Nas minhas muitas viagens pelo país, para gravar reportagens ou programas, o que mais gosto, sem dúvida, é de conhecer pessoas novas. Todas as vidas têm algo de surpreendente e inesperado. À medida que se desfia uma história de vida, descobre-se um ser humano que, inevitavelmente, nos ensina alguma coisa.
Os mais velhos são fontes de sabedoria
Os mais velhos são peritos nisso. Sábios por natureza, experientes até mais não, capazes de distinguir o essencial do acessório num piscar de olhos, são verdadeiras fontes de ensinamentos. Para que isso aconteça, basta que tenhamos disponibilidade para os ouvir, sem pressa e com curiosidade permanente.
O encontro com a Ti Cândida
Numa das minhas mais recentes viagens para gravar uma reportagem para o programa “Alô Portugal”, fui até à aldeia de Lomba, no concelho de Macedo de Cavaleiros. O objectivo era conhecer uma força da natureza chamada Ti Cândida.
Com 91 anos já feitos, esta senhora continua a abrir diariamente a sua mercearia e a conduzir o seu carro sempre que tem alguma volta para dar ou necessidade de abastecer a loja. É uma mulher independente, como há poucas.
Uma mulher à frente do seu tempo
Nos anos 80, abraçou a responsabilidade de dirigir a junta de freguesia — coisa rara naquela época para uma mulher. Foram 12 anos à frente da junta e, por isso, passou por muitos desafios difíceis. O seu objectivo já era então cuidar dos outros: garantir obras que melhorassem a qualidade de vida das pessoas e tornassem a aldeia num espaço melhor para viver.
A falta de água foi sempre um grande problema, mas Ti Cândida não descansou enquanto não fez vários furos que ajudassem a minimizar essa situação. As ruas estavam por arranjar, o que dificultava a circulação das pessoas e dos carros. Ti Cândida falou com a população e pediu a colaboração gratuita de todos, com a respectiva mão-de-obra. Assim se fizeram as estradas empedradas da aldeia.
Obras que deixam marca
As crianças não tinham infantário nem escola primária, mas com muito esforço — e a saber pedir a quem tinha para dar — lá se construíram, e as crianças ganharam o local que mereciam.
Ti Cândida foi sempre uma mulher de causas e ligada aos outros. Sempre atenta a quem mais precisava, aos mais frágeis, económica e socialmente. De todos procurou cuidar da forma que conseguiu, e por isso continua a ser imensamente respeitada e querida.
Presente e memória viva da comunidade
Ainda é olhada por muitos habitantes da aldeia como a “presidenta”, e é a ela que recorrem para pedir conselhos. Uma aldeia onde os mais velhos fazem questão de cuidar de todos — os da terra e os forasteiros.
Quando pergunto à Ti Cândida qual o segredo para ter tanta saúde aos 91 anos, apressa-se a esclarecer: ter alegria em cuidar dos outros.
Aqui vos deixo a receita, para o caso de quererem experimentar.
