Quais são os perigos das redes sociais para crianças e adolescentes?

Cláudia Morais // Maio 17, 2021
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Que riscos correm os nossos filhos quando se inscrevem nas redes sociais? Será que é suficiente ativar o controlo parental? O que é que os pais podem fazer para garantir a segurança das crianças e dos adolescentes nas redes sociais?

A ideia de os nossos filhos serem alvo de predadores sexuais ou de cyberbullying é ao mesmo tempo aterradora e distante. Sabemos que os perigos existem, mas muitas vezes achamos que alguns tipos de violência só acontecem aos outros. Por um lado, vamos adiando a autorização da sua inscrição nas redes sociais dos adultos, mas por outro sentimos a pressão de a maior parte dos colegas e amigos estarem inscritos. A verdade é que as redes sociais não são apenas um antro de maldade. Há obviamente benefícios associados à utilização destas aplicações – e não me refiro apenas à socialização.

Os benefícios das redes sociais para crianças e adolescentes incluem:

  • Literacia digital – Utilizar as redes sociais pode ajudar a desenvolver conhecimentos e competências;
  • Cooperação – As redes sociais também podem ser utilizadas para partilhar conteúdos educativos com colegas, amigos e professores;
  • Criatividade – A edição de fotos e vídeos e a prática de alguns jogos promovem a criatividade;
  • Saúde mental e bem-estar – O aumento da proximidade a familiares e amigos ajuda a criar um sentimento de pertença.

Mas a verdade é que por detrás de todas as redes sociais escondem-se diversos perigos, alguns mais evidentes do que outros.

Os perigos das redes sociais para crianças e adolescentes incluem:

  • Exposição a conteúdo impróprio – Conhece a rede social ROBLOX? A ROBLOX é uma plataforma de jogos utilizada por jovens de todo o mundo, incluindo Portugal. Há mais jovens com menos de 13 anos a utilizar esta plataforma do que a usar o Facebook, o Instagram e o Youtube juntos. Esta rede social é utilizada por crianças e permite fomentar o sentimento de pertença através da formação de equipas que se vão unindo para vencer obstáculos, alcançar troféus e criar mundos virtuais. Há uns meses, a mãe de uma criança ficou chocada quando espreitou para o iPad da filha e percebeu que o seu avatar (o boneco que a representa) estava a ser sexualizado por três outros utilizadores da rede de jogos. A verdade é que esta plataforma é construída pela comunidade, o que faz com que existam milhões de jogos disponíveis. Mesmo quando uma criança começa por entrar num inocente jogo de obstáculos, só a monitorização atenta permite que pais e mães estejam a par do que está a acontecer;
  • Exposição a comentários agressivos ou violentos – Todas as redes sociais incluem a troca de mensagens e comentários. Para um adulto, um comentário maldoso pode dar origem a que o outro utilizador seja “desamigado” ou bloqueado. Mas, mesmo quando isso acontece, é praticamente impossível evitar o mal-estar. Para uma criança ou um adolescente o efeito destes comentários pode ser devastador. Entre a vontade de agradar ao grupo de pares e a vergonha de ser alvo de críticas, muitos optam por ocultar estes episódios dos pais;
  • Partilha de informações pessoais com estranhos – Quando achamos que a pessoa que está do outro lado do ecrã é confiável, não vemos qualquer problema em partilhar o nosso número de telefone, o sítio onde trabalhamos ou a zona em que vivemos. Para uma criança, também não há maldade ou perigo em partilhar o nome da escola ou outras informações com outra criança. Mas todos sabemos da possibilidade de se criar perfis falsos nas redes sociais e o que não faltam são adultos a fazerem-se passar por crianças e adolescentes. Infelizmente, estes esquemas também incluem jogos de sedução que tantas vezes chegam à partilha de imagens íntimas que, por sua vez, dão origem a exercícios de chantagem emocional;
  • Partilha de fotos e vídeos constrangedores (deles próprios ou de terceiros) – Há uns tempos, acedi aos stories de uma amiga e questionei-me sobre a intenção por detrás daquela publicação. Poucos minutos depois, recebi o mesmo conteúdo por Whatsapp. Questionei a minha amiga, mas não obtive resposta. Quando lhe liguei, percebemos que a partilha tinha sido feita pela filha de 5 anos que, obviamente, não está inscrita em nenhuma rede social nem sabe ler (mas aprendeu a fazer publicações no Facebook e no Instagram). Embora se tratasse de um vídeo privado, o conteúdo era inofensivo. Mas e se não fosse? Que riscos correria a minha amiga? Muitos pais e mães permitem que os seus filhos acedam às suas redes sociais. Esta é a alternativa que consideram mais segura enquanto as crianças não têm idade para ter o seu próprio perfil, mas é fundamental que continue a haver monitorização.
  • Cyberbullying – Há uns meses, um casal que acompanhei no consultório confrontou-se com o alerta de um colega do filho, que lhes contou que o adolescente tinha partilhado a vontade de se matar. Estava a ser alvo de bullying através do Whatsapp e sentia-se desesperado. Muito mais perigoso do que um simples comentário agressivo, o cyberbullying inclui quase sempre a união de alguns jovens contra um alvo específico. As motivações podem estar relacionadas com o fim de um namoro, uma disputa infantil ou a simples gratificação de exercer poder sobre alguém. Este tipo de violência pode incluir a disseminação de informações pessoais, partilha de fotos ou vídeos íntimos, partilha de boatos ou informações falsas. De um modo geral, as informações espalham-se pela escola inteira e o aluno é alvo de múltiplas humilhações;
  • Exposição a publicidade e marketing direcionados – O Youtube é a babysitter digital de muitas crianças. Mesmo que as crianças estejam a assistir a vídeos com restrição de idade, o mais provável é que sejam inundadas de anúncios criteriosamente desenhados para apelar ao consumo infantil. Alguns youtubers misturam a criação de conteúdos infantis com a divulgação de merchandising em nome próprio. Ao fim de algum tempo, é provável que qualquer criança queira ter a caneca, o guarda-chuva, os lápis, os sumos, os cadernos, a mochila e o que mais houver do youtuber que idolatra. Pior do que isso, muitas vezes a lavagem cerebral inclui informações enganosas como “estes sumos são super saudáveis”, “estas canetas duram muito mais tempo do que as normais” ou “assim, o youtuber ‘X’ pode ganhar dinheiro e continuar a fazer vídeos”;
  • Roubo de identidade – Muitos adultos têm perfis de Facebook e Instagram públicos que incluem dezenas de fotografias que podem ser facilmente descarregadas para dar origem a um perfil falso. “Para quê? Eu não sou uma figura pública”, perguntar-se-ão alguns. A verdade é que a criação de um perfil falso pode ter múltiplas intenções. Quando uma criança ou um adolescente cria um perfil numa rede social, também o faz com a intenção de receber o maior número possível de likes e comentários. A popularidade é particularmente valorizada nestas idades e regularmente confundida com valor pessoal. Quanto maior for a partilha de publicações públicas, maior é a probabilidade de haver uma que se torne viral. Por outro lado, isso também aumenta a probabilidade de ocorrência de roubo de identidade;
  • Expectativas irrealistas – Quase todos sabemos que o conteúdo partilhado nas redes sociais é criteriosamente selecionado, filtrado e editado. O azul do céu assume agora milhares de tonalidades, assim como o tom da nossa pele. Qualquer um pode apresentar um bronzeado perfeito em janeiro ou a pele imaculada, sem acne nem rugas. Para uma criança ou para um adolescente, é ainda mais fácil criar ilusões e acreditar que a vida dos outros é incrivelmente perfeita. Os sentimentos de tristeza e ansiedade são cada vez mais comuns entre pessoas que passam demasiado tempo a fazer scroll nas redes sociais.

Como gerir os perigos das redes sociais?

As crianças e os adolescentes precisam de se sentir vistos e compreendidos. Precisam de atenção, mesmo quando parece que já mal dependem de nós. Mas é mais provável que se esquivem a partilhar connosco algumas informações quando a atenção que lhes oferecemos está centrada naquilo que nos interessa (nomeadamente, no desempenho académico). Quando nos habituamos a prestar atenção aos seus gostos e interesses, aos jogos de que mais gostam, às brincadeiras preferidas, é mais provável que nos mantenhamos a par de tudo o que é importante.

As redes sociais não são a pior invenção do mundo. Pelo contrário, quando são utilizadas com moderação e com a presença – física e emocional dos pais – podem oferecer experiências maravilhosas. Lembra-se da ROBLOX, a rede social que inclui milhões de jogos criados pela comunidade? Esta plataforma permite que uma criança portuguesa possa jogar e interagir com familiares que estejam do outro lado do mundo, o que também inclui a possibilidade de melhorar a comunicação numa língua estrangeira, por exemplo. Mas para que estas vantagens sejam aproveitadas, é necessária muita atenção e supervisão.

Mesmo que os nossos filhos ainda não tenham telemóvel nem redes sociais, podemos aproveitar para introduzir o assunto através das nossas redes. Quando partilhamos com eles as regras e os valores que norteiam o nosso próprio comportamento online, estamos a ajudá-los a pensar sobre matérias importantes. Por exemplo, podemos perguntar-lhes como é que eles gostariam de tratar outras pessoas nas redes sociais, como é que gostariam de ser tratados, como é que se sentiriam se alguém os identificasse numa fotografia embaraçosa, podemos incentivá-los a fazer apenas comentários públicos positivos e a fazer críticas construtivas em privado. Também podemos explicar porque é que nem todas as fotografias que tiramos são publicáveis e incentivá-los a refletir sobre as intenções por detrás do objetivo de “ser famoso” na Internet.

Como em quase tudo na vida, a educação para as redes sociais envolve atenção, presença, comunicação clara, abertura e curiosidade. Parar para explorar estes assuntos é mais importante do que seguir regras predefinidas por terceiros. Cada criança é única e especial e o que funciona para uma família pode não funcionar para outra.

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