Qual o impacto que a solidariedade tem no nosso bem-estar?

Sonia Pinote Bernardes // Dezembro 20, 2021
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Solidariedade
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Num ano em que todos vivemos uma crise pandémica, tornou-se muito claro compreender e sentir o poder transformador de pequenos gestos na satisfação das nossas vidas, como um simples abraço, principalmente nos momentos mais difíceis e ameaçadores.

As relações humanas foram e estão afetadas em várias áreas da sociedade devido, em parte, à necessidade de termos sido forçados a estar isolados uns dos outros. Perante uma nova realidade algumas pessoas desenvolveram sentimentos de medo, angústia e desespero. Outras, apesar destes sentimentos, redefiniram objetivos no que estaria ao seu alcance, começando por atitudes de solidariedade com quem estava ao seu lado para minimizar o sofrimento reconsertando assim o sentimento de comunidade.

A maioria de nós tem uma sensação agradável ao ajudar o outro, um sentimento de compaixão.

Se dermos atenção ao que sentimos nos pequenos atos de solidariedade, como ajudar alguém numa aflição, ajudar a carregar um saco pesado ou dar o lugar no caso de mobilidade reduzida, a maioria de nós tem uma sensação agradável ao ajudar o outro, um sentimento de compaixão. Uma energia que não se vê, mas que se consegue sentir. No voluntariado chega a ser descrito por algumas pessoas como uma sensação de euforia, seguido de momentos de calma profunda. Quando alguém faz algo por outra, num ato de altruísmo é estabelecida uma conexão social, podendo existir lugar para vínculo com identificação de pertença a algo.

Uma energia que não se vê, mas que se consegue sentir.

Podemos explicar fisiologicamente estas sensações pela libertação de endorfinas, hormonas que produzimos e que nos fazem sentir com maior satisfação dando mais significado à vida. Existem estudos que reportam redução da sensação de depressão, não só pela ação de hormonas como a serotonina, mas também pelo processo de redirecionarmos os pensamentos para atitudes positivas ajudando a relativizar e a enfrentar os problemas do dia-a-dia, melhorando a capacidade de gerir o stress, aumentado assim a capacidade de resiliência. Como consequência destas atitudes é possível melhorar a qualidade do sono e alívio de dores físicas.  

É interessante sabermos que sempre que nos recordamos de ter ajudado alguém mantemos a sensação física e mental da experiência vivida, a libertação das hormonas permanece assim ativa, tal como a sensação de bem-estar.

“Como é que posso sentir-me melhor?”

Em contexto de consulta, é comum as pessoas perguntarem: “Como é que posso sentir-me melhor?”. Neste contexto, como psicóloga e cidadã, para os primeiros passos, parece-me importante cada um definir o que lhe faz sentido, na sua realidade e circunstância, definir ações e atitudes onde a intenção deve estar focada em tornar o nosso redor em algo melhor. Começando no ato de amor-próprio, no auto-cuidado e assegurando as nossas necessidades básicas de conectar com os outros num ato de empatia e compaixão.

A importância dos pequenos gestos do dia-a-dia

Ou seja, dar importância a gestos simples, como dizer “bom dia” não só para pessoas que conhecemos, mas para alguém que se cruza no nosso caminho, pode só por si ser algo socialmente gratificante. Ou, por vezes, o ato de ligar para alguém que está a passar dificuldade ou que se sente desamparada, ajudar o outro a partilhar e a ter oportunidade em encontrar saídas para os problemas, ou uma atitude simples em responder a uma mensagem apenas por assistência moral, pode promover esperança.

Nos nossos locais de trabalho podemos igualmente ter propósitos diários para além dos objetivos definidos. Por exemplo, eu, enquanto psicóloga clínica num hospital, a minha função é dar apoio aos profissionais de saúde. Aqueles que foram chamados de super-heróis, aos quais batemos palmas. Na verdade, a minha missão vai para além de um apoio clínico, o de estar numa atitude empática, ou seja, atenta às necessidades atuais dos nossos heróis, sinto uma maior vontade em ir trabalhar diariamente, gerando significado no meu propósito de vida.

Perante o atual clima de imprevisibilidade, onde surgem sentimentos de medo e insegurança, não tenho dúvidas que para além destes benefícios individuais que contribuem para o bem-estar, as atitudes de solidariedade são fontes de energia renováveis para a sobrevivência humana nos períodos de crise económica social e política.

20 de Dezembro, Dia Mundial da Solidariedade

Neste ano, no Dia Mundial da Solidariedade, apelo à urgência da coesão social baseada no respeito pela diversidade, no reconhecer a importância de todos numa sociedade em relações de interdependência, respeitando sentimentos, ideias e pensamentos.

Sendo o bem-estar algo único e intransmissível, o impacto da solidariedade é algo que quando encontrado em cada um de nós produz uma energia de conexão que pode produzir uma melhor sustentabilidade para o nosso planeta.

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