“Eu engordo por causa do stress.”
Em primeiro lugar, há que esclarecer esta questão do stress. Existem dois tipos de stress: agudo e crónico. O nosso corpo está preparado para reagir de forma aguda perante uma situação identificada como perigosa, um stress agudo. Na verdade, as alterações hormonais que ocorrem numa situação de stress preparam-nos para reagir fisicamente (fugir ou lutar, o famoso “fight or flight”). Essas hormonas de stress, como o cortisol e a adrenalina, aumentam a nossa pulsação (frequência cardíaca) e quebram açúcares para que estes estejam disponíveis como combustível num comportamento de sobrevivência, que envolva contração muscular (o tal fugir ou lutar). Quando não existe resposta física com contração muscular após o momento de stress, a pulsação tende a baixar e os açúcares lançados na corrente sanguínea tendem a ser removidos e armazenados como gordura.
Quando é que o stress se torna problemático?
O stress torna-se problemático quando é crónico (de longa duração e não pontual) e não seguido de contração muscular. E o problema agrava-se quando a pessoa ainda consome alimentos ricos em açúcar (leia-se tudo o que é açúcar, mas também farinhas) e álcool. Como o aumento da produção de cortisol promove o aumento do apetite por açúcar e favorece o armazenamento de gordura na região abdominal, esta tríade (stress – sedentarismo – açúcar) é a combinação perfeita para desenvolver um distúrbio do metabolismo.
Com o aumento do consumo de açúcares, algo facilitado na nossa sociedade devido à disponibilidade de alimentos como refrigerantes, guloseimas, bolachas e pão, etc., a produção de insulina aumenta cronicamente devido à elevação contínua da glicémia (açúcar no sangue). Com o passar dos anos, promovendo este distúrbio, instalam-se condições com diagnóstico médico, como insulinorresistência (estado de pré-diabetes), esteatose hepática (fígado gordo) ou ainda hipertensão, todas elas associadas a inflamação. Ora estas condições são o pontapé de saída para as conhecidas doenças metabólicas, incluindo obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. Infelizmente, também estão associadas a cancro e outras doenças graves. Quando o metabolismo adoece, todo o corpo humano adoece.
Vários autores1 referem um ciclo de “retroalimentação” relacionado com o stress. Este parece contribuir para o acúmulo de gordura, mas também vice-versa; a própria obesidade parece constituir um estado de stress crónico e pode causar disfunção hormonal. Além disso, a descrição da obesidade como uma condição inflamatória sistémica de baixo grau, que contribui para o desarranjo do equilíbrio metabólico, implica que as substâncias pró-inflamatórias segregadas pela própria gordura (células gordas ou adipócitos) têm um papel no desenvolvimento de distúrbios/doenças.
O que a barriga tem a ver com o stress e o metabolismo?
No meu livro “Perder a Barriga sem fazer Abdominais”, menciono esta relação. Aliás, todo o livro é baseado na ideia de que o acúmulo de gordura na região abdominal é uma consequência do stress combinado com sedentarismo e má alimentação. Os exercícios propostos no livro promovem a contração muscular (obviamente), mas também a redução dos níveis de cortisol. Todos os exercícios combinam contração muscular com respiração num padrão que tem uma ação anti-stress. Selecionei exercícios fáceis de executar por todas as pessoas, em que não são necessárias habilidades desportivas.
Os autores de um artigo publicado na revista científica Obesity Reviews2, avançaram que, não só a obesidade central, mas a obesidade em geral, possa ser uma consequência da elevada atividade do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal, o sistema responsável por regular a resposta ao stress.
O que fazer quando não conseguimos suprimir a fonte de stress?
É importante relembrar que, da mesma forma que os distúrbios do metabolismo se desenvolvem pelo estilo de vida, também podem ser corrigidas pelo mesmo. Ou seja, não são irreversíveis! No entanto, precisamos de tomar decisões importantes, para que o stress não interfira negativamente com a nossa saúde.
Muitas vezes a fonte de stress é o nosso trabalho, ou o nosso núcleo familiar, e simplesmente não é possível eliminar essa fonte. O que fazer? Terá de passar necessariamente por reprogramar a vida de modo a ter uma boa alimentação, exercício regular e trabalho respiratório. Corrigir os défices nutricionais também é recomendado, e isso pode ser feito através de um check-up bioquímico que mostre quais os défices existentes, que são individuais.
Referências bibliográficas: