Sara tem 28 anos e nunca conseguiu tolerar uma penetração vaginal desde que iniciou a sua vida sexual.
Variadas tentativas “falhadas”. Não sabe porque é assim…
Não se recorda de nenhum “trauma ou experiência sexual negativa”.
Sente que tem dificuldade em relaxar durante os momentos de intimidade.
Sente-se “tensa quando antecipa uma possível penetração”, que julga ser “desconfortável e dolorosa”.
O vaginismo consiste na dificuldade persistente ou recorrente em conseguir a penetração vaginal. Quer seja a introdução de um dedo/dedos, do pénis ou de qualquer objeto (exemplo: tampão, dilatador…). Está associada a uma intensa tensão/contração do períneo e das coxas desencadeada pelo toque da vulva, do períneo, ou até da face interna das coxas.
Normalmente estas mulheres não referem dor com a penetração. Descrevem, sim, a sensação de que “há um obstáculo” que impede a progressão na vagina. Ou o receio de que “vai doer”. Há mulheres que contam que este facto existiu desde sempre. Já tentaram várias vezes, mas a “penetração torna-se impossível”.
Quando um relacionamento encontra um “ponto de equilíbrio” o mais frequente é adaptarem a forma como vivem a sua sexualidade e práticas sexuais. Sexo oral, masturbação simultânea, sexo anal e outras. Se existe satisfação sexual para cada um/a no par podem manter-se assim, sem procurar ajuda durante anos. Outras vezes, torna-se uma dificuldade no relacionamento. Nos pares heterossexuais muitas vezes é a vontade de engravidar que leva a procurar ajuda. Mas nem sempre é assim. Há mulheres para quem esta questão se torna um “problema” que a própria quer resolver (“Quero conseguir isto” ).
“Só eu tenho isto.”
Há muitas mulheres/pares que vivem esta situação pensando que é uma “situação única”. Se se reconhece nesta história saiba, primeiro, que não é uma “extraterrestre”: há outras pessoas que vivem esta situação; segundo, que tem tratamento.
Há mulheres que procuram um/a ginecologista porque “sentem” ou “acham” que é uma questão física/anatómica. A observação deve ser realizada de forma cuidadosa, deixando a mulher sentir que tem controlo da situação e que pode parar a qualquer momento. Não deve ser “forçada”.
Como esta situação está quase sempre associada a intensa tensão/contração do períneo e das coxas, mesmo o simples toque desencadeia contração muscular, o que pode tornar o exame mais difícil.
Na observação deve-se avaliar: se existe alguma lesão da vulva ou da vagina, verificar se existe um septo vaginal ou outras malformações da vagina e assegurar que a mulher tem um colo do útero. Um exame ginecológico normal permite excluir várias situações que podem ser confundidas com esta situação. E, por isso, não existindo obstáculo, uma vagina e colo do útero normais, a mulher deve ser tranquilizada que não existe uma causa orgânica (anatómica) para explicar o que acontece e sente. O que é muito importante. Claro, que se existirem alterações, devem ser orientadas em conformidade com os achados.
Vaginismo – Qual é o tratamento?
Nas situações em que fica excluída uma causa física e em que a história clínica é sugestiva de vaginismo, o tratamento é feito em equipa multidisciplinar que engloba a fisioterapia do pavimento pélvico, a psicoterapia e a ginecologia. É importante que todos tenham formação e treino para este tema.
O que se vai trabalhar ao longo do tempo é que a própria conheça melhor o seu corpo, se consiga tocar sem receio, que aprenda a relaxar (existem diferentes técnicas de relaxamento) e a dissociar o toque da vulva/vagina de uma experiência negativa.