A (minha) fé.

Júlia Domingues // Maio 12, 2021
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Acreditar no que não se vê.

A vida coloca-nos, quase todos os dias, à prova. Mede forças com as nossas forças e garante que a (nossa) coragem irá ser maior do que os nossos receios. Mas, nem sempre estamos preparados para aceitar isso. Às vezes, falta-nos a coragem para acreditar em nós. Achamos que não vamos conseguir e que a vida se esqueceu do propósito da nossa existência: ser feliz. Há alturas em que perdemos o rumo, que não sabemos o caminho e que ficamos prestes a desistir. Quando tudo vai mal é difícil acreditar que tudo possa voltar a ficar bem. Como acreditar na vida se a vida, tantas vezes, parece ter deixado de acreditar em nós? 

É verdade que a vida nem sempre nos dá o que estamos à espera. 

Nem sempre as coisas acontecem da forma como as idealizamos e nem sempre as nossas escolhas se mostram as mais eficazes. Quantas vezes já estivemos prestes a desistir? Quantas vezes achámos que era o fim? Quantas vezes tivemos a certeza de que tínhamos chegado ao fim da linha e que a luz ao fundo do túnel nunca mais se acenderia? Quantas vezes já perdemos a fé até que a fé (mais uma vez) nos vem ensinar que nada acontece por acaso e que tudo tem um tempo próprio para acontecer? A vida nem sempre nos dá o que queremos, mas mostra-nos sempre o que precisamos. Empurra-mos para a frente para que não fiquemos para trás.

É certo que é (muito) difícil acreditar no que não se vê. 

É difícil acreditar no futuro quando é o presente que nos foge. É injusto não podermos tocar, cheirar e nem saber a forma, a cor ou os contornos daquilo em que devemos acreditar. É difícil abrir mão dos cinco sentidos de que dispomos para confiar num sexto sentido que nem sabemos ao certo como funciona. Mas a verdade é que funciona (e ainda bem).

Há quem lhe chame intuição, quem diga que é presságio e quem prefira chamar-lhe premonição. Eu chamo-lhe fé. A minha fé. 

A (minha) fé não precisa de colidir com a fé de ninguém, não precisa de se vestir melhor do que as outras e não é mais verdadeira do que as demais. A (minha) fé é (apenas) o que não me deixa desistir (de mim). É a minha forma de continuar a acreditar na vida e em mim. É saber que, entre o que eu desejo e o que eu preciso, vai correr tudo bem.

A fé não precisa de ter cor, raça, credo ou religião. Precisa apenas de nos fazer sentido. A fé pode bem ser – e é, tantas vezes – alguém que chega para nos abraçar, alguém que fica mais um bocadinho, alguém que nos envia uma mensagem a perguntar se está tudo bem, uma música, um sorriso, um café ou um bom dia. A fé pode bem ser um raio de sol num dia de chuva, um respirar fundo, um reajustar da rota. 

A fé somos nós a acreditar na vida. Na que temos e na que há de vir. 

É a vida a empurrar-nos para a frente, a permitir sermos felizes. A fé é saber que se (ainda) não aconteceu é porque a vida tem planos melhores para nós.

A vida coloca-nos, quase todos os dias, à prova. Mede forças com as nossas forças e fica à espreita para se assegurar que (nos) superamos. Nunca sabemos a medida da nossa coragem até a colocarmos em frente aos nossos medos. Julgo – aliás, tenho a certeza – que o segredo reside precisamente aí, em acreditar que a nossa força (e ) é maior do que os nossos receios. Só assim é possível não nos perdermos (de nós). Acreditar que tudo vai ficar bem. Porque vai.

Não precisamos de vestir a (nossa) fé com nenhuma cor, desde que não deixemos de nos vestir de fé.

Como podemos nós não ter fé na vida se a vida nunca deixou de ter fé em nós?

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