Sou conhecida como a mulher dos abraços, a mulher que defende que o abraço é das melhores formas de comunicar com aqueles que amamos e estimamos.
Muitas vezes é no abraço que me dão, que me confortam. É no abraço que me dão que enchem a minha alma de esperança. É no abraço que me dão que enchem o meu coração de alegria. Muitas vezes é no abraço que eu dou que consigo dar ao outro aquilo que precisa para não desistir, aquilo que precisa para voltar a acreditar e aquilo que precisa para perceber que é amando, que se resolvem as coisas. Só amando é que se resolvem as várias situações. Só amando é que a vida ganha a cor que deve ter, uma cor de arco-íris. Nesse arco-íris da vida, é verdade que também existem lá tons mais escuros, como o cinzento e às vezes até o preto. Mas quando nós abraçamos, nós vemos as cores mais bonitas do arco-íris e recebemos a sua boa vibração.
Novas formas de nos cumprimentarmos
Nesta era COVID-19, das coisas mais preciosas que nos foram retiradas foi o abraço e os beijos. Nós já não cumprimentamos as pessoas com dois beijinhos. Nós já não damos um abraço quando chegamos a algum lado. Nós já não damos um aperto de mão. Limitamo-nos ao toque com o cotovelo, com o pé ou simplesmente a acenar com a cabeça perguntando se está tudo bem. E isto é algo com um impacto em nós muito mais forte do que aquilo que se possa imaginar, porque o ser humano precisa de contacto.
O ser humano precisa de contacto físico.
Eu sei que há pessoas que não foram ensinadas a abraçar, que ficam à toa quando alguém lhes dão um abraço ou até quando alguém lhes faz um miminho. Ficam desconfortáveis nesses momentos, porque não foram habituadas a isso. Não é que não tenha importância para elas. Simplesmente não foram treinadas na linguagem do abraço e dos afetos. E talvez essas pessoas estejam a viver melhor esta fase porque o abraço já era algo que não fazia parte das suas vidas. Mas aquelas que cresceram a abraçar, que fazem do abraço um dos seus modos privilegiados de comunicar as emoções, essas estão a reaprender a viver de uma forma menos rica. Sim, porque o abraço é riqueza.
Hoje poder abraçar é um luxo.
Quando podemos abraçar alguém, sentimos mesmo que ganhámos o dia porque nos dias que correm não fazemos isso de forma normal, nem natural. Eu abraço mais ou menos os meus pais. Eu abraço normalmente os meus filhos. E nesta fase, já houve umas quantas amigas que, com as devidas máscaras, mãos desinfectadas, e todas as cautelas, tivemos mesmo de nos abraçar para preservar a nossa sanidade mental. Hoje, de forma irónica, como é óbvio, chamo ao abraço um luxo. Algo que tem tanto de simples quanto de fundamental… O facto de estarmos privados do abraço, faz com que abraçar seja o novo luxo. Dar dois simples beijinhos a alguém, é algo de absolutamente extraordinário!
Sonho com o dia em que voltar a abraçar e a beijar seja acessível e normal.
Sonho com o dia em que voltar a abraçar e a beijar não seja um luxo, mas algo absolutamente democrático que toda a gente possa fazer e que até aqueles que não o faziam até agora, porque não conheciam esta linguagem de amor, a conheçam. Garanto-vos que nesse momento vão sentir que aprenderam a maior lição que a COVID-19 vos podia dar.
Nota: Fotografia por Verónica Silva