A qualidade dos cuidados de saúde tornou a esperança de vida da mulher muito mais longa. Porém, os anos de idade fértil não se expandiram da mesma forma. Mantêm-se os mesmos. Afinal, até quando se pode adiar uma gravidez?
Esta é uma questão que surge frequentemente, pois muitas mulheres, quer por razões pessoais, profissionais e/ou relacionais, vão adiando a gravidez para um momento “mais oportuno”.
Mas, até quando é possível adiar uma gravidez?
Esta pergunta encerra em si, habitualmente, outras dúvidas, tais como:
- É possível “medir” a fertilidade em cada pessoa?
- É possível predizer quanto tempo “mais se tem de fertilidade”?
- Qual o risco de uma gravidez numa idade mais tardia?
A resposta é uma equação com muitas variáveis que deve ter em consideração.
7 Aspectos que deve ter em atenção ao adiar uma gravidez:
1. Idade
Os estudos mostram que a taxa de gravidez, na mulher, diminui progressivamente ao longo dos anos. Sabe-se também que a taxa de gravidez espontânea diminui significativamente depois dos 40 anos. Mas isto não significa que não seja possível engravidar e até de forma inesperada (nota de atenção para que lê e não quer engravidar…).
2. Como é que a idade influencia a taxa de gravidez?
Com a idade passam a ser mais frequentes os ciclos que não são ovulatórios (ou seja, ciclos em que não há ovulação) e a qualidade dos óvulos diminui.
3. Idade e “gravidez de risco”
É frequente ouvir esta expressão. Mas, o mais correcto, é identificar os diferentes riscos em causa:
- Risco de alterações cromossómicas do feto. Para as mulheres com 35 ou mais anos aumenta o risco de ter um feto com alterações cromossómicas, sendo a mais frequente a trissomia 21 (Síndrome de Down, mais conhecido como “mongolismo”). Para esta situação existe atualmente a possibilidade de fazer um exame entre as 11-13+6d de gravidez (o rastreio combinado de ecografia e análises hormonais) que faz um novo cálculo de risco que inclui a idade da mulher associado aos resultados obtidos neste rastreio. Ter 35 anos já não é igual a “ter de fazer amniocentese”. A amniocentese é realizada com indicações precisas e não apenas pela idade materna;
- Com a idade aumenta o risco de ter algumas complicações durante a gravidez, como, por exemplo, aborto espontâneo, diabetes gestacional e hipertensão durante a gravidez;
- Por outro lado, mesmo sem estar grávida, existe maior probabilidade de ter doenças, como, por exemplo, hipertensão arterial, diabetes ou obesidade, que por si aumentam o risco de complicações durante a gravidez. Se não tem doenças, esta questão não se coloca para si.
4. Para quem tem uma doença de base, que implicações tem o adiamento de uma gravidez?
Se tem uma doença ou faz medicação é sempre importante fazer uma consulta antes de engravidar para avaliar a situação clínica e mudar medicamentos que não sejam seguros na gravidez, a chamada consulta pré-concepcional. Este simples facto pode contribuir para engravidar em períodos mais estáveis da doença e consequentemente diminuir o risco de complicações para si e para o feto.
Para algumas doenças, como, por exemplo, a diabetes, ao adiar uma gravidez a “idade conta duas vezes”: aumenta a idade cronológica e o número de anos da doença, o que pode aumentar o risco de complicações durante a gravidez.
5. Qual a taxa de gravidez (concepção natural) em cada ciclo?
Um dos erros frequentes é esperar que essa taxa seja de “100% ou próximo disso” em casais heterossexuais saudáveis e novos, mas isso não corresponde à realidade. Na verdade, a taxa de gravidez espontânea é de 20-25% em cada ciclo. Isto explica porque, mesmo quando não “existem dificuldades”, a gravidez pode não acontecer nos primeiros ciclos em que se está sem contracepção. Este conhecimento é particularmente importante para evitar ansiedade com falsas expectativas.
6. “Há alguma análise ou exame que possa fazer para saber se sou fértil?”
É possível fazer análises hormonais que avaliam se a função ovárica é normal. Por outro lado, se não se está a fazer contracepção hormonal, na ecografia é possível verificar se existem folículos (que são sinal de que existe ovulação). Ter ciclos regulares (mensais) em que a mulher (que não está a fazer contracepção hormonal) percebe que tem muco ovulatório em cada ciclo, são outros indicadores de fertilidade. Porém, nenhum exame consegue prever quanto tempo mais existe de fertilidade.
Um mito que é importante esclarecer:
Sabia que os contraceptivos hormonais funcionam porque são anovulatórios temporários? Por isso, não é possível tirar conclusões. Mas o seu uso não torna “mais difícil engravidar” no futuro. Quando se pára de usar volta-se a ovular normalmente.
7. Preservação do potencial reprodutivo
Designa-se desta forma a preservação de gâmetas (óvulos ou espermatozóides) ou de tecidos reprodutivos (ovocitário ou testicular) para que possam ser usados no futuro.
A nossa legislação (Lei nº 58/2017) permite este procedimento para pessoas, que, por diferentes circunstâncias, possam vir a ter problemas de infertilidade. São disso exemplo as situações oncológicas, pessoas com doenças em que existe maior risco de menopausa precoce ou insuficiência ovárica prematura, pessoas trans antes de iniciar terapêutica hormonal, entre outras. A informação sobre este procedimento está disponível na página do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida (CNPMA).
Em conclusão, não existe um limite objectivo, seguro, para adiar uma gravidez. Há mulheres que têm uma gravidez em idades tardias que decorre sem complicações.
E, não se esqueça, que na maioria dos casos, engravidar é um projecto que envolve um par. Por isso, engravidar é uma questão que depende também da fertilidade da outra pessoa.