Nos últimos tempos, muito se tem falado em aquecimento global, nas consequências do aumento dos níveis do mar e na urgência de contrariar a concentração de gases com efeito de estufa na atmosfera.
Contudo, também têm surgido muitas vozes a promover a ideia de que “o clima sempre mudou”, as alterações climáticas são uma invenção e que perguntam “se o planeta está a aquecer, porque é que hoje está tanto frio?”.
O facto de muita gente confundir clima com meteorologia e esta realidade ser algo complicada de entender, faz com que não nos agarremos às evidências: os últimos três anos foram os mais quentes desde que há registo e as consequências do aquecimento global já se fazem presentes nas nossas vidas – com Portugal a ser um dos países da Europa que mais vai sofrer com estas alterações climáticas.
Apesar dos esforços da comunidade científica e entidades como a ONU no alerta para a necessidade de uma mudança urgente, ainda pouco se faz para cumprir as metas globais definidas no Acordo de Paris – um acordo assinado em 2015 por mais de 195 países mundiais (nos quais se inclui Portugal).
Enquanto o Acordo de Paris estabelece o limite máximo de aumento nos 2ºC acima dos níveis pré-industriais (o recomendado nos 1,5ºC), neste momento (segundo a Zero), e se continuarmos neste registo, já estamos com 1ºC acima destes níveis e caminhamos para temperaturas acima dos 3ºC.
Mas, o que muda com estes 0,5ºC?
Se no chá pouca diferença faz alguns graus celsius a mais, no planeta o caso é bem diferente.
Segundo o mais recente relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas da ONU (IPCC, do qual foi vice-presidente o embaixador Planetiers, Prémio Nobel Mohan Munasinghe), um aquecimento global abaixo de 1,5ºC é a diferença “entre vida e morte”.
Mas será que 0,5ºC faz assim tanta diferença? Segundo a WWF, há algumas conclusões que se podem tirar da diferença entre 1,5ºC e 2ºC, no que toca a consequências do aquecimento global.
Este 0,5ºC terá ainda um grande impacto negativo no crescimento económico de alguns países (especialmente, em países de baixo rendimento), na quantidade de comida disponível a nível mundial, com impacto tanto na produção, como nos níveis de conteúdo nutricional, e ainda nas espécies terrestres e biodiversidade marinha.
Segundo Christiana Figueres, a principal “arquiteta” do Acordo de Paris de 2015, este meio grau de aquecimento global significará 2 vezes menos biodiversidade, a necessidade de 2 vezes mais infraestruturas e 3,5 vezes mais situações de perigo para a vida humana – como falta de comida, desastres naturais, picos de temperatura extrema, entre outros.
O que podemos fazer para conseguir as metas do Acordo?
Se parece grave, é porque é. Contudo, segundo o relatório especial do IPCC (já referido acima), ainda é possível aplicar soluções e manter o aumento de temperatura global abaixo do limite do Acordo de Paris de 2015.
Mas não será fácil: para que estes valores de temperatura se mantenham dentro do limite estipulado, será necessária uma mudança rápida e de longo alcance, em todos os sectores da economia.
O aquecimento global só será combatido com a redução brusca das emissões de carbono (principal gás com efeito de estufa) provenientes da atividade humana, seja através de métodos industriais mais ecológicos, produção de alimentos menos poluente e adoção de um sistema de mobilidade mais sustentável e eficiente.
Segundo Christiana Figueres, para conseguirmos manter o aquecimento abaixo dos 1,5ºC não nos podemos conformar com um desenvolvimento gradual: teríamos de conseguir implementar medidas e fazer um corte exponencial nas emissões carbónicas a nível mundial – reduzir as nossas emissões em 50% a cada 10 anos, até 2050.
Apesar de já se encontrarem exemplos desta evolução na eletrificação dos carros e energias renováveis a nível doméstico, no que toca a tecnologia e indústria ainda são poucos os exemplos desta mudança.
Contudo, a palavra de ordem é “eficiência”. Muita da energia e emissões que hoje geramos acabam por ser desperdiçadas na ineficiência dos sistemas de produção, transporte e alimentação.
Segundo Figueres, a solução está na tecnologia otimizada e em torná-la acessível a todos. Dá um exemplo: “quanto desperdício de energia acaba por existir apenas por luzes deixadas ligadas, um problema que poderia ser facilmente resolvido com um sensor de movimento?”.
Contudo, “Desejar não resolve nada, é preciso que as pessoas decidam fazer acontecer” e isto envolve uma mudança de estilo de vida em cada um de nós.
É crítico optar por uma dieta mais saudável e menos poluente (em Portugal, responsável por 32% da pegada ecológica nacional), usar modos de transporte mais limpos, preferir produtos sustentáveis e duradouros e, de forma direta, abraçar a política dos 5 R’s, fazendo dela uma rotina – recusar, reduzir, reutilizar, reparar e reciclar, sempre que seja possível.