Quando vemos as estatísticas sobre a violência cometida por jovens, dirigida aos seus pares ou a adultos, questionamo-nos como é possível. Porque evidenciam tantos jovens comportamentos agressivos, por vezes até de forma gratuita, sem que se percebam as suas motivações? E o que leva ainda tantos jovens a assistirem passivamente a atos violentos, sem que nada façam – a não ser filmar com o seu telemóvel e partilhar nas redes sociais aquilo que presenciaram? Como podem ser expetadores passivos de situações assim? Perguntamo-nos ainda onde anda a empatia destes jovens? Serão verdadeiramente incapazes de se descentrar e de se colocar no lugar dos outros, sentindo o que os outros sentem e ativando comportamentos de ajuda?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), podemos definir violência como “a imposição de um grau significativo de dor e sofrimento evitáveis”. Falamos, assim, de um comportamento antissocial, cujas repercussões têm aumentado, sobretudo nas comunidades mais jovens e entre pares, manifestando-se através de comportamentos desajustados, intencionais e planeados, com a pretensão de causar dano ao outro, seja psicológico, físico e/ou sexual. O espectro da violência é muito amplo e envolve comportamentos com diferentes níveis de gravidade, observando-se frequentemente um processo de escalada.
Muitos são os fatores explicativos da violência, envolvendo variáveis individuais, familiares e sociais, ou seja, do indivíduo e da sua trajetória de vida, bem como do seu contexto imediato e também mais alargado. Não podemos, por isso, estabelecer relações de causa-efeito lineares e dizer que o fator x é a causa da violência. Não é assim tão simples.
Relativamente ao chamado “efeito de espetador”, onde a empatia individual é substituída pela apatia coletiva, observa-se uma difusão da responsabilidade – a responsabilidade de ajudar o outro deixa de estar centrada apenas numa pessoa, dilui-se por todos os que assistem e, assim, minimiza-se a culpa individual. Além disso, em algumas situações específicas, como ao presenciar uma agressão, os espectadores podem sentir conflitos internos – por um lado, e de acordo com os seus valores e princípios éticos, pensam que devem ajudar e tal seria mesmo uma obrigação moral; por outro lado, sentem medos, que podem ser racionais e lógicos, como o medo de também poderem ser agredidos, de a sua ajuda não ser bem recebida ou de virem a ser envolvidos num processo judicial. Este conflito interno pode ser paralisador e por isso vemos, tantas vezes, uma plateia de espetadores totalmente parada, sem ajudarem quem precisa.
E porque é que potenciar a empatia pode ser importante?
A empatia é a capacidade psicológica de sentir o que sentiria a outra pessoa, caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela. É tentar compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar o que sente outro indivíduo. A empatia está intimamente ligada ao altruísmo – amor e interesse pelo próximo – e à capacidade de ajudar. Assim, podemos dizer que a empatia leva as pessoas a ajudarem-se umas às outras.
Sabemos que as crianças mais novas são mais imaturas do ponto de vista do seu desenvolvimento e caracterizam-se ainda por uma elevada autocentração, que vai diminuindo à medida que crescem, voltando depois a aumentar na fase da adolescência. Significa isto que existem duas faixas etárias especialmente desafiantes para o desenvolvimento da empatia – a idade pré-escolar e a adolescência.
A empatia desenvolve-se ao longo do tempo e é em muito influenciada pelos modelos disponíveis – ou seja, os pais que são, desde logo, os principais modelos dos filhos, devem ter presente o impacto que os seus comportamentos têm no desenvolvimento da empatia dos mais novos. A empatia pode também ser potenciada nas mais pequenas coisas do dia-a-dia, pelo que todas as oportunidades devem ser aproveitadas – uma ida ao parque infantil, uma brincadeira com amigos ou mesmo uma interação com um animal podem suscitar a reflexão sobre o que significa tentar perceber como se sente o outro, como me sentiria eu naquela situação, e em que medida posso ajudar.