Castanhas e outono são duas palavras que combinam bem. Para mim, uma não vive sem a outra. Outono revela imagens, na minha mente, que sempre associo a esta época do ano, como, por exemplo, árvores cobertas de tons dourados e avermelhados, a queda das folhas e as castanhas, quentes e boas!
Desde a minha tenra infância que nesta época do ano me lembro de passar na rua, sentir o cheiro das castanhas assadas, comprar um cartucho e comer ali mesmo, ainda quentinhas. Só de me lembrar, até parece que sinto o cheiro e o sabor! O cheiro das castanhas assadas na rua assinalam o começo da estação fria, o recolher dos animais e o despir das árvores.
Eu adoro castanhas. São super saborosas, naturais e irresistíveis (pelo menos para mim!).
As castanhas têm o condão de serem reconfortantes e muito versáteis do ponto de vista culinário. Para não falar que estão cheias de benefícios nutricionais.
São ricas em vitaminas B1, B6 e C, com acção antioxidante que ajuda no funcionamento do coração, promove o bem-estar emocional, contribui para o funcionamento do sistema imunitário e absorção de ferro. São também ricas em fibras, ácido fólico e potássio.
Historicamente as castanhas são consumidas há mais de mil anos. Eram o alimento de pastores e lenhadores nas noites frias de outono e até mesmo no inverno.
Naquela época, enquanto se aqueciam com o calor das fogueiras, juntavam ao lume as castanhas que colhiam pelo caminho. E assim se começaram a comer castanhas assadas. Os romanos assavam-nas para servir como acompanhamento da carne ou peixe nas suas festas.
Durante muito tempo, as castanhas foram o alimento principal das populações rurais, principalmente das montanhas, como é exemplo o norte de Portugal. Até que foi destronado com a chegada do milho e da batata à Europa. Este fruto era preparado de diversas formas, como é exemplo a sua transformação em farinha, para fazer parte da confecção de pão, conhecido por “pão-dos-bosques”.
Existem sempre muitas dúvidas do que fazer com as castanhas e como as “processar”. Essa sabedoria que outrora era comum, actualmente necessita de manual de instruções. Vamos, então, tentar esclarecer o mais possível para que se torne fácil de o fazer em casa, com castanhas frescas, locais e da estação.
No momento de comprar, escolha castanhas com pele lisa, brilhante, intacta, sem sinais de desidratação e de bolor. Para conservar em casa, guarde-as num cesto, num local seco e fresco. Podem também ser congeladas com ou sem casca, cruas ou assadas e conservam-se no congelador durante cerca de seis meses.
Como descascar castanhas?
Para descascar castanhas com facilidade, use uma faca pontiaguda e marque uma cruz nas castanhas. Depois, ferva-as durante cerca de dois minutos, escorra-as e, ainda quentes, retire a casca exterior e a pele aveludada. Outra forma de descascar é assá-las no forno durante cerca de 10 minutos para que abram um pouco, mas não cozam completamente. Depois é só descascar ainda quentes.
Como assar castanhas?
Para assar castanhas, como se fazia tradicionalmente, necessita de boas brasas e de golpear as castanhas para que não rebentem. Pode fazê-lo diretamente em fogueiras ao ar livre, no chão da lareira e em fogareiros, colocando-as em assadores próprios para o efeito (que se colocam directo nas brasas).
Em alternativa, pode assá-las no forno durante cerca de 30 min, a 180ºC. Aqui o sal é indispensável, pelo que coloque uma mão cheia de sal no tabuleiro com as castanhas e após a assadura borrife com água e abafe-as com um pano grosso até ao momento de servir.
Como cozer castanhas?
Para cozer castanhas, estas devem ser lavadas, golpeadas e cozidas em água com sal e erva-doce, durante cerca de 30 minutos. Descasque-as logo após a cozedura, caso contrário será mais difícil tirar-lhes a pele.
Receitas com castanhas:
Sendo eu natural do norte de Portugal, com muitas raízes no Minho, não posso deixar de partilhar duas receitas muito comuns na minha família, com umas ligeiras adaptações para que fiquem mais conscientes e naturais.
. Rojões de seitan à minhota
Os rojões à moda do Minho são uma receita tradicional da cozinha minhota, geralmente muito apreciada pelos amantes da gastronomia portuguesa e que a minha avó Fernanda fazia exemplarmente. Esta versão que vos trago é vegetariana, mas tento trazer o sabor original da receita da minha querida avó. Em vez da tradicional carne de porco, vamos confeccionar seitan, para que o nosso prato seja mais saudável para corpo, mente e espírito.
Ingredientes:
- 800 g de seitan;
- 2 dl de vinho verde branco;
- 3 colheres de azeite;
- 4 dentes de alho;
- 2 folhas de louro;
- 1 colher de sobremesa pimentão-doce;
- 40 castanhas assadas;
- Pimenta branca q. b.;
- Sal q. b..
Modo de preparação:
- Comece por cortar o seitan em cubos com cerca de 2 cm e colocá-los a marinar durante 30 minutos com o vinho, os dentes de alho esmagados, o sal, a pimenta e o louro;
- Findo este tempo, leve ao lume e deixe cozer em lume médio até o vinho evaporar;
- Baixe o lume para o mínimo, acrescente o azeite e cozinhe os rojões até ficarem bem lourinhos;
- Acrescente ao molho o pimentão-doce dissolvido num pouco de vinho verde e deixe cozinhar até evaporar de novo. Acrescente as castanhas assadas já sem casca;
- Sirva a preceito, como a receita original, com batatinhas assadas e enfeitados com rodelas de limão e raminhos de salsa.
Dica: Se tiver uma panela antiaderente sem riscos, utilize-a, pois assim o seitan não corre o risco de ficar agarrado à panela.
. Sopa de castanhas piladas
As castanhas piladas são castanhas secas ao Sol ou num caniçado. Hoje, ainda conseguimos comprar este tipo de castanha já pilada em lojas que vendam frutos secos. Se não conseguirem as castanhas piladas façam esta mesma receita com castanhas frescas descascadas.
Ingredientes:
- 200 g de castanhas piladas;
- 250 g de feijão branco cozido com água e segurelha;
- 150 g de cebola;
- 4 dentes de alho esmagados;
- 4 colheres de sopa de azeite;
- 1 ½ chávena de chá de arroz integral cozido;
- Sal q. b..
Modo de preparação:
- Lave as castanhas e hidrate-as em água durante 12 horas. Refogue as castanhas, os alhos esmagados e as cebolas cortadas em meia- luas com um fio de azeite;
- Acrescente o feijão branco, mexa e acrescente água até ter os ingredientes cobertos. Tape e deixe cozinhar em lume brando 15 a 20 minutos;
- Junte o arroz e deixe cozinhar cerca de 5 minutos. Tempere com sal e sirva quente com fio de azeite.
Dica: Se a sopa ficar muito consistente, junte a água necessária para dar a consistência adequada e o sal que o paladar indicar.
Bom proveito!
Nota: As fotografias e imagens incluídas neste artigo foram gentilmente cedidas pela autora.
