Quando nos sentimos felizes numa relação, é natural que nos questionemos se durará “para sempre”, se temos aquilo que é preciso para manter a chama acesa e, sobretudo, o que é que podemos fazer para nos sentirmos seguros da solidez da relação. Afinal, há muitos exemplos à nossa volta de casais que nos pareciam felizes e que, aparentemente de um momento para o outro, decidiram separar-se. Então, o que é que torna uma relação sólida?
Antes de mais, é importante olhar para o que nos diz a ciência: os casais mais felizes e com relações duradouras têm uma base comum – níveis muito elevados de intimidade emocional. Eles conhecem-se bem e isso também acontece porque cultivam o hábito de se expor, de se vulnerabilizarem, de correr o risco de haver discussões. Mas isso está longe de significar que estes casais passem a vida a ter conversas profundas sobre o estado da sua relação. Pelo contrário! Na maior parte do tempo eles estão a:
Viver a própria vida sem pensar no(a) companheiro(a)
É verdade! Quando estamos numa relação realmente segura, não passamos o tempo todo a pensar na pessoa de quem gostamos. Precisamente porque há um sentimento de segurança muito forte, há espaço e disponibilidade emocional para estar com outras pessoas – família e amigos -, para fazer atividades de que gostamos (hobbies, desporto) ou simplesmente para estarmos lado a lado a fazer coisas diferentes. É verdade que os casais com uma relação segura passam muito tempo juntos – porque apreciam a companhia do outro, não por obrigação, mas também são eles que se sentem mais confortáveis com o tempo que passam sozinhos. Sabem que podem genuinamente contar com a pessoa de quem gostam, sentem-se amados, apoiados e compreendidos e sabem que há diariamente espaço para conversar sobre todas as pequeninas coisas do dia-a-dia.
Divertir-se
A maioria dos casais felizes gostam de se divertir individualmente. Muitas vezes, há um que adora praticar desporto e outro que odeia. Há um que é louco por concertos e outro que tem aversão a multidões. Mas os casais que estão numa relação segura costumam partilhar alguns interesses e diversões. Para uns é ver séries de televisão em conjunto, para outros é organizar jantares com amigos, para outros são as viagens e passeios, para outros é a exploração de novos restaurantes. O importante é reconhecer estas fontes de relaxamento e conexão e cultivá-las, sem permitir que a lista de obrigações profissionais e familiares suguem o tempo a dois.
Partilhar as suas experiências e sentimentos
Se há um hábito que caracteriza as relações felizes, seguras e emocionalmente íntimas é este: as conversas diárias sobre as experiências que cada um viveu ao longo do dia. Não são meros relatórios factuais, em que cada um descreve detalhadamente o que fez, o que comeu, que imprevistos surgiram ou que discussões teve com o chefe. É, sobretudo, uma partilha dos sentimentos associados a essas situações: “Não imaginas como fiquei feliz por rever a minha amiga à hora de almoço” ou “Fiquei mesmo irritado com o que o meu chefe disse”. Claro que estas conversas também podem incluir memórias de infância, traumas relacionados com o pai ou com a mãe. Às vezes são conversas muito leves e divertidas, outras são mais profundas e requerem maior disponibilidade emocional. E é aqui que entram as competências destes casais: por um lado, eles sabem como expor os próprios sentimentos sem serem apenas factuais e entediantes e, por outro, sabem acolher, validar e empatizar com os sentimentos do(a) companheiro(a). Sabem que, na maioria das vezes, o outro não está à procura de soluções, mas de amparo verdadeiro. Além disso, eles não são máquinas e não estão sempre no seu melhor. Por isso, sabem definir limites: “Querida, eu sei que o que estás a dizer mexeu mesmo contigo, mas eu estou exausto e não consigo dar-te a atenção que mereces agora. Achas que podemos falar melhor sobre isso amanhã?”.
Ligar-se a outras pessoas
Já todos ouvimos a seguinte frase: “É preciso uma aldeia para educar uma criança”. O mesmo acontece com o sucesso das relações amorosas. É preciso uma rede de suporte. Os casais felizes apoiam-se mutuamente e são a principal figura afetiva um do outro. É frequente ouvi-los referirem-se mutuamente ao(à) companheiro(a) como “o(a) meu(minha) melhor amigo(a)”. Mas não como o(a) único(a) amigo(a). Às vezes, é mais fácil abordar alguns assuntos com outra pessoa da família ou com uma pessoa amiga. Às vezes, a pessoa que amamos não está no melhor momento para nos ouvir – seja para incentivar, seja para apoiar. E às vezes também pode não ter tanto interesse sobre um assunto quanto outra pessoa de quem gostamos. Os casais felizes sentem-se seguros com esta realidade.
Nutrir a relação
Toda a gente sabe que as relações precisam de ser alimentadas, nomeadamente através de gestos de afeto. Os casais felizes atuam de forma muito preventiva, nutrindo a relação e evitando muitas discussões. Algumas das formas que eles encontram para nutrir a relação são: respeitar os limites de cada um, fazer escolhas que traduzem quão bem se conhecem e o quanto cada um se importa com o outro (por exemplo, trazendo do supermercado a fruta de que o outro mais gosta), dar pouca importância às pequenas falhas (reconhecendo, por exemplo, que um esquecimento não é intencional), partilhar as tarefas de casa de forma equilibrada e justa, falar um com o outro de forma gentil, mostrar o afeto através do toque com muita frequência e encontrar espaço (tempo) para namorar, mostrar interesse genuíno pela forma como correu o dia, incentivar o outro a concretizar os seus sonhos.
Proteger a relação
Os casais felizes dão genuinamente valor ao que têm e fazem alguns esforços para proteger a relação. Isso significa que não vão fazer algo nas costas do(a) companheiro(a) que saibam que feriria a sua confiança ou que vá contra o seu acordo implícito. Eles defendem-se mutuamente em público e definem limites claros em relação à família alargada, comportando-se claramente como uma equipa coesa e reservando as discussões para os momentos a sós.
Fazer as pazes depois de uma discussão
Sim, os casais felizes também discutem. Mas fazem-no muito menos vezes, de forma menos intensa e são mais rápidos e eficazes a fazer as pazes. Isso está diretamente relacionado com o investimento que fazem fora dos momentos de tensão e que tende a fortalecer o “mealheiro de afetos”. Resumidamente, quando nos sentimos amados, apoiados e considerados na maior parte do tempo, é menos provável que façamos escolhas impulsivas que magoem o outro de forma perigosa e é mais provável que consigamos ultrapassar um momento de tensão porque “sabemos” o quanto a outra pessoa se importa connosco. Mas a vida a dois inclui momentos de discussão – isso é o que acontece quando duas pessoas vivem juntas e se revelam de forma tão íntima e autêntica. Faz parte e, na maioria das vezes, ajuda a criar ainda mais intimidade.