Teletrabalho: Herói ou Vilão?

Ana Tapia // Fevereiro 18, 2025
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Ganhar a vida já não é suficiente, o trabalho tem que nos permitir vivê-la também.”

Peter Drucker

Privilegia a flexibilidade de horários de forma a poder conciliar e organizar com maior autonomia, as diversas áreas de sua vida ao mesmo tempo que elimina o tempo de deslocações para o trabalho? Se o seu trabalho não depende de informações ou decisões complexas tomadas em conjunto, se não está muito tempo em isolamento das outras pessoas, se gosta de trabalhar em diferentes locais ou se tem menores ou maiores que requerem a sua presença física, então o teletrabalho pode trazer-lhe uma maior qualidade de vida desde que tenha os devidos cuidados que refiro em  “A insustentável leveza de trabalhar a partir de casa”.

Apesar de o teletrabalho estar associado ao desenvolvimento da tecnologia a partir de 2000, o facto é que algumas das nossas mães, avós e bisavós foram as pioneiras do trabalho remoto com as vendas de tupperwares, maquilhagem e outros tipos de produtos que ofereceram outro tipo de benefícios como a expansão da conexão social, o estabelecimento de novos contactos sociais, maior mobilidade, entre outros.

Como é que o trabalho pode permitir viver a vida de forma mais plena nesta era pós-industrial, tecnológica e com o desenvolvimento crescente da inteligência artificial? 

Desde que as suas características e interesses sejam compatíveis com as possibilidades que a gestão do teletrabalho oferece, nomeadamente:

  • Conciliação da vida pessoal, profissional e familiar: Se aspira a poder ter um maior equilíbrio entre diferentes vertentes da sua vida, o teletrabalho pode ser uma opção. De facto, uma análise de vários estudos1 concluiu que o trabalho remoto era benéfico para o equilíbrio da vida pessoal e profissional, e que, paralelamente, os fatores familiares interferiam menos no trabalho.
  • Baixa necessidade de interação social e de trabalho em equipa: Há uma quantidade considerável da população que necessita de maior isolamento social do que o relacionamento frequente com outras pessoas. Se se enquadra neste grupo terá maior motivação e produtividade em teletrabalho do que o contrário, sobretudo se tiver que lidar/depender de muitas pessoas enquanto trabalha.
  • Maior liberdade: Se aspira e tem condições para trabalhar sem depender muito de outros para a realização do mesmo.
  • Foco e rendimento: Tem necessidade de trabalhar num ambiente em que possa controlar melhor, por exemplo: barulho, interrupções, distrações, acesso a recursos que lhe possibilitam uma maior concentração e desempenho (fazer o mesmo em menos tempo).
  • Flexibilidade de horários: Realiza uma atividade por objetivos, sem horários rígidos, permitindo-lhe, assim, gerir um variado conjunto de compromissos. Por exemplo: Necessita de conciliar diferentes horários e tarefas, seja para levar ou buscar os filhos, acompanhar familiares ou dedicar-se a atividades pessoais, como ir ao ginásio, frequentar sessões de psicoterapia ou consultas que preservam e cuidam da sua saúde física e psicológica.
  • Ganhar tempo: A ausência ou diminuição de deslocações diárias para o trabalho permite-lhe poupar e utilizar esse tempo em atividades mais benéficas para a sua saúde, quer física (por exemplo: exercício físico, caminhadas, dança, etc…), quer mental (por exemplo: oração, meditação, leitura, passatempos, entre outros). Além disso, contribui para a redução da tensão associada à sobrelotação dos transportes em horas de ponta, à intensidade do trânsito e à exposição diária a níveis de poluição elevados, sobretudo em zonas de maior intensidade populacional.
  • Diminuição dos custos: Se tem muitos custos com transportes, alimentação, roupa de trabalho, o trabalhar em casa pode (desde que tenha as despesas relacionadas com o trabalho – internet, computador, etc. – cobertas ou subsidiadas) traduzir-se em ganhos financeiros por vezes bastante significativos, quer para si, quer para a entidade para a qual trabalha.
  • Menor stress profissional: Para determinadas profissões o teletrabalho é benéfico relativamente ao burnout (stress profissional). Um estudo efetuado em 2022, que envolveu 14 estudos e cerca de 23 mil participantes2, concluiu que o teletrabalho tem presentes menores níveis de exaustão e cansaço associado ao stress profissional.
  • Maior satisfação profissional: O seu bem-estar no trabalho é muito influenciado por um conjunto de fatores, entre os quais diria mesmo o propósito que encontra no que faz e em particular na sua profissão, bem como as características do trabalho e da organização. Contudo, salvaguardando o que foi dito, o teletrabalho foi efectivamente associado a uma maior satisfação profissional num estudo realizado em 20233.

O teletrabalho oferece vários benefícios, mas também tem alguns desafios…  

O trabalho remoto tem um conjunto de benefícios que vale a pena considerar, mas também implica vários desafios como: o combater um maior isolamento social; o estabelecer limites entre as tarefas pessoais e profissionais, quer em termos de espaço físico, quer em termos de “horários”, incluindo a gestão do tempo online e offline; o combater o sedentarismo e promover o relacionamento social; bem como práticas organizacionais capazes de estas novas configurações do trabalho, quer em termos de liderança, quer em termos de cuidados psicossociais.

Tudo pode ser tirado a um homem, exceto uma coisa: a última das liberdades humanas – escolher a sua atitude em qualquer conjunto de circunstâncias, escolher o seu próprio caminho.”

Victor Frankl
  1. Lunde, LK., Fløvik, L., Christensen, J.O. et al. The relationship between telework from home and employee health: a systematic reviewBMC Public Health 22, 47 (2022). ↩︎
  2. Beckel, J.L.O., Kunz, J.J., Prasad, J.J. et al. The Impact of Telework on Conflict between Work and Family: A Meta-Analytic InvestigationOccup Health Sci 7, 681–706 (2023). ↩︎
  3. Mele, Valentina, Paolo Belardinelli, and Nicola Bellé. 2023. “Telework in Public Organizations: A Systematic Review and Research Agenda” Public Administration Review 83(6): 1649–1666. ↩︎

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