Chegados ao inverno, em Portugal refugiamo-nos mais em ambientes interiores. As festas natalícias e os meses frios e chuvosos que se seguem a isso convidam. Os passeios no exterior são geralmente trocados por permanecer mais horas no domicílio, e os parques e jardins são muitas vezes trocados por salas de espectáculos, cinemas ou grandes superfícies comerciais. E onde se reúne maior número de pessoas, especialmente em ambientes fechados, propiciam-se as condições ideais para a propagação de doenças infecto-contagiosas, especialmente as virais, predominantes nesta época do ano. E, no caso dos olhos, as conjuntivites virais têm um grande aumento de prevalência nesta estação do ano.
As conjuntivites virais têm um grande aumento de prevalência nesta estação do ano.
Estas podem ser transmitidas mais frequentemente pelo contacto mão-olho. As pessoas ao tocarem numa superfície contaminada por um doente, como, por exemplo, uma porta, um botão de elevador, um terminal de pagamento automático, e depois ao levarem as mãos aos olhos, gesto tantas vezes inconsciente, são elas próprias agentes de transmissão.
Transmissão por aerossóis
Outra das vias de transmissão frequente é por meio de aerossóis das vias respiratórias, em que os vírus são propagados pela fala, pela tosse ou pelos espirros de uma pessoa com quem tenhamos contacto. Além destes aerossóis poderem causar uma infecção respiratória alta ou baixa, podem também causar conjuntivites. Não é raro o doente com conjuntivite viral apresentar-se também com uma dor de garganta ou com uma “constipação”.
“Então, como prevenir as conjuntivites virais?”
Para prevenir estas situações, é importante desde logo evitar a auto-manipulação dos olhos e pálpebras, fazer uma higiene regular das mãos, promover o distanciamento social ou adoptar cuidados extra com quem se apresente com uma conjuntivite (evitar cumprimentos com mãos, beijos, partilhar toalhas, almofadas, maquilhagem, etc.) e, nas situações em que este não seja possível, promover o arejamento regular das divisões da casa para diminuir a carga viral em suspensão.
Síndrome de olho seco e blefarites no inverno
Relacionado com o aumento da auto-manipulação dos olhos, estão os sintomas provocados pela síndrome de olho seco e pelas blefarites (inflamações das pálpebras, também interdependentes da síndrome de olho seco). O agravamento do olho seco no inverno é geralmente causado pelo aquecimento das habitações (radiadores, lareiras, equipamentos de ar-condicionado) e pelo uso de desumidificadores, que levam ao aumento da evaporação da lágrima. Também no exterior, o vento é causa importante para a evaporação da lágrima, e quando o vento é frio, torna-se extremamente desconfortável a sua baixa temperatura em contacto com a superfície ocular seca. Por isso mesmo muitas pessoas referem que com o vento frio têm um aumento do lacrimejo: trata-se de um lacrimejo reflexo, uma tentativa de resposta excessiva do nosso organismo para tentar “acalmar” a superfície ocular irritada.
Dicas para reduzir os sintomas de olho seco
Para diminuir as queixas de olho seco, é importante o recurso a lágrimas artificiais sem conservantes, mais ou menos viscosas, e adoptar outras medidas simples mas que também podem ajudar:
- reforçar a hidratação do corpo com água ou bebidas não-alcoólicas;
- usar óculos no exterior em dias de vento e frio (como efeito de barreira física);
- uso de compressas humedecidas em água quente durante uns minutos sobre as pálpebras fechadas ou mesmo uso de dispositivos que libertam calor ou calor húmido sobre os olhos.
Também aqui se torna importante promover uma ventilação ocasional das divisões de casa ou do local de trabalho, abrindo as janelas para permitir que o ar seco do interior se misture um pouco com o ar mais húmido do exterior.
Protecção dos olhos na neve
Por fim, embora, e infelizmente para muitos de nós, Portugal não seja local frequente de queda de neve, sempre que possível, muitos portugueses não resistem a tentar uma visita a locais com neve, no nosso país ou no estrangeiro. Para esses, o melhor conselho oftalmológico que posso dar é o uso de óculos de sol, com protecção adequada contra radiação ultra-violeta sempre que se encontrarem no exterior, dado que, até mesmo em dias de alguma nebulosidade, os raios UV são altamente reflectidos na superfície da neve branca ou no gelo (mais do que até na areia clara da praia). Caso contrário, pode-se incorrer numa situação de fotoqueratite a raios UV, em que estes provocam pequenas lesões na superfície da córnea, na superfície mais exposta do olho (embora esta seja a lesão aguda mais frequente, não podemos esquecer os efeitos nefastos da radiação UV a longo prazo no cristalino, podendo, por exemplo, acelerar o aparecimento de cataratas, ou na retina).
Importância das actividades ao ar-livre
Um apontamento final: hoje em dia sabemos que o grande aumento da prevalência de miopia em crianças e jovens está inversamente relacionado com o número de horas que estas passam no exterior. Por isso, um conselho final: apesar de não ser a melhor altura do ano para tal, é importante manter hábitos de ter actividades ao ar-livre, mesmo que simples, como pequenos passeios ou fazer pequenas refeições no exterior sempre que o clima o permita, e tentar restringir o uso de equipamentos electrónicos como smartphones ou equivalentes que geralmente “prendem” os mais novos (e não só) em casa.