Os riscos dos padrões de beleza

Joana Gentil Martins // Agosto 22, 2024
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padrões de beleza
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Já alguma vez deste por ti a pensar “gostava de ter aquele corpo?” ou “gostava que o meu corpo fosse mais desta ou daquela forma?” seja isso mais magro, mais largo, mais alto, mais fino, com menos celulite, menos flacidez ou outras características que hoje os padrões dizem “incorretas”? Ou até mesmo, já pensaste que não és suficiente e que precisas de mudar para corresponder a estes padrões? Provavelmente já. Muitas mulheres passam por isso ao longo da vida. Comparações com outras mulheres pelo seu corpo, pela sua idade, carreira, relacionamentos, vida no geral e ainda com o padrão de beleza geral. 

Sabias que 8 em cada 10 mulheres sofrem devido ao padrão de beleza? 80% das mulheres!

Por um lado, não te sintas sozinha, é algo que infelizmente acontece por este padrão de beleza ser perpetuado constantemente. Por outro, há riscos de olharmos para estes padrões de beleza como certos. Porque eles não são certos. 

Lê com atenção: Não há um corpo ideal, uma beleza ideal. Todas as pessoas são bonitas, e para serem ainda mais bonitas há um segredo: começar por dentro. A verdadeira beleza está em como somos, connosco e com os outros. Mas então, quais são os riscos destes padrões de beleza?

O primeiro risco que te quero falar tem a ver com o indicador de saúde mental mais importante: a autoestima! Olharmos para os padrões de beleza como certos tem um grande impacto na autoestima e na autoimagem, desde crianças! Muitas pessoas, especialmente jovens adolescentes, podem sentir que não correspondem aos padrões de beleza idealizados, levando a que desenvolvam uma baixa autoestima e uma autoimagem negativa que se mantém ao longo da vida se não existir nenhuma intervenção consciente. Ao sentirem que o que vêem ao espelho é diferente deste padrão de beleza “ideal” podem ter sentimentos de inadequação, insegurança e vergonha. 

O que nos leva a outros riscos como o desenvolvimento de perturbações de ansiedade e/ou depressão e ao desenvolvimento de perturbações do comportamento alimentar (por exemplo: bulimia nervosa, anorexia nervosa, etc.), pela pressão de tentar alcançar estes corpos considerados “perfeitos”. 

Ainda, como riscos, temos o facto de algumas pessoas, principalmente se pouco informadas, recorrerem a comportamentos perigosos nesta tentativa de alcançar os padrões de beleza como dietas extremas, uso de suplementos não regulamentados que viram na Internet como “milagrosos”, procedimentos estéticos invasivos, entre outros. E para além de todos os riscos que nos causam a nível individual, também causam a nível das nossas relações. 

Quanto menos gostarmos do nosso corpo, da nossa imagem, de quem somos no exterior, maior a tendência de nos isolarmos e criarmos menos relações positivas ao nosso redor. 

É de facto um perigo considerarmos os padrões de beleza certos! Mas fica ainda uma questão: para quê? 

Para quê acreditar que há um corpo perfeito, se esse corpo perfeito muda todas as décadas? Sabias que o padrão de beleza ideal vai mudando? 

É verdade. O que hoje as mulheres tentam igualar, há uns anos atrás era diferente. E daqui a uns anos será diferente novamente. Para te dar alguns exemplos, já foi considerado o corpo ideal de mulheres o corpo com obesidade que representava fertilidade e abundância, o corpo com muitos músculos (“corpo de atleta”) e sem bronze, o corpo bronzeado, o corpo com curvas e ancas largas, o corpo sem nenhuma curva, alto e muito magro. Também nos cabelos existem mudanças; já foi considerado mais belo o cabelo comprido, o cabelo curto, o cabelo natural e o cabelo pintado. 

padrões de beleza

Esta mudança de padrões de beleza é influenciada por diversos fatores, incluindo a moda, a mídia, a indústria do entretenimento e as mudanças nos valores sociais. Mas repara: não é influenciada pelo teu valor enquanto pessoa. 

Tu tens valor enquanto pessoa por seres quem és, não por encaixares num padrão de beleza.

Um exercício muito interessante e que te irá ajudar a estimular a tua visão para além do exterior é pensares nos elogios que são feitos. Seja para os outros, seja o próprio auto-elogio. Mesmo com boa intenção acabamos por comentar o corpo ou a beleza exterior de alguém. Dizemos elogios como “és tão linda”; ou “adoro o teu cabelo hoje”; ou “ficas muito gira nesse vestido”. Neste exercício quero convidar-te a pensares em elogios que não necessitem do exterior. Imagina que não conseguirias ver (como se o mundo fosse cego), como elogiarias alguém ou a ti mesma? Vê alguns exemplos, e após refletires, completa com os teus também. Depois coloca em prática e avalia como as pessoas reagem. Coloca em prática também para ti mesma.

Exemplos de elogios que não dependem do corpo:

  • És inspiradora! És bondosa, és generosa, és gentil,…
  • Gosto muito de estar contigo!
  • Tens uma simpatia que irradia.
  • Obrigada por seres como és.
  • Adoro o facto de seres tão dedicada, continua!
  • És super divertida! Fico logo bem disposta quando estou contigo!
  • Tens uma criatividade fantástica!
  • Tenho muito orgulho em ti!
  • Eu admiro a tua autenticidade, é tão importante!
  • Sou grata por te ter na minha vida.
  • Tu inspiras-me a ser alguém melhor todos os dias.

E para além deste exercício, gostava de deixar outro, para te ajudar a criar uma melhor relação com o teu corpo, sem que queiras mudá-lo ou pressioná-lo, a ele e a ti, para atingires o padrão de beleza. Chama-se “Carta de Amor e Compaixão ao meu corpo”.

Exercício: “Carta de Amor e Compaixão ao meu corpo”

Para realizar este exercício vamos utilizar a Autocompaixão. Este não é um exercício fácil, nem direto, pois irei pedir-te que olhes, reflitas e fales para o teu próprio corpo, corpo esse que temos tendência a olhar de forma rápida e a não observar com carinho. Por vezes pela correria do dia, por vezes para não nos confrontarmos com o que não estamos a apreciar ou o que nos é doloroso. Mas gostava que começasses por tentar observar, escrever e depois, se te fizer sentido, ler em voz alta, ao teu ritmo.

  1. Antes de iniciares a carta, com as instruções que te darei, gostaria que fizesses uma reflexão sobre cada coisa que o teu corpo faz por ti. O que ele te permite fazer? Porque ele é importante? (exemplos: permite caminhar, respirar, comer, abraçar, dançar, rir, …). Por norma quando falo em “corpo” e “relação com o corpo” as pessoas associam à apreciação física do corpo, à imagem e se está ou não nos critérios da sociedade que falámos anteriormente. Mas o nosso corpo tem várias funções. Convido-te a refletires sobre elas.
  2. Agora que já tens em mente o que o teu corpo faz por ti e tudo aquilo que te permite fazer, vamos avançar para a carta de Autocompaixão ao teu corpo. Este exercício é adaptado do exercício de Neff e Germer (2018).
  3. Sei que não é fácil olharmos para o nosso corpo com gentileza e carinho, principalmente quando levamos anos a tratá-lo com vergonha, medo ou crítica. Também sei que somos influenciadas pela sociedade em que vivemos e os padrões irrealistas que falámos anteriormente pesam na relação com o nosso próprio corpo. Mas é importante tratarmos o nosso corpo com amor, tendo gratidão por tudo aquilo que nos permite fazer e sabendo que ele é muito mais do que uma aparência física, imagem ou padrão. O melhor padrão é aquele que nós criamos. 
  4. Vamos, então, iniciar a carta. Poderás escrever no teu livro ou num papel à parte, como te sentires mais confortável:
  • Instrução 1 – Tira um momento para observares o teu corpo. Há quanto tempo já não o fazias? Olhar com carinho, sem julgamento, um olhar de descrição. Se tiveres um espelho de corpo inteiro seria o ideal, mas se não, poderás ir observando parte a parte.
  • Instrução 2 – Agora descreve as partes e características do teu corpo que mais gostas. Tenta ser o mais descritiva possível. Para te dar um exemplo, tinha um caso em que a menina que acompanhava gostava dos seus lábios e do seu sorriso, mas não dos seus dentes. Inicialmente tinha escrito “não gosto do meu sorriso”, mas quando foi mais descritiva, com mais pormenor, percebeu que gostava de tudo do seu sorriso, da forma das bochechas, de como ficavam salientes as maçãs do rosto, do formato dos lábios… Só não gostava dos dentes. Tenta fazer esta descrição o mais detalhada possível sem generalizações. Permite-te apreciar o teu corpo.
  • Instrução 3 – Agora descreve as características ou partes das quais não gostas tanto. Todos temos características e partes do nosso corpo que não apreciamos tanto, é importante identificarmos mas não lhes darmos mais importância do que às que apreciamos.
  • Instrução 4 – Reflete sobre se a insatisfação corporal é algo que mais pessoas sentem? Sentes que não estás sozinha? 
  • Instrução 5 – Por último, dá a ti mesma compaixão pelas características que não aprecias, escrevendo palavras bondosas e de amor dirigidas ao teu corpo. Se estiver muito difícil pensar em palavras carinhosas, pensa no que dirias a alguém que amas e aceitas incondicionalmente, e que estivesse insatisfeito com uma parte do seu corpo. 

Nós, individualmente, não podemos mudar o padrão de beleza, mas o que podemos fazer para minimizar estes riscos?

  • Apostar na educação sobre os padrões: Tal como fizemos neste texto; Falar, ensinar sobre a diversidade dos corpos, das mudanças que os padrões sofrem e desafiar os ideais de beleza irrealistas (porque, sim, muitos são irrealistas de alcançar naturalmente);
  • Incentivar a procura de apoio psicológico: Se sentires que sofres com questões de autoimagem e autoestima, ou outras questões do foro mental, deves procurar ajuda especializada, e caso seja alguém que conheces que esteja a sofrer, incentivar que procure essa ajuda;
  • Trabalhares na tua Autoaceitação e Amor-próprio: Valorizando as tuas qualidades, talentos, comportamentos, valores além da aparência física. Porque acredita: tu és muito mais do que está ao espelho. E: tu consegues!

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