A adolescência era tradicionalmente vista como o período de transição entre a infância e a idade adulta, mas atualmente é mais considerado um período de múltiplas transições. Este período de transições, uma espécie de segundo nascimento, é uma época em que o adolescente já não é uma criança nem ainda é um adulto, mas partilha de alguns dos desafios, privilégios e expetativas de ambas as épocas.
As alterações emocionais e comportamentais na adolescência e as perturbações mentais que ocorrem nesta fase evolutiva são, pela sua frequência, impacto social e dificuldade de tratamento, um problema importante para os Serviços de Saúde Mental.
Aproximadamente 20% dos adolescentes têm uma perturbação clinicamente diagnosticada. De entre as crianças e adolescentes que apresentam perturbações psiquiátricas apenas 1/5 recebe tratamento apropriado. Cerca de 50% das doenças mentais que se manifestam ao longo da vida têm o seu início na adolescência. É, portanto, essencial uma política de prevenção e informação desde a infância de forma a evitar algumas condições que levam à elevada existência de psicopatologia nesta faixa etária.
O normal e o patológico na adolescência:
- O que são considerados sintomas normais?
Surgem associados ao desenvolvimento psicológico da criança, tendo como características:
- São transitórios;
- Pouco intensos;
- Restritos a uma área da vida do adolescente;
- Sem repercussão sobre o desenvolvimento.
- O que são considerados sintomas patológicos?
- São intensos e frequentes;
- Persistem ao longo do desenvolvimento;
- Causam grave restrição em diferentes áreas da vida do adolescente;
- Com repercussão no desenvolvimento psicológico normal;
- Desadequados em relação à idade (por exemplo, ansiedade de separação dos adolescentes em relação aos pais);
- Associação de múltiplos sintomas.
Quais os sinais de alerta a que os pais devem estar atentos?
- Desinteresse por atividades que apreciava anteriormente;
- Alterações do sono ou apetite (em falta ou em demasia);
- Andar quase sempre irritado e agressivo;
- Isolamento social;
- Abuso de substâncias psicoativas (álcool, tabaco, cannabis, etc.);
- Pessimismo;
- Dificuldade em projetar-se no futuro;
- Pensar ou tentar-se auto-agredir ou suicidar;
- Humor deprimido ou irritável.
Que adolescentes estão mais em risco?
- Comportamentos disruptivos, como episódios de agressividade ou fugas de casa;
- Histórico de consumo de substâncias psicoativas;
- Antecedentes de abuso (físico, sexual ou psicológico);
- Vítimas de bullying;
- Exposição à violência, suicídio ou autolesão de terceiros.
Quais os tratamentos disponíveis para adolescentes em risco?
O tratamento dos adolescentes em risco e com sinais de alerta requer habitualmente intervenção psicológica (Terapia Cognitivo Comportamental, Terapia Familiar, …).
Se forem identificados sintomas patológicos, deve-se encaminhar para um médico Psiquiatra da Infância e da Adolescência que fará o diagnóstico e avaliará se é necessário associar psicofarmacologia. Dois princípios muito importantes a ter em conta quando se medica um adolescente são: só quando necessário e menos é melhor.
Estar atento e agir o mais rápido possível pode determinar o sucesso do tratamento.