Saiba que estão descritas vulvas «bonitas/ideais» completamente diferentes. A «imagem do belo» ou a «imagem da perfeição» não é objectiva, nem universal, nem imutável. Vai sendo construída, reconstruída e reinventada socialmente ao longo dos anos. É diferente em cada cultura e muda ao longo dos anos.
Comecemos pelo princípio: é importante nomear a vulva pelo seu nome, que é sistematicamente apagado do discurso social, e mostrar a sua diversidade natural. Abordar as histórias, as dificuldades e as conquistas nesta luta contra a normalização vigente.
Fazer com que a vulva «exista no discurso social».
Não sei se costuma dizer vulva, quando se refere aos genitais externos. O clítoris, os grandes e pequenos lábios e o introito (abertura externa da vagina) têm este nome. Mas, muitas vezes, as pessoas dizem e escrevem (vê-se muitas vezes escrito) «vagina». Não é uma vergonha dizer «pénis», não deve ser uma vergonha dizer vulva.
A vagina nunca se vê. Sente-se.
A vagina é o canal que existe entre a vulva e o útero. Pode ser saudável, confortável ao toque e excitável a estímulos sexuais. Não precisa ser «perfeita» com um Ponto G. Saiba que esta zona, descrita como existindo na parede anterior da vagina, não está cientificamente demonstrada como uma estrutura precisa e individualizável. Nem todas as pessoas com vagina o sentem da mesma forma.
O clítoris, que está localizado na vulva, é constituído por várias porções que envolvem a porção inicial e infra-uretral da vagina e que se estendem em profundidade nos grandes lábios. Isto explica porque durante a resposta sexual há uma grande interligação de todas estas estruturas. A vulva e a vagina funcionam de uma forma una durante a resposta sexual.
Pessoas com vulva e vagina.
Para além da diversidade física é importante falar da diversidade de vivências das pessoas com vulva e vagina. Entre elas existem mulheres cisgénero, pessoas não binárias, pessoas trans e intersexo. Entre si, em comum, a existência destes órgãos. Muitas vezes em comum, também, as dúvidas e as dificuldades.
Desafio-vos, então, com algumas questões para chegar à resposta:
. Qual a imagem de uma vulva perfeita?
Na tradição japonesa, os pequenos lábios em «forma de borboleta» (pregueados e salientes entre os grandes lábios) eram considerados particularmente atraentes. Na tradição maori (Nova Zelândia) eram considerados «belos» os grandes lábios volumosos. No Norte de Moçambique, na região de Tete, pratica-se o alongamento dos pequenos lábios desde a infância, numa forma que se considera de «embelezamento». Em várias sociedades pratica-se o corte dos genitais femininos por diferentes razões, mas com frequência está associado à representação de pureza e passagem ritual para a idade adulta. Ou seja, a «vulva perfeita» tem de passar pelo corte.
Na maioria das imagens a que acedemos, actualmente, vemos uma vulva com grandes lábios pouco volumosos, entre os quais são visíveis pequenos lábios finos, pouco recortados, simetricamente alinhados, e um pequeno botão que é o clítoris. Mas que é apenas uma entre as muitas variações possíveis.
. O conceito do «perfeito» como uma imposição ou um ideal a ser atingido?
Como muitas das pessoas com vulva não vêem outras vulvas, a sua única referência são imagens esquemáticas, com photoshop ou de pornografia. Cada pessoa com vulva, quando se compara com estas imagens, pode sentir-se confortável ou desconfortável. Segura ou insegura.
A sensação de insegurança está muitas vezes associada à ideia de se sentir «diferente». Associada ou não ao receio sobre a «normalidade» da sua vulva (genitais), seja devido à sua forma, à dimensão, à coloração ou até assimetria que possa existir.
É, em nome destes conceitos e preocupações, que em vários países têm aumentado o número de cirurgias de embelezamento e rejuvenescimento da vulva e da vagina. Muitas vezes realizados por se desconhecer esta diversidade.
Vulvas e vaginas perfeitas, existem?
Tal como cada pessoa é uma pessoa, cada vulva é uma vulva e cada vagina é uma vagina. Todas diferentes. Sem a pressão de serem perfeitas.