Muito se tem falado nos últimos tempos da grande evolução das energias renováveis em Portugal, da visão de futuro para a eficiência energética do país e da aposta neste tipo de energias como forma de alcançar as metas do Acordo de Paris.
Na realidade, temos sido um exemplo de sucesso: com 54% da energia consumida com origem em fontes renováveis, Portugal é o 3º estado membro da União Europeia que mais usa energias renováveis, tendo mesmo recebido em 2019 um troféu internacional por estes esforços de mudança e eficiência energética.
Segundo Oliver Joy, da Wind Europe Trade Association, Portugal tem condições climáticas muito favoráveis à geração de energias renováveis, o que permitirá ao país, se orientado no sentido certo, constituir uma fonte de energia essencial para a região e tornar-se um dos maiores exportadores de energias renováveis da Europa.
Contudo, não são apenas as empresas e governos que devem começar a adotar e “investir” nestas medidas – integrar energias renováveis nas nossas casas e residências é uma forma de tornar a nossa habitação mais eficiente e poupar (muito) na carteira enquanto poupamos também o ambiente (com os preços da eletricidade a aumentar e os preços dos dispositivos de microgeração a diminuir, esta é uma boa aposta para poupar nas contas mensais).
Neste Dia Mundial do Vento, lembramos-te os tipos de energias renováveis que podes ter em casa, quais as mais acessíveis, quais as vantagens e quais as melhores opções para o teu tipo de casa ou perfil de consumo.
. Energia Eólica
Esta é uma das fontes de energia renovável mais importantes do país e nas quais o governo mais investiu (no primeiro trimestre de 2018, por exemplo, a tecnologia eólica foi a que mais gerou eletricidade em Portugal – 29,6% – e é uma das fontes primordiais da Rede Elétrica Portuguesa).
Apesar da energia eólica apresentar muitas vantagens – como o facto de ser uma das mais eficientes, ter uma relação custo/benefício atrativa e garantir um retorno sobre o investimento bastante rápido – a aplicação destas tecnologias a nível doméstico ainda não é a mais fácil. E, apesar de já encontrarmos microgeradores eólicos, aerogeradores de pequeno porte ou mini-eólicas a preços acessíveis, estes exigem um estudo prévio detalhado de investimento e espaço.
É necessário espaço suficiente para o aerogerador (com especial atenção ao ruído que estes, na maioria dos casos, produzem), cumprir os requisitos legais de instalação, ter vento suficiente e com regularidade ao longo do ano, entre outros fatores decisivos (para zonas urbanas e cidades, não é uma solução muito fácil de implementar).
Apesar de já existirem empresas inovadoras a criar soluções citadinas para aproveitar a energia eólica – como é o caso da O-Wind -Turbine – ainda teremos de esperar algum tempo até que essas soluções mais convenientes e adaptadas à realidade urbana cheguem a Portugal.
. Energia Solar
Estima-se que o sol forneça todos os anos ao planeta Terra energia 100 vezes superior ao consumo mundial anual – (re)aproveitar esta energia é essencial. E, se para o aproveitamento da energia eólica Portugal tem um perfil climático favorável, no que toca a energia solar não há dúvidas que somos um país “perfeito” (em média conseguimos ter em Portugal cerca de 2200 a 3000 horas de sol por ano, muito acima da média dos países europeus).
Tendo como uma das grandes desvantagens a dependência da meteorologia para gerar energia, Portugal consegue combater isso mesmo de forma prática – apesar de, para combater este ponto de forma séria e garantir a disponibilidade de energia ao longo de todo o ano, ainda ser necessário muito investimento em formas de armazenamento de energia solar mais eficientes.
Há dois regimes para a energia solar que recolhes em casa: (1) captação de energia solar para produção de energia elétrica, para autoconsumo da habitação ou para venda à Rede Nacional de Energia ou (2) a captação de energia solar para aquecimento de águas da tua residência, fazendo-te poupar muitos euros ao longo dos anos – dependendo das condições do local, estima-se que consigas poupar até 70% na tua conta de energia.
No primeiro caso, são vários os kits fotovoltaicos entre os quais podes escolher, desde opções de menor dimensão (e eficiência), como kits de autoconsumo, a outras soluções de maior dimensão e geração.
Aplicar estas soluções podem fazer-te poupar até 350€ ano em contas de eletricidade e energia – para além dos possíveis rendimentos que podes recolher da venda de energia elétrica restante ao teu consumo mensal (enquanto ponderas, e caso queiras começar já a fazer essa poupança sem grandes investimentos, tens já alguns dispositivos acessíveis que a promovem, como sensores, tomadas inteligentes ou soluções de iluminação solar alternativas).
Para implementar estas soluções solares irás precisar de uma empresa com experiência em energia solar e que te dê aconselhamento sobre as melhores soluções para o teu caso específico. Este aconselhamento vai ser-te muito útil na altura de ver a orientação solar correta, sombras durante o dia, distâncias entre produção e consumo, avaliação do teu perfil de consumo e eficiência do sistema – não faz sentido investir em kits fotovoltaicos sem um estudo prévio de retorno energético.
E, num apartamento, é possível? Apesar de ser possível, é mais complicado. Requer um pedido formal ao condomínio e aprovação de todos para usar o espaço comum do telhado ou varanda. Neste caso torna-se ainda mais importante a visita de um técnico para ver se no teu caso específico é viável instalar o sistema. Um técnico experiente consegue dizer-te o que precisas de instalar para além do painel, qual a melhor opção de painel e onde o colocar, inclinação do telhado ou superfície, orientação, entre tantos outros fatores decisivos.
. Energia hídrica
Há um motivo para que a produção de energia hídrica (também conhecida como hidráulica) estar muito associada à ideia de “barragem”. Para o produtor doméstico, gerar este tipo de energia requer um ponto fundamental – viver junto de um fluxo de água contínuo com um caudal considerável (muito indicado para quintas ou pequenas propriedades rurais).
Se vives numa zona onde tens um rio ou fluxo de água corrente, um sistema de microprodução de energia hídrica (mini-hídricas) é uma ótima opção – esta é uma das formas mais eficientes de produzir energia, garantindo uma produção contínua, 24h por dia, a custos muito reduzidos.
. Energia de Biomassa
A Energia de Biomassa é produzida através do reaproveitamento de resíduos de atividades industriais de madeira, resíduos agrícolas, resíduos municipais sólidos, dos animais, da produção alimentar, das plantas aquáticas, etc.
São várias as formas de produzir energia a partir de biomassa – pirólise, gasificação, combustão ou co-combustão – contudo, a forma mais comum é a gasificação, um processo capaz de transformar estes resíduos em biogás inflamável (que pode ser utilizado como fonte de calor ou combustível para equipamentos agrícolas).
Para este processo é necessário instalar um biodigestor doméstico, conhecer o processo e garantir “alimento” contínuo para o biodigestor – recomendado para pequenas propriedades agrícolas em zonas rurais.
Contudo, nas zonas urbanas, é comum vermos a energia de biomassa produzida através de combustão. Utilizando, por exemplo, pellets nas lareiras e salamandras como fonte de energia térmica para as nossas casas – esta é uma forma de substituir a nossa energia por uma alternativa renovável e promover o upcycling destes resíduos.
Que outras formas tenho de tornar a minha casa mais eficiente?
Se ainda não estás confiante o suficiente para investir em fontes renováveis de energia, não te preocupes: é sempre possível tornar a tua casa mais eficiente.
A eficiência energética em tua casa passa essencialmente pela redução dos consumos, evitar os desperdícios, estar atento a possíveis fugas energéticas, privilegiar construções focadas na eficiência e poupança de energia, utilizar eletrodomésticos e lâmpadas de menor consumo (ou mesmo de zero consumo), entre outros. Na realidade, as dicas para poupar na tua carteira, no consumo energético e no desperdício de recursos são muito mais fáceis do que parecem.