Quantos dias acorda já com vários pensamentos e preocupações? Tem o hábito de pegar no telemóvel mesmo antes de se levantar da cama? Tem consciência do que sente ao ver e ouvir tudo o que recebe de informações de marcas, vidas privadas e percursos profissionais? Teremos consciência do impacto de todos estes conteúdos na nossa saúde mental? Consegue perceber a tristeza? A alegria? A satisfação e/ou a insatisfação? O rancor? A empatia? A ansiedade que podem causar?
Nas suas rotinas, quando sai de casa, está mais ligada/o ao mundo exterior ou consegue parar e organizar o seu dia? É uma pessoa que mantém a sua atenção no passado, no futuro ou consegue viver no seu presente?
Como se sente com as novas tecnologias? A emergência da inteligência artificial? Já parou para pensar? São uma ameaça ou um desafio?
Face a estas questões não existem respostas certas, “receitas únicas” para o bem-estar de cada um, permita-se a ler as próximas linhas, retire o que lhe fizer sentido e encontre “o seu tamanho” para se adaptar a este novo mundo.
O mundo está diferente. A rapidez com que se vive parece diferente.
Só quando nos permitimos parar, ou como a Fátima reforça no título do seu livro “Atreve-te a abrandar”, é que nos apercebemos da velocidade com que estamos a viver atualmente. Um mundo em constante mudança, imprevisível que afeta as nossas vidas sem darmos conta, que requer estratégias cognitivas e comportamentais para nos adaptarmos de forma saudável.
Parece algo recente, mas não, desde 1990 que existe o conceito “VUCA” forjado para cenários de guerra de grande imprevisibilidade, no final da guerra fria. Este acrónimo surge das várias estratégias que as forças armadas adquiriram perante a Volatility (Volatilidade), Uncertainty (incerteza), complexity (complexidade) e ambiguity (ambiguidade) das forças inimigas. Na nossa vida podemos estar perante um cenário semelhante sem nos darmos conta.
A velocidade com que as novas tecnologias nos rodeiam força-nos de forma inconsciente a estar, a ser e a fazer. O excesso de informação produz uma fome de saber e de múltiplos estímulos que exigem de cada um novas estratégias de autorregulação.
Surge neste contexto digital, acelerado pela pandemia, um novo acrónimo BANI, criado por um antropólogo norte-americano Jamais Cascio. Perante tantas mudanças esta sigla refere-se ao novo mundo. Brittle (Frágil), Anxious (Ansioso), Nonlinear (não linear) e Incomprehensible (incompreensível).
Como psicóloga, alerto para a necessidade de cada um trabalhar uma nova consciência sobre este “novo mundo” e deste modo tornar mais fácil o processo de adaptação.
A qualquer momento, a ansiedade surge como uma emoção normal e que, cada vez mais, deve ser respeitada e gerida como tal. A necessidade de planear a curto/médio prazo perante a incerteza e a forma como gerimos a informação e a literacia podem ser grandes ferramentas a ter no bolso. Ou seja, para sobreviver ao novo dia-a-dia podemos, em primeiro lugar, aumentar o nível de autoconsciência individual e relacional. Num segundo momento, podemos treinar a nossa atitude perante os problemas e encarar os mesmos como desafios e não como ameaças. Finalmente, não ter medo perante o incerto e atrevermo-nos a experimentar, treinando assim a agilidade e a flexibilidade mental e comportamental.
Não tenhas medo e sorri para a vida te sorrir.”
Perante estas mudanças, a minha proposta é aprender sem medos. Nunca foi tão necessário não recear errar! Tentem e voltem a tentar sem medo de serem julgados e criticados. Ao errar podemos ter consciência do que não queremos e que o caminho a levar não é aquele … não existe problema em recuar ou mudar de direção.
É preciso encontrar harmonia neste novo mundo.
Sugiro também investir no conhecimento tecnológico, não ter receio, aqui falo para as pessoas para quem as novas tecnologias ainda causam algum medo e assustam. Dou como exemplo os robots de cozinha. Não substituem os tachos e as panelas das avós, mas são uma ajuda, numa atualidade onde as prioridades são diferentes. Isto não significa que as refeições sejam piores ou melhores, são simplesmente formas diferentes de chegar ao mesmo resultado. Sejamos honestos, complicámos as nossas vidas e ao mesmo tempo desenvolvemos instrumentos e ferramentas para a simplificar. E tudo com o mesmo objetivo: encontrar harmonia neste novo mundo.
Estar preparado para o inesperado é fundamental.
Já pensaram que não controlamos a vida e nunca a controlámos? Neste novo mundo,esteja preparado para o inesperado. Para tal, quanto melhor estivermos organizados nas nossas vidas, melhor nos vamos adaptar ao imprevisível. Mas, é preciso ter em atenção que organização não significa controlo, mas, sim, planeamento.
Contribuir para o bem-estar coletivo.
Outra estratégia que considero de excelência é estarmos em colaboração uns com os outros, construir redes sociais, relações sólidas, cultivar a família e amigos. É necessário estar em conexão com quem nos identificamos e gerar mais valor individual ao criar laços fortes com quem criamos empatia. Apesar de todos sermos diferentes todos podemos contribuir para o bem-estar coletivo. Aceitar esta diversidade também pode ser algo a trabalhar neste novo cenário de maior globalização.
Neste novo mundo, não deixe de se colocar em primeiro lugar.
Faça um planeamento da sua vida, pense no que quer atingir, com foco e determinação, foque-se nos seus valores, nas suas crenças. Esta consciência pode ser das estratégias mais importantes para não perder o rumo neste mundo onde parece não existir limites e regras para o amanhã.