Chegou o tão temido mês para tantas pessoas. Pouco falamos sobre isto, mas a verdade é que o Natal pode pesar para quem tem de estar com familiares mais difíceis. Vivemos numa sociedade que dá muita importância à família, e de facto a família é importante, mas também pode causar muitos danos. Estas crenças sociais fazem com que a maioria das pessoas sinta uma pressão muito grande para que o Natal seja vivido em família.
O lado menos falado do Natal…
À partida, esta época implica convívios familiares e estes momentos são propícios para situações que podem ser muito desconfortáveis, tais como:
- Comentários sobre o nosso corpo ou o que comemos;
- Perguntas mais intrusivas sobre a nossa vida privada;
- Comparações com outros familiares;
- Críticas, cobranças, chantagens emocionais.
Estas situações, para além de causarem um grande desconforto, são muito difíceis de gerir emocionalmente e podem efetivamente causar danos na nossa autoestima. E tudo isto pode ser verdadeiramente pesado para quem tem famílias mais difíceis.
“Natal é família, amor e união.” Mas, será que é mesmo assim para todos?
Numa altura em que se ouvem músicas de Natal por todo o lado, em que a publicidade promove estes encontros familiares em torno da mesa e em que parece que não existe sequer a possibilidade de podermos pensar num Natal diferente, porque “Natal é família, amor e união”, há de facto quem fique num lugar, simbolicamente falando, muito desafiante.
Quando nos encontramos neste lugar, em que não sentimos o tal amor e união, podemos acreditar que estamos errados, que o problema é nosso. Afinal, parece que todas as outras pessoas à nossa volta gostam do Natal e são felizes nesta época, exceto nós! E quando tentamos falar sobre o que sentimos, somos desvalorizados porque “família é família”. Esta invalidação pode atingir proporções maiores quando pensamos e sentimos que não temos uma família boa para nós porque não somos merecedores e/ou não somos suficientemente bons.
Importa desconstruir estas crenças, porque não é por ser família que temos de aceitar maus-tratos, humilhações, manipulações, entre outros. E não é por ser Natal que temos de estar com quem nos faz sentir mal.
O desafio de fazer diferente
Mas falar é fácil, e a realidade não é assim tão simples. Muitas vezes deixar de passar o Natal com a família implica ficarmos sozinhos, e isso também cria um grande peso. Implica também sentir o julgamento dos outros, nomeadamente de familiares, e isso pode causar muita angústia e até culpa.
Como gerir o stress e a ansiedade no Natal?
Como sei que, à partida, não é fácil fazer diferente, deixo, de seguida, algumas estratégias para gerir a ansiedade desta época:
- Seleciona os conteúdos que consomes nas redes sociais;
- Aumenta os momentos de autocuidado;
- Dá atenção e espaço ao que sentes. As tuas emoções são válidas e precisam de ser geridas;
- Respeita os teus limites e protege-te de situações que causem desconforto (como por exemplo: ir a centros comerciais, ir a jantares de Natal, etc.);
- Promove momentos sociais com pessoas que te façam sentir bem;
- Organiza os dias das festividades de forma que estejas menos tempo com pessoas que te causem desconforto;
- Pede apoio a alguém da tua confiança para te ajudar a sair de situações ou conversas desconfortáveis (podem ter um sinal, por exemplo);
- Estabelece limites, mesmo que indiretos (como por exemplo: sair das situações), para que não haja tanto espaço para estares nessas situações desconfortáveis;
- Permite-te comer de forma livre para evitar um ciclo de restrições e de exageros. Lembra-te que perdido por cem é só perdido por cem, não é perdido por mil;
- Identifica os teus gatilhos (aquilo que os outros dizem ou fazem e que te levam a reagir de forma mais exagerada) e respira fundo nessas situações, não vais resolver nada nestes contextos;
- Ajusta as tuas expectativas em relação aos presentes, às refeições, às pessoas e às suas atitudes;
- Cria uma distância emocional. Aceita que não podes mudar os outros e que aquilo que os outros fazem diz mais sobre eles do que sobre ti;
E porque não procurar ajuda profissional?
Pode ser importante procurar ajuda. A terapia proporciona um espaço seguro que nos permite pensar sobre tudo o que temos cá dentro.