Vivemos num lindo país, Portugal, este pequeno rectângulo de terra e suas ilhas, beijado por mais de 800 quilómetros de Atlântico e com mais de 3000 horas de sol por ano. Contudo, a exposição solar e as suas radiações ultravioletas, potenciadas, por exemplo, pela reflexão proporcionada nas nossas praias de areia clara e de mar azul, pode trazer consequências nefastas para a nossa saúde ocular. É isso, e as suas soluções, que vamos explorar nos próximos parágrafos.
A exposição dos olhos a raio ultravioletas, tal como acontece com a pele, o maior órgão do corpo humano, é fonte de danos; Não esquecer que quando falamos em mecanismos de proteção para os olhos, estamos igualmente a falar de proteção para a pele, nomeadamente para a pálpebra, local tão frequente de patologia provocada pelas radiações UV.
Os danos provocados pelos UV, apesar de poderem causar patologia aguda, são cumulativos, as mutações a nível da expressividade do material genético vão-se acumulando e proporcionam a mutação celular; daí a importância de proteger adequadamente desde a infância. Estima-se que até aos 20-30 anos já se tenha cumprido metade da exposição solar total que iremos alcançar ao longo da nossa vida, com a agravante que nessas idades o cristalino, estrutura transparente no interior do nosso olho e que quando opacifica origina a catarata, ainda é transparente e, portanto, os UVA podem alcançar facilmente a retina. Para isso contribuem fortemente as actividades realizadas ao ar-livre até essa faixa etária.
Quais são as lesões oculares mais frequentemente associadas aos efeitos nocivos dos UV?
As lesões oculares mais frequentemente associadas aos efeitos nocivos dos UV são os tumores da pálpebra e da conjuntiva, a fotoqueratite aguda associada à exposição aguda à luz solar em ambientes como a neve ou no mar, o pterígio que evolui lentamente e silenciosamente, a catarata que vai ser responsável por perda de visão e a doença macular da retina, que pode assumir uma forma aguda e uma crónica, ambas responsáveis por perda de visão central, muitas vezes irrecuperável. Estas duas últimas patologias geralmente são causadas pelos UVA, dado que os UVB sendo filtrados pela córnea se associam mais a patologia palpebral e da superfície ocular.
À medida que a camada de ozono diminui, e isto é mais importante em determinadas latitudes, a capacidade dos raios UV serem retidos por esta camada também diminui. Vamos encontrar essencialmente os raios UV de maior comprimento de onda, os UVA e os UVB, dado que uma fina camada ozono ainda vai conseguindo reter os UVC. Podemos assim assumir que as lesões oculares são provocadas essencialmente pelos UVA e UVB, e que as nuvens podem não contribuir para a filtração dos raios UV que atravessaram a camada de ozono (por motivos físicos algumas nuvens podem inclusivamente ainda aumentar a quantidade de UV que atingem a superfície da Terra).
As lentes de sol e as lentes brancas devem assegurar uma protecção de 99%-100% para radiação até aos 400 micras. Devem portanto bloquear virtualmente a totalidade da radiação Ultravioleta e permitir a passagem da radiação visível para um adequado conforto visual. Essa indicação deverá estar disponível nos óculos ou lentes. Óculos de sol caros de designer ou lentes polarizadas não são, necessariamente, uma garantia de eficácia contra os raios UV.
Devemos usar óculos de sol?
Do ponto de vista prático, ao utilizarmos barreiras físicas como os óculos de sol, estamos a reduzir de forma imediata a patologia oftalmológica (pense-se em alguém que vai para a neve ou para meio do mar, fontes de enorme reflexão dos raios UV, e aí permanece sem protecção ocular solar durante umas horas; a instalação de uma fotoqueratite aguda com dor é altamente provável); Por outro lado estamos a proteger a longo prazo, evitando os tumores das pálpebras, as cataratas e até doenças da retina até ao momento incuráveis.
A exposição indirecta aos raios ultravioletas é uma fonte de dano que não é muitas vezes valorizada. Ambientes como a neve, mesmo no inverno e portanto com menor irradiação solar, a areia da praia, as extensas superfícies de água como o mar ou os lagos, calçada e casas de paredes exteriores brancas comportam-se como potentes fontes indirectas de radiação UV. Uma outra fonte de irradiação indirecta, que não é desprezível, podendo chegar a 30% do total, é a superfície posterior dos óculos graduados que possuem revestimento anti-reflexo. Estas camadas anti-reflexo impedem a reflexão dos raios luminosos visíveis, aumentando o contraste e a nitidez dos objectos, contudo se não estiverem preparadas para impedir igualmente a reflexão dos UV podem ser fonte considerável de radiações nocivas.
Tal como acontece com a pele, inclusivamente com a pele palpebral, as estruturas oculares das crianças são mais imaturas. E estruturas imaturas e mais transparentes são mais susceptíveis ao dano, quer agudo, quer cumulativo. Portanto, e assim como uma criança que passe bastante tempo ao ar-livre deve usar protector solar para evitar as queimaduras solares no momento e os tumores de pele no futuro, deve considerar-se o uso de óculos com protecção solar para evitar os danos oculares agudos e de longo prazo. A prevenção de lesões a longo prazo são ainda mais importantes ao considerarmos o constante aumento da esperança média de vida nas nossas sociedades ocidentais. Todos queremos que os nossos filhos vivam mais, mas com mais qualidade.
As crianças com exposição solar significativa (que passam períodos de férias na praia, que frequentam estâncias de ski, que mesmo junto do domicílio passam muitas horas a brincar ao ar-livre ou em parques públicos) devem ser consideradas para uso com óculos de protecção solar durante essas ocasiões.
Uma importante diferença no que diz respeito à protecção cutânea, consiste em que o período de maior exposição ocular à radiação UV não é necessariamente o meio do dia, dado que por motivos anatómicos de localização dos globos oculares no crânio, uma percentagem muito significativa dos UV que atinge os olhos ser reflectida de outras superfícies, portanto a protecção ocular deve acontecer mesmo quando o sol está mais baixo no horizonte. E, muito importante, não devemos esquecer os chapéus com aba ou pala, que permitem logo à partida reduzir a incidência de radiação UV em 50%. Estes dois acessórios têm ainda a vantagem de serem geralmente muito bem aceites esteticamente pelas crianças.
Para avós, pais e netos, os conselhos são semelhantes.
O risco pode ser reduzido com óculos com protecção ocular, preferencialmente justos à face para impedir a entrada de raios solares e para diminuir a sua reflexão na face posterior da lente. A cor das lentes deve ser adequada individualmente ao uso que se vai fazer das mesmas: mais claras para a condução, mais escuras para a praia ou neve, de tom mais amarelo para actividades como a caça ou a pesca, dado que aumentam o contraste. É igualmente importante considerar que mesmo que se usem lentes de contacto com protecção UV, estas não vão evitar as lesões nas pálpebras e na conjuntiva, tão frequentes no nosso país.
Por fim, há que alertar para que o uso de lentes de sol não certificadas podem causar mais danos aos olhos do que não os usar.
Isto sucede porque estas lentes escuras fazem com que as pupilas dos olhos se dilatem, deixando passar mais raios UVA que danificarão os cristalinos e a retina. São totalmente contra-indicadas tanto em crianças como em adultos.