Num mundo em constante transformação, onde os desafios da Educação e dos Direitos Humanos exigem cada vez mais atenção, é essencial criar espaços de debate genuíno. “Ponto de Luz”, o podcast de Catarina Furtado, nasce precisamente dessa necessidade, dando protagonismo a quem muitas vezes não tem voz: os adolescentes e os professores.
Com diálogos profundos e reveladores, promove um olhar crítico sobre a escola e a sociedade, incentivando a reflexão sobre temas urgentes tais como: discriminação, saúde mental, redes sociais e participação cívica. Esta é uma autêntica plataforma de escuta ativa, onde a partilha de experiências pode inspirar novas formas de agir e pensar.
Enquanto cidadã e mãe, cada episódio foi para mim uma verdadeira aprendizagem, pela forma honesta e sincera com que cada convidado aborda os temas e a inteligência das perguntas da Catarina Furtado, que consegue criar o ambiente certo para que as partilhas aconteçam naturalmente. Fazia falta um podcast assim em que conseguimos compreender a forma de pensar e sentir dos adolescentes, os seus desafios, dores e alegrias. Eu diria que, em mim, há um antes e um depois de ouvir os episódios de “Ponto de Luz”, razão pela qual decidi conversar com a Catarina sobre este projeto.

Um conversa com Catarina Furtado sobre “Ponto de Luz”:
1. Como surgiu a ideia para este projecto?
«A ideia para este podcast/videocast surgiu pelo facto de eu fazer muitas palestras pelo país inteiro em escolas secundárias sobre inúmeras temáticas dos Direitos Humanos, onde no final tenho um momento a que chamo “Cantinho dos Desabafos”, no qual os adolescentes, individualmente, me contam os seus problemas. Com o lançamento do meu livro “Adolescer é fácil, #sóquenaõ” também mergulhei muito neste universo e percebi que nós, adultos, não nos debruçamos o suficiente sobre esta etapa da vida: a adolescência. Eles e elas, de facto, não são ouvidos e foram a geração mais penalizada, emocionalmente, pela pandemia do COVID.»
2. De que forma “Ponto de Luz” contribui para dar voz aos adolescentes e professores no debate sobre Direitos Humanos e Educação?
«Promovendo uma conversa aberta, sem filtros, nem censuras entre alunos adolescentes de todo o país, maioritariamente de escolas públicas, mas também privadas e profissionais, e professores especiais. Ambos não se conhecem e partilham a sua opinião, nomeadamente sobre o que gostariam que mudasse na escola para que contribuísse determinantemente para a formação de cidadãos e cidadãs mais empáticos, responsáveis, participativos, com uma cidadania activa e inclusiva e onde a violência não deveria existir. Discutem e defendem a importância da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento (e como não deverá ser encarada como tabu!) na sua educação e refletem o papel da Escola actual.»
3. Qual a importância de promoveres conversas entre alunos e professores que não se conhecem? De que forma isso impacta a discussão dos temas abordados?
«Porque desta forma a conversa não está condicionada por um contexto comum, e a liberdade e a diversidade da partilha de opiniões são maiores. Acredito que assim eu possa contribuir melhor para um retrato mais real daquilo que se passa nas escolas e o que pensam professores e alunos. Os adolescentes pertencem à faixa etária que menos é levada a sério e eu quis mesmo dar-lhes o microfone. Por outro lado, também quis homenagear os professores especiais, que fazem a diferença e que tantas vezes salvam vidas. A minha mãe foi uma dessas professoras. Esta profissão também está sempre muito debaixo de fogo.»
4. A educação sexual, a igualdade de género e a saúde mental são alguns dos temas abordados no podcast. Quais as mudanças que pretendes impulsionar na sociedade ao apelar a estas reflexões?
«Pretendo essencialmente combater a desinformação e contribuir para desfazer muitos mitos, destruir estereótipos e preconceitos que só prejudicam a saúde mental e emocional dos nossos jovens. Quero ajudar a que conheçam os seus direitos, que tenham relações mais saudáveis e que sejam pessoas com uma pegada de justiça, de solidariedade, de empatia no país e no mundo. Quero contribuir para diminuir os números vergonhosos de violência no namoro, de abusos, de assédio, de não consentimento, de bullying com base e tantos pressupostos errados como a orientação sexual ou identidade de género. Quero ajudar a espalhar os valores humanistas onde cada pessoa se sinta confiante, informada, dona da sua vida e das suas escolhas, e onde a desigualdade de género seja cada vez mais esbatida.»
5. O nome do podcast foi inspirado num tema da nossa querida Sara Tavares. Porquê esta escolha? Que mensagem pretende transmitir?
«É uma escolha óbvia para mim pelas saudades que tenho da Sara; pela primeira imagem que me vem à cabeça da Sara, uma adolescente, na altura do “Chuva de Estrelas”, com 16 anos e porque esta música transmite esperança. O meu podcast tem a ambição de melhorar o que não está bem na nossa Educação formal.»
6. De que forma é que os testemunhos que podemos ouvir no podcast podem inspirar jovens, professores e a sociedade em geral?
«Acho que por ser um espaço que até agora não existia e num formato original, tem a grande vantagem de promover a discussão, a reflexão e, nesse sentido, pode ter a força de sair das plataformas e semear nas escolas. O feeedback que tenho recebido tem sido mesmo fantástico! O apoio da Missão Continente, que tem muitos projectos sociais, foi absolutamente determinante para a implementação destas duas séries de 6 episódios cada.»