempre água e na quantidade que precisamos. Não a respeitamos.
Não nos sentimos gratos por a ter, quando há tantos países onde as pessoas morrem à sede e fazem dezenas de kms para ir buscar um simples garrafão de água. Nós, que até temos água na torneira, um verdadeiro luxo, desperdiçamo-la com arrogância.
Nada pode ser dado como garantido.
Lembremo-nos do que vivemos no COVID-19. Alguma vez pensámos que poderíamos ficar provados de uma coisa básica como o toque, o abraço ou um sorriso? Não! Mas aconteceu.
Alguma vez pensámos que um dia podemos abrir as torneiras e não sair uma única gota de água? Não! Mas pode acontecer.
Então que saibamos respeitar a água como um bem escasso e essencial à vida. E ao desperdiçarmos uma gota estamos a desperdiçar vida.
Nota: Fotografia por Verónica Silva