Como identificar uma amizade tóxica?

Diana Gaspar // Julho 17, 2025
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amizade tóxica
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Se há relações que nos fazem bem e que nos dão outro tipo de alento na vida são as amizades. Ter um bom amigo, ou um grupo de bons amigos, é uma lufada de ar fresco numa vida de verões quentes e um aconchego nos dias em que nos sentimos desprotegidos e com frio. Os amigos são colo, suporte, alegria, companhia, uma boa gargalhada e uma saída até de madrugada. Amigos também são verdade, aliás, não há boas amizades sem boas doses de verdade e autenticidade, e isso significa que um amigo também é aquele que partilha uma vida, perspetivas e opiniões com empatia, respeito e carinho. E se uma boa amizade prolonga a vida, uma má amizade tira-a na mesma medida. 

Sabemos que uma má amizade se pode desenhar numa relação tóxica, podendo trazer consequências físicas, emocionais e mentais muito negativas para os envolvidos. 

Relatos de dores de cabeça, barriga, ansiedade, tristeza, medo, estão na lista de sintomas que a maior parte das pessoas manifesta quando está a viver uma amizade abusiva, e, por isso, tóxica. 

Mas, afinal o que é uma amizade tóxica? 

Uma amizade tóxica pode ter várias manifestações e expressões, mas assume geralmente algumas manifestações como os exemplos que a seguir descrevo: 

  • a sensação constante de competição (se está sempre a competir com o seu amigo ou sente que ele está sempre em competição consigo em relação a tudo o que fazem, têm e são);
  • um dos elementos assume uma postura mais agressiva e de superioridade acabando o outro por assumir uma posição de vítima e um papel de inferioridade;
  • presença de crítica constante que pode ser feita à frente de outros amigos e pessoas;
  • comunicação agressiva, indelicada e com adjetivos muitas vezes inadequadas (burro, feio, desadequdado, gordo, desajeitado, incompetente, etc.), sendo apresentada como uma forma de estar verdadeira, sincera e honesta;
  • As necessidades de uma das pessoas são sempre mais importantes do que as da outra. Há sempre uma presença mais egocêntrica por um dos elementos, fluindo a conversa sempre mais em função de uma das pessoas do que da outra;
  • relação percebia como muito absorvente e intensa, e como se os assuntos da relação vivessem só em função de um dos elementos;
  • o investimento na relação pode não ser igual, havendo a sensação que há uma pessoa que investe e se organiza mais em função da relação e das necessidades do outro, do que a outra;
  • presença de algum tipo de violência física e verbal;
  • medo de dar a opinião ou de partilhar uma ideia ou experiência por parte do elemento mais frágil e vulnerável;
  • aquilo que se dá parece estar sempre envolvido em algum tipo de cobrança entre o que seu dá e o que se recebe;
  • quem assume a posição de maior liderança na relação assume que a sua vida e os seus problemas são sempre mais complicados e difíceis do que os do outro;
  • no caso de existir um amigo em comum, quem assume uma postura de superioridade e, por isso, abusiva, tenta sempre excluir o mais vulnerável e frágil;
  • raramente há comentários ou elogios ao sucesso e às conquistas do amigo.

Há vários tipos de manifestações podendo uma relação de amizade ter um ou mais do que um dos tópicos anteriormente partilhados. De todo o modo, na dúvida, e como costumo dizer aos meus pacientes, se não tiver certeza se está numa amizade tóxica perceba como fica o seu corpo antes e após estar com esse amigo. O corpo às vezes é mais sábio do que a nossa mente e sistema de avaliação. Há uns tempos uma paciente verbalizava que sentia medo de dar a sua opinião a uma amiga porque se sentia criticada e com dor de cabeça sempre depois de estar com ela. Se dúvidas houvesse, o corpo estaria a dar as respostas necessárias.

A maior parte das relações tóxicas não o são no seu início.

Isto acontece porque uma grande parte das vezes a pessoa com o perfil abusivo e de superioridade se apresenta como uma pessoa simpática, afável e disponível e a pessoa com um perfil mais frágil e de vítima, com maior necessidade de dizer a tudo que sim, desejabilidade elevada e necessidade de sentir que gostam de si. Junta-se desta forma “a fome à vontade de comer”. Tal como em outro tipo de relações afetivas, há quase sempre um período inicial onde pode parecer tudo perfeito, e uma amizade para a vida.

É possível protegermo-nos deste tipo de relacionamentos tóxicos?

Costumo dizer que pessoas com comportamentos tóxicos e perfis abusivos podem todos os dias chegar às nossas vidas, mas que só ficam aquelas que deixamos ficar. Assim, acredito que há tanta responsabilidade em que agride, de como em que se deixa agredir, reconhecendo claro, que alguns de nós estarão mais aptos a defenderem-se do que outros, e assim sendo, precisamos todos de aprender a libertarmo-nos deste tipo de relacionamentos

Normalmente o amigo com o perfil abusivo e tóxico é tão auto-centrado que pode ser quase incapaz de ser empático e de ter autoconsciência dos seus comportamentos e necessidades. Por outro lado, há no amigo mais vulnerável e frágil uma necessidade de ajudar e servir que o torna mais permeável a este tipo de relacionamentos. Daí a importância extrema, de nos educarmos a treinar limites respeitosos. 

As boas pessoas dizem que não e precisam de desenvolver a capacidade de se respeitarem tanto a si, como respeitam os outros. Desta forma estará  mais capaz de se proteger deste tipo de relações e amizades. Por outro lado, também sabemos que as pessoas com mais tendência a manterem uma postura mais frágil e de inferioridade nos relacionamentos, são maioritariamente pessoas que não se valorizam e que acreditam que ninguém gosta delas. Existindo esta crença, mais vale uma relação abusiva do que ficarem sozinhos para o resto da vida, acreditam eles. Este tipo de verbalizações são muito comuns de ouvir na minha prática profissional.

Se o leitor se mantém e algum tipo de amizade tóxica recomendo que trabalhe a sua auto-estima, que aprenda a valorizar-se e que aprenda a gostar de si. Tem o direito de criar na sua vida relações saudáveis, de respeito e de verdadeira amizade. Se está numa relação tóxica e sente que é agressor, perceba que a sua fragilidade é tão grande como a do amigo que agride. Quando estamos bem connosco e acreditamos no nosso valor não temos necessidade de tratar mal quem quer que seja para nos sentirmos melhor e mais seguros. 

Crie uma realidade diferente para si

Se está numa relação tóxica e sente que se coloca como vítima, perceba que a única forma de deixar de o ser é aprender a respeitar-se e que o seu valor não é proporcional aos sins que diz e à aceitação que precisa por parte dos outros. Aprenda a valorizar-se e a respeitar-se. Dessa forma mais ninguém vai abusar de si. Reconheça o que aprendeu sobre si através dos seus relacionamentos, reconheça também o que sente e perceba o que quer e o que não quer para a sua vida, com a certeza que não mudando ninguém, pode sempre mudar-se a si próprio e criar outro tipo de realidade interna e externa. Acredito que a qualidade das relações que vive também é proporcional à relação de qualidade que tem consigo mesmo.

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