Agricultura biológica vs. convencional
Quando se fala de agricultura biológica, geralmente pensamos numa dicotomia biológico vs. convencional. Mas, dividir a agricultura exclusivamente entre biológico e convencional não é correcto. Sobretudo porque hoje em dia há cada vez mais correntes, como a biodinâmica, a natural, a agrofloresta, a permacultura, etc.. Além disso, mesmo dentro da convencional e da biológica existem subcorrentes e algumas podem coabitar.
Como é produzida a nossa comida?
Segundo um estudo recente da Universidade Católica, existe um profundo desconhecimento da maior parte da população relativamente à forma como é produzida a nossa comida.
Muitas pessoas desconhecem que a agricultura biológica também pode aplicar produtos químicos (como o sulfato de cobre), apesar de ter uma limitação legal muito maior para o fazer. Praticamente todas as pessoas acreditam que a agricultura convencional é menos sustentável do que a biológica, quando existem casos em que gasta muito menos recursos naturais, dependendo dos processos e técnicas utilizados.
Será um tomate biológico produzido todo o ano de forma intensiva nas estufas do sul de Espanha melhor do que um convencional produzido a céu aberto numa determinada época na zona de Mafra?
Tudo isto nos deixa com uma questão: qual é então a melhor opção para nós consumidores?
Bio ou não bio, eis a questão
Por lei, os produtos biológicos não podem conter organismos geneticamente modificados (OGM) e como em Portugal não é obrigatória a identificação da presença de OGM nos produtos, os produtos biológicos acabam por garantir a inexistência de transgénicos no que comemos (há uma corrente que defende que hoje em dia tudo o que comemos é transgénico, mas aqui não queremos entrar nessa discussão).
Além disso, a agricultura biológica apoia-se na protecção das plantas e, como tal, na prevenção, não recorrendo ao uso de pesticidas, nem de adubos químicos. Pode existir o uso de alguns fitofarmacêuticos (que deveriam ser o último recurso para evitar prejuízos significativos na produção), desde que estejam devidamente regulamentados e homologados em Portugal.
É importante acrescentar ainda que esta agricultura tem de estar assente em três pilares:
- a ecologia (respeitando a interacção dinâmica entre o solo, as plantas, os animais e os humanos),
- a sustentabilidade (com a protecção e preservação dos recursos naturais a longo prazo)
- e a responsabilidade social (preservando a biodiversidade e os ecossistemas naturais).
No fundo, a agricultura biológica deveria ser o que faziam os nossos avós (ou bisavós), quando queriam que a terra onde trabalhavam fosse preservada ou até melhorada para deixar de herança aos filhos e aos netos. Onde o respeito pela biodiversidade não se punha em causa e não existia um modelo tecnológico de intensificação agrícola, porque na grande maioria dos casos era uma agricultura de subsistência, em que os recursos existentes eram exclusivamente os naturais e, por isso, havia um enorme respeito por eles, com receio que fossem desaparecendo.
Produzido com consciência
E é por isso que para nós o mais importante é comprar directamente aos produtores. Porque comprar-lhes directamente é saber exactamente de onde vêm os nossos produtos e como foram produzidos. É conhecer o solo e os recursos naturais que lhes deram vida e perceber a biodiversidade que os rodeia. É pagar um pouco mais porque o alimento que nos chega é um bem precioso, que foi plantado e colhido na altura certa com carinho, amor, consciência e sabedoria. É saber que o Sr. Libério se levantou antes do sol para apanhar o nosso melão, que o Hélio trabalhou dias inteiros para que o morango ficasse no ponto, que o Miguel abdicou das férias de Verão para que o melhor tomate chegasse à nossa mesa.
Comprar directamente aos agricultores é entrar na vida deles, conhecer-lhes a família, saber o que estudam os miúdos, sentir o cansaço depois de uma semana dura em que o tempo não ajudou. E é também deixá-los entrar na nossa família e fazer com que se sintam em casa quando estão connosco. Porque comprar-lhes directamente é ajudar uma família e isso não tem preço.