O que é preciso para ter coragem?

Ana Tapia // Maio 6, 2019
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O que pode existir em comum entre uma ativista social como Malala, jovem que ao defender o direito das raparigas irem à escola, foi baleada pelos talibãs e se tornou aos 17 anos a laureada mais jovem com o Prémio Nobel da Paz; Martin Luther King,  ativista político; um empreendedor como Walt Disney, que foi despedido de um trabalho por não ter criatividade; um bombeiro que arrisca a vida; alguém que persiste com ânimo, diariamente, perante a dificuldade incapacitante de uma doença, ou aqueles que se aventuram no desconhecido procurando outros horizontes ou melhores condições de vida?

O que têm estas pessoas em comum? Conseguem perseverar perante as adversidades, defendem o que pensam e têm coragem para ser, quem realmente são. São estes os 3 principais atributos da coragem:

1. Persistir perante a adversidade

O sucesso não é final. O fracasso não é fatal. É a coragem para continuar que conta.”

Churchill

É fácil identificar a coragem quando, perante algo fora do normal, espetacular ou com grande impacto, descobre capacidades que desconhecia, quer se trate de fazer face a um revés de vida, perigo imprevisto ou lidar com as consequências das suas ações.

Por exemplo, consegue recomeçar-se depois de um fiasco financeiro, ou resgatar alguém do mar que corria o risco de se afogar ou, de uma forma menos eloquente, confronta alguém para corrigir um erro ético ou legal, e essa pessoa pelo seu estatuto ou poder pode trazer-lhe vários dissabores.

Todos aqueles que têm uma profissão em que colocam a sua vida em risco, como jornalistas ou médicos que trabalham em cenários de guerra, ou quem atua para defender crenças sociais, cívicas ou religiosas, em ambientes menos tolerantes, são indiscutivelmente corajosos.

Mas não é tão óbvio associar a coragem a pessoas que conseguem manter o otimismo, sorrir e encontrar a felicidade, perante as dificuldades persistentes e incapacitantes, como problemas de saúde, questões financeiras graves, problemas familiares, situações que muitas vezes se repetem insistentemente e parecem não ter fim.

Para o presidente americano Emerson,

um herói não é mais corajoso do que qualquer outra pessoa, apenas consegue sê-lo durante mais 5 minutos.”

2. Defendem o que pensam

Ser amado por alguém dá força.

Amar alguém profundamente dá coragem.”

Lao-Tsé

Se transmite e defende as suas ideias e estas estão de acordo com o que os outros pensam, não corre nenhum risco, nem precisa ser especialmente corajoso. Mas ser capaz de pensar diferente e apontar outras perspetivas requer coragem e confiança para fazer face à crítica, rejeição ou marginalização.

Todos aqueles que ousam sonhar, inovar ou empreender podem passar por muitas dificuldades, mas se são capazes de defender o que pensam, sem ser para se enaltecerem, são corajosos.

Quando é que essa coragem está ao nível de uma qualidade ou virtude admirável e não ao serviço da livre expressão, ignorância, ou outra coisa qualquer? Sempre que não renuncia a defender o que pensa sobre temas com impacto na vida, nos direitos humanos ou outros similares, e ao fazê-lo está a correr riscos que podem comprometer a sua própria popularidade, reputação ou a vida.

Dois exemplos vindos de dois ministros de Inglaterra: Margaret Tatcher e Thomas More. Margaret Thatcher, na década de 70 do século XX, num ambiente económico e político difícil, tomou uma série de medidas impopulares com vista a recuperar o seu país; Thomas More, Lorde Chanceler do rei Henrique VIII de Inglaterra, no século XVI, ousou defender as suas ideias, realçando o erro do divórcio do rei, trocou uma vida confortável e influente pela prisão e a morte.

Nestes dois casos, ouso pensar que podem ter sido, duas formas de amor que deram coragem: o sentido de missão para com os cidadãos ingleses no caso de Margaret Tatcher e; o amor a Deus e à sua família, no caso de Thomas More, que deixou um exemplo admirável de integridade, fé e um sentido de humor inabalável.

3. Coragem para Ser

Nunca é tarde para ser

quem poderia ter sido.”

George Elliot

No teatro grego, a persona era a designação de uma máscara utilizada para representar um determinado papel. Esta ideia chama a atenção para o facto de cada pessoa poder desempenhar vários papéis, várias personagens: o profissional zeloso, o social ponderado e sensato, o filho ou filha cuidadora, o empreendedor criativo, a empresária de sucesso, a mãe dedicada, etc.

Por vezes estes papéis não traduzem o seu verdadeiro eu e a sua manifestação faz evidenciar pensamentos, emoções e até comportamentos que nem sempre estão congruentes com sua verdadeira natureza ou essência (self) e são conflituais entre si.

É nestas alturas que diz que não consegue entender os comportamentos discrepantes ou pode descrever uma pessoa como “mentirosa, hipócrita, falsa”, ou que simplesmente está a atuar em “falso self” ou de acordo com um Eu falso.

Edward Schwartz é um psicoterapeuta que reconhece, no “si mesmo” (self) uma capacidade de auto regeneração e cura que são qualidades inatas a qualquer pessoa, mas que a história de vida pode ter ferido, adormecido ou substituído por outras características que passam a dominar e não dão espaço a que o “ ser quem poderia ter sido” se manifeste.

Coragem para enfrentar e lidar com medos e perigos, reais ou imaginários é uma qualidade do self que possibilita o autodesenvolvimento e a auto-liderança.

A coragem, esta qualidade do Ser, bem como a confiança, calma, e acolhimento sem julgamento (compaixão) são atributos que possibilitam uma verdadeira liderança pessoal.

Muitos dos meus clientes, quer no âmbito do coaching ou terapia,  têm evidenciado uma coragem que nunca me deixa de surpreender, para ousarem ir mais além, superarem-se e, por vezes, ultrapassarem ou aprenderem a lidar com níveis de sofrimento ou dificuldades várias de se relacionarem, consigo e com os outros.

Nesse percurso muitas vezes têm que enfrentar medos vários e a sua persistência e ousadia até que consigam o equilíbrio desejado, são uma enorme inspiração e exemplo para mim.

Quem ousa persistir face à adversidade, é capaz de defender o que pensa e atua para empreender “ser quem realmente é”, tem a coragem que o escritor russo Leon Tolstoi  descreve nestes termos:

É corajoso quem teme o que deve temer,

e não teme o que não deve temer.”

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