Bullying e as suas consequências. Este é um tema que desperta muito interesse actualmente, mas que mais deveria despertar consciência e preocupação com a forma como os pais estão ou não a contribuir para o desenvolvimento e crescimento cerebral dos seus filhos. Sim, porque aqui reside a diferença entre ser ou não ser vítima e ser ou não ser agressor. A dimensão da gravidade do assunto remete, sem dúvida, para a necessidade urgente de mudança na forma de educar.
O que é o Bullying?
Caracteriza-se por agressões intencionais repetitivas, verbais ou físicas. Envolve ameaças, humilhação, intimidação, tirania, pressão, mau-trato e agressão. Pode acontecer em qualquer contexto social como em escolas, no seio da família ou no ambiente de trabalho e afecta emocionalmente e fisicamente a vítima. É um comportamento abusivo que advém da falta de crescimento e desenvolvimento cerebral promovido pelo abandono relacional.
O que leva as crianças e jovens a situações de Bullying?
Na maior parte dos casos o abandono relacional dos pais é o grande responsável e leva a que os jovens tenham estes comportamentos devido a um atraso na estruturação cerebral. A falta de envolvimento relacional dos pais com os filhos, a dificuldade de dizer “não”, de colocar limites e regras, e também a dificuldade em afirmar a sua autoridade alimentam esta lacuna mental e impedem o desenvolvimento cerebral que não acontece apenas pelo passar do tempo. A relação com os pais e com o desenvolvimento deles é essencial para os filhos se desenvolverem e crescerem. Sem envolvimento dos adultos no desenvolvimento do cérebro das crianças e jovens, o seu cérebro não cresce. Como tal, estes jovens são abandonados na construção da sua identidade e da sua personalidade. E, isto é válido tanto para as vítimas quanto para os agressores que apesar de saberem o que é certo e o que é errado, e de conhecerem os valores não têm a transformação cerebral necessária para saberem utilizar esses valores. Não sabem o que fazer com eles. O saber não faz a mudança. E, esta transformação cerebral só acontece na relação com os outros e neste caso dos pais, com a autoridade, com o “não”, com as regras e limites, com os afectos. E, isto, sim, transforma a anatomia do cérebro dos seus filhos para não serem nem vítimas nem agressores.
Como se pode proteger uma vítima de Bullying?
Aqui é importante que seja a própria criança ou jovem a posicionar-se e a defender-se, caso contrário os mais agressivos tenderão a manter os comportamentos desagradáveis e errados. Mas, não é suficiente dizer-lhe para ela de defender. É preciso que na relação afectiva com os pais haja uma preparação da sua personalidade para estruturar a insegurança, a auto-estima, o não ser assertivo, a imaturidade, a falta de autonomia. Mas, também ter a oportunidade de aprender treinando na vida real a relação com os outros amigos. Tal vai proporcionar a experiência necessária para gerir as frustrações e as agressividades com os outros. Só desta forma a criança ou jovem poderá desenvolver as áreas cerebrais apropriadas a não ser vítima nem agressor.
E, se o seu filho for o agressor?
É importante ter em mente que o comportamento agressivo faz parte da natureza humana e tem de ser corrigido. E, ter esta consciência deve permitir aos pais estarem atentos à forma como os seus filhos se relacionam com os outros, uma vez que são responsáveis pela sua educação. Se de uma forma agressiva, se agredindo-os. Têm assim a oportunidade de transformar estes comportamentos, ao transformar a anatomia do cérebro dos seus filhos. Para isso terão de lhes mostrar a sua zanga com estes comportamentos ao longo do tempo. Neste contexto é importante ter a força para mostrar a sua autoridade enquanto pais para que os filhos lhes reconheçam esta autoridade. Ou eventualmente, tomar uma atitude mais marcante como uma provocação emocional intensa que transforme o comportamento agressivo e que irá ter o impacto de fazer sentir e criar consciência, para que os filhos conheçam o sentimento negativo que provocam nos outros quando os agridem. Faz parte do papel de pais.
Ao nível das funcionalidades do cérebro, o medo e a aflição têm uma estreita e próxima relação com a aprendizagem por isso mesmo não é conversando que se chega à mudança dos comportamentos agressivos. Aprende-se fazendo conhecer e fazendo sentir. Educar é ajudar a transformar a anatomia do cérebro dos filhos e isso faz-se com atitudes e acções que nem sempre são fáceis de tomar.
Quais são as consequências do Bullying para a vítima?
Embora nem toda a criança ou jovem que é vítima de Bullying desenvolva consequências psicológicas que ficam até à vida adulta, é verdade que em muitos casos sem intervenção psicoterapêutica isto acontece.
As consequências podem passar por dificuldades de concentração e aprendizagem, baixo desempenho escolar, absentismo, tristeza, baixa auto-estima, medo, insegurança, isolamento, ansiedade, angústia, pânico, stress, sintomas psicossomáticos, desvalorização de si própria, auto-agressão, mudança abrupta de comportamentos, entre outras. No longo prazo e passando para a fase adulta poderão ter dificuldades de relacionamento, stress no trabalho, dificuldades em manter relações amorosas, baixa rendimento no trabalho, baixa auto-confiança e auto-estima, dificuldades na tomada de decisões e a lista poderia continuar. Por tudo isto vale a pena estar atento aos comportamentos dos seus filhos e agir em prol da sua saúde mental. Dá trabalho? Sim, ser pais dá muito trabalho!
Como podemos ajudar estas crianças e jovens?
Tanto do lado da vítima como do lado do agressor o melhor caminho é a psicoterapia. Pelo lado da vítima para reorganizar o seu sentir e minimizar o sofrimento, e pelo lado do agressor para habilitar as suas funções cerebrais para a mudança de comportamentos. Esta mudança para crescer tem, obviamente, que envolver pais, professores e técnicos especializados para ter sucesso.
E, não, a punição não é o caminho. O trabalho mais importante a fazer nestas situações é o trabalho de transformação cerebral e a punição não provoca nenhuma transformação cerebral.