“Tenho má postura”; “Trabalho o dia todo sentado e tenho uma postura terrível”; “Tenho de fortalecer os meus abdominais para melhorar a minha postura”; “Preciso de corrigir a minha postura”. Alguma destas frases lhe soa familiar? É certo afirmar que existe uma noção fixa de postura e que é comum a população em geral vê-la como algo a atingir que irá resolver todos os seus problemas. Mas, será que é bem assim?
Esta maneira de ver e falar sobre a postura vem da forma como estudamos a Anatomia e a Fisiologia do movimento. Essa visão influenciou as crenças sobre como habitamos o nosso corpo. Está tudo associado a frases repetidas como, por exemplo: “boa postura”; “ficar direito”; “ombros para trás”; “costas direitas”; “ombros para baixo”; “cabeça erguida”; etc.. Tudo isto representa uma imagem do corpo como destino, finalidade, objetivo numa visão estática do ser humano.
Comecemos, então, por analisar o que é a postura. Nas minhas formações, principalmente de Pilates, gosto de ensinar habilidades de avaliação postural como uma representação instantânea do movimento, ou da falta dele, principalmente observando a respiração. O corpo que observamos nas pessoas, a “postura” adotada, é o mapa da vida que elas viveram e estão a viver. Isto porque a postura é dinâmica e não um destino final, ou um lugar onde vamos chegar. É, sim, resiliente e adapta-se facilmente às atividades da vida.
Novos estudos científicos têm trazido abordagens e visões inovadoras sobre a nossa anatomia. Uma delas é a importância do nosso sistema conjuntivo, a fáscia.
Na perspetiva da fáscia, a postura pode ser definida como a organização tridimensional e dinâmica de todo o sistema fascial que sustenta e molda o corpo humano. Trata-se de uma rede de tecido conjuntivo que envolve, interpenetra e conecta todos os componentes do corpo, desde os músculos e ossos até aos órgãos e sistemas, fornecendo suporte estrutural. É uma rede de conetividade e continuidade.
A postura é o resultado da interação complexa e contínua entre a tensão, compressão e deslizamento dentro da rede fascial, juntamente com a influência das forças gravitacionais e os padrões de movimento do corpo.
Em vez de ser vista como estática, a postura, nesta visão, é dinâmica e adaptativa, refletindo a capacidade do sistema fascial de responder e ajustar-se às demandas do ambiente e das atividades diárias.
O que é uma “boa postura”?
Uma boa postura não se limita apenas à posição dos ossos e articulações, mas também envolve a integridade e a harmonia da rede fascial em todo o corpo, permitindo um equilíbrio eficiente das tensões e uma distribuição adequada das cargas biomecânicas.
A influência da respiração
Através da expansão e contração dos pulmões durante a respiração são geradas forças que se propagam através da rede fascial, influenciando diretamente a organização e a estabilidade do corpo. O movimento respiratório não afeta apenas a tensão e a elasticidade da fáscia torácica e abdominal, mas também está intimamente ligado aos padrões de movimento do diafragma, um músculo essencial que separa a cavidade torácica da abdominal.
Quando a respiração é coordenada e fluida, ocorre uma interação harmoniosa entre a fáscia respiratória e as outras redes fasciais do corpo, promovendo uma postura dinâmica e equilibrada. Por outro lado, disfunções respiratórias, como a respiração superficial ou a respiração paradoxal, podem resultar em padrões de tensão desequilibrados na fáscia, levando a alterações na postura e aumentando o risco de dor e lesões musculoesqueléticas. Portanto, ao considerar a visão da fáscia na postura, é essencial integrar a respiração como um elemento chave na otimização da saúde e do funcionamento do corpo humano.