Aos 37 anos de idade, a 31 de Dezembro de 1980, muito perto da meia noite, apagou o último cigarro e, sem qualquer experiência prévia de exercício físico ou desporto, dirigiu-se ao calçadão de Copacana e, de chinelos, correu 16 km… e não mais parou.
Possivelmente por medo, poucos dias antes tinha lido num jornal acerca das complicações ligadas ao tabaco e que demoraria 10 anos a limpar os pulmões, a sua história ligada à corrida iniciar-se-ia nesse dia e essa mesma paixão (e vontade de ficar com uns pulmões “cor-de-rosa”, como a própria referia), trouxe-a para Portugal em 1986.
Rapidamente as corridas de curta distancia desinteressaram-na, dedicando-se às maratonas mas, viria a entrar na história das corridas de trail quando decide correr ultramaratonas – perde-se a conta das participações e vitórias em provas de 100km, tendo disputado a prova de maior distância na prova Volta ao Minho (385km).
Em 2012, aos 68 anos de idade, tinha o sonho de participar na Maratona dos Sabres, uma prova de 243 km pelo deserto do Sahara, em Marrocos:
“É um sonho. É o meu sonho. Sei que não vai acontecer, porque é uma prova muito cara, não tenho dinheiro e ninguém quer patrocinar uma velha. Mas enquanto for viva vou ter esperança”.
E, em 2013, apadrinhada pelo ultramaratonista Carlos Sá, cumpriu o seu sonho.
Mais do que a sua idade, a sua PAIXÃO, a sua tenacidade, a simpatia e humildade, ajudaram-na a conquistar a admiração dos praticantes desta modalidade, que se encontram hoje de luto.
Mas esta não é apenas uma história de alguém que se apaixonou pelo Running.
Esta é a história de alguém que, com 37 anos de existência duríssimos (o seu passado é do conhecimento público), sem qualquer expectativa de resultados, se dedicou e lutou por uma paixão.
Esta é a história de alguém que resolveu (ESCOLHEU!) “trocar as voltas ao destino” e entregar-se ao que a fazia verdadeiramente feliz… Felicidade essa que, invariavelmente, nos fomos habituando a encontrar estampada no seu rosto, nas diversas reportagens e entrevistas que foi dando ao longo do seu percurso.
No início de Janeiro deste ano, iniciaria a sua “maratona mais dura”, recebendo um diagnóstico de cancro do pâncreas, do qual faleceu na passada semana.
Esta semana não é só o Running que está de luto… Na realidade, estamos todos nós por perdermos um EXEMPLO VIVO de que “QUERER é, muitas vezes, PODER”.
Muita pena de não ter tido a oportunidade de a conhecer pessoalmente mas, muito feliz por poder prestar-lhe esta homenagem (e este agradecimento), partilhando convosco a sua história.
By doing what you love you inspire and awaken the hearts of others.”
—SATSUKI SHIBUYA, PAINTER, ARTIST, SPIRITUAL TEACHER
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