Numa altura em que o mundo atravessa o desafio gigante de lidar com as consequências das decisões loucas de Putin, em cima do rescaldo da pandemia, há que reunir todas as nossas forças para preservar o valor que damos à vida.
Sempre acreditei que a vida é para ser vivida com sentido, com alegria, com entusiasmo, com gratidão e solidariedade e com doses industriais de amor e amizade. O desafio é como preservar esta crença, com o mundo a ameaçar ruir à nossa volta? Com doses ainda maiores desta certeza. Como é que o faço? Usando o poder da inspiração, no seu significado teológico e que é: “infusão da vontade divina na consciência humana”.
Aprecio especialmente o significado teológico do verbo inspirar: “iluminar o espirito”.
A inspiração consegue remover muitos medos e angústias. Consegue dar cor a momentos que parecem ser só a preto e branco.
Imagino que estejam a pensar, mas para nos sentirmos inspirados, temos de estar bem. Não é necessariamente verdade. Nos últimos dias, tenho feito o exercício de olhar para tudo o que a vida me dá de positivo diariamente e procuro deter-me nesses pensamentos e sentimentos, o mais tempo possível.
Por exemplo, olho para os meus filhos, confirmo que estão saudáveis física e psicologicamente, que mantêm objetivos e alegria de viver e isso inspira-me. Ilumina o meu espírito.
Vou dar um passeio junto ao rio Tejo e confirmo que ele se mantém calmo e belo. Sento-me a contemplar os barcos que passam e consigo sentir uma paz maravilhosa.
A minha mãe brinda-me com um abraço e o meu coração enche-se de alegria por a ter e porque nenhum outro abraço tem o sabor do abraço de uma mãe.
São nestas pequenas-grandes coisas da vida que eu busco a minha inspiração.
Não a empurro para lugares impossíveis, enquadramentos improváveis e condições raras. Decido que a minha inspiração está na simplicidade da minha vida e que esta tem a sua beleza própria.
Nota: Fotografia por Verónica Silva