A importância das emoções nos relacionamentos

Cláudia Morais // Novembro 25, 2021
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Os sentimentos e as emoções são a base de todos os relacionamentos, em particular dos mais íntimos. Se formos capazes de os acolher, identificar, validar e processar, as coisas parecem fluir naturalmente, as peças encaixam-se e sentimo-nos mais seguros e amparados. Pelo contrário, quando bloqueamos numa destas etapas, as coisas complicam-se, os equívocos de comunicação sucedem-se e tendemos a questionar a viabilidade das relações.

Sempre que recebo um casal em terapia, o foco é o mesmo: as emoções, o impacto emocional de cada gesto, de cada comportamento. Por mais voltas que demos aos assuntos que mexem connosco ou aos temas que geram discordância, o mais importante NÃO é chegar a acordo em relação à solução. Para dizer a verdade, a observação de casais felizes mostra que mais de 80% dos problemas conjugais não são solucionáveis, são geríveis. Aquilo de que mais precisamos num relacionamento é da certeza de que a outra pessoa se importa com os nossos sentimentos. Se o comportamento dele(a) nos deixou inseguros, precisamos que ele(a) nos mostre que se preocupa, que empatiza e que tem interesse em ajudar a devolver a nossa segurança. Se estivermos tristes, mesmo que seja com algum assunto alheio à relação, precisamos do colo, do abraço e da certeza de que a pessoa de quem gostamos dá importância ao que sentimos, tornando-nos a sua prioridade. E quando há um objetivo que contribui intensamente para a nossa felicidade precisamos de viver com a profunda convicção de que a pessoa que está ao nosso lado fará o que puder para nos ajudar a lá chegar e que vibrará com a nossa alegria.

Qual é a diferença entre emoções e sentimentos?

Embora seja habitual ouvirmos falar de emoções e de sentimentos como se fossem a mesma coisa, há diferenças significativas entre eles e isso também condiciona os nossos relacionamentos. 

As emoções são reações psicofisiológicas rápidas que são desencadeadas pela parte mais primitiva do nosso cérebro. Por exemplo, se ouvirmos um barulho intenso, o nosso cérebro encarregar-se-á de desencadear um conjunto de reações que trarão emoções como o medo ou a surpresa. É possível que o nosso coração bata mais aceleradamente e que o nosso olhar seja dirigido de forma rápida para o local do estrondo. É algo inato, instintivo. Se tivermos passado por uma experiência traumática, como uma guerra, é possível que as nossas memórias afetivas associadas ao barulho dos tiros e explosões ativem uma reação intensa e desproporcional, mesmo que se trate “apenas” de um prato a cair. Mas em circunstâncias normais o facto de olharmos na direção do barulho e percebermos que se trata de um evento tão banal vai permitir-nos elaborar pensamentos que permitem que a emoção inicial dê origem a um sentimento mais leve. Talvez sejamos capazes de assumir que nos sentimos assustados com o barulho, mas esse susto dissipar-se-á rapidamente. Se os nossos pensamentos sobre o assunto forem do tipo “Ele(a) partiu o meu prato favorito de propósito!”, às emoções primárias seguir-se-ão sentimentos de raiva, indignação ou mágoa.

Em suma, as emoções são reações corporais efémeras e não dependem da nossa consciência ou da análise da situação. Os sentimentos são o resultado da forma como pensamos sobre a realidade e podem ser processados e geridos.

Quando é que as emoções atrapalham os nossos relacionamentos?

Quando há memórias afetivas intensas associadas ao medo ou à tristeza, é mais provável que o nosso cérebro reaja a alguns comportamentos como se se tratassem de ameaças à nossa sobrevivência, acabando por fazer uma de duas coisas: erguendo um “muro de betão” que nos leva a isolar-nos da pessoa que amamos ou assumindo uma postura desproporcionalmente agressiva.

Imagine que o(a) seu(sua) companheiro(a) cresceu com uma mãe muito exigente e incapaz de mostrar o seu afeto de forma clara e consistente. Embora seja hoje um adulto aparentemente forte e independente, a pessoa que ama pode reagir a algumas formas de rejeição através do amuo ou de explosões de agressividade difíceis de entender. Tanto numa situação como na outra, você sente-se injustiçado(a), incompreendido(a) e desamparado(a). Estes sentimentos são o resultado da “história” que é capaz de contar a si próprio(a) em relação ao que aconteceu. Enquanto isso, o(a) seu(sua) companheiro(a) sentir-se-á provavelmente dominado(a) por sentimentos intensos de rejeição e abandono, que são o que sobra das emoções intensas e da inexistência de um processamento dos acontecimentos.

Vejo muitos casais assim no consultório, reféns dos mecanismos de defesa dos seus cérebros e incapazes de perceber que, mais do que um problema de comunicação, estão perante um problema de regulação emocional.

Quanto mais escavamos as nossas memórias afetivas, explorando as nossas vulnerabilidades e aceitando a nossa bagagem afetiva, maior é a probabilidade de aprendermos a gerir as nossas emoções e a dar voz aos nossos sentimentos de forma equilibrada.

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