Pedro Strecht, psiquiatra da infância e adolescência, aborda no livro “Pais suficientemente bons” a pressão que existe sobre pais e filhos para que estes alcancem a perfeição. O autor defende que a busca incessante pela excelência, muitas vezes motivada pela necessidade de projetar uma imagem irrepreensível, pode transformar a relação entre pais e filhos numa troca exaustiva de exigências. Segundo Strecht, a verdadeira felicidade não reside na perfeição, mas, sim, na aceitação das nossas limitações e na valorização de momentos genuínos e significativos.
Quais são os efeitos da ansiedade da perfeição?
O especialista sublinha que a ânsia de perfeição gera uma tensão constante e desgastante, tanto para pais quanto para filhos. Este ambiente de alta pressão e expectativas inatingíveis pode levar a sentimentos de culpa e fracasso, contribuindo para uma sociedade cada vez mais ansiosa e com propensão para quadros de burnout. A experiência mágica da parentalidade fica assim comprometida, resultando numa realidade onde até os melhores esforços parecem nunca ser suficientes.
O que é isto de ser “suficientemente bom”?
Inspirado no conceito do pedopsiquiatra britânico Donald Winnicott, Pedro Strecht enfatiza que ser um pai “suficientemente bom” é mais benéfico do que ser perfeito. Este conceito sugere que os pais devem focar-se na criação de um ambiente seguro e de apoio, aceitando as suas falhas e usando-as como oportunidades de crescimento e aprendizagem. Propõe, assim, uma mudança de paradigma onde a prioridade passa a ser a qualidade do tempo passado em família, a alegria nas relações e valores como a honestidade e a compaixão.
Estar só e valorizar o tempo
Outro ponto crucial abordado pelo autor é a importância de permitir que as crianças tenham momentos de solidão e tempo livre não estruturados. A constante ocupação dos tempos livres das crianças impede-as de desenvolverem a capacidade de estarem consigo mesmas, essencial para o seu crescimento emocional. Strecht defende que, na era das redes sociais e da conectividade constante, é vital que os pais ensinem aos filhos a arte de estar só e de valorizar o tempo como um aliado na construção de uma vida emocionalmente saudável e equilibrada.
“Pais suficientemente bons” oferece uma visão realista e empática da parentalidade, promovendo um ambiente onde a imperfeição é aceitável e até desejável, para o desenvolvimento de relações familiares saudáveis e felizes.
Nota: Fotografias por Verónica Silva