O que é isto da febre?

Hugo Rodrigues // Agosto 17, 2020
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A febre é o principal motivo de procura de recurso a consultas médicas de urgência em pediatria. Apesar de ser “apenas” um mecanismo de defesa do organismo, é muitas vezes um sinal assustador para os pais, que gera muita ansiedade, pelo que é importante esclarecer alguns pontos-chave.

Como medir a febre?

O primeiro é perceber onde se deve medir a temperatura. Até aos 12 meses, deve ser medida no rabinho (com um termómetro digital normal), pois é o local que fornece os valores mais fiáveis, uma vez que não depende do arrefecimento exterior. Não é errado medir na axila, por exemplo, mas os valores são mais passíveis de erro. A partir dessa idade, deve ser medida por rotina na axila. Os termómetros de testa ou de ouvido, apesar de práticos, não são muito fáceis de utilizar correctamente, pelo que podem não ser muito fiáveis e não são aconselhados por rotina.

Quando é considerado febre?

O segundo é que só se considera febre se a temperatura for superior a 37,6ºC (se medida na axila) ou superior a 38º (se medida no rabinho). Em princípio, valores abaixo destes não são considerados como indicativos de febre.

O que causa febre?

Por fim, e tal como frisei anteriormente, é importante sempre reforçar a ideia de que a febre é um mecanismo de defesa do organismo, que pode surgir em múltiplas situações. A sua causa mais frequente são as infeções, principalmente causadas por vírus, mas há muitas outras possibilidades que podem ser consideradas caso a caso. No entanto, é fundamental parar um pouco para perceber como surge a febre e quais as manifestações que podem ocorrer.

A curva da febre

Assim, convém começar por explicar um pouco a curva da febre. Esta tem uma fase ascendente, em que a temperatura começa a subir, uma fase de manutenção e uma terceira fase, de descida da temperatura

Na fase ascendente, a criança vai comportar-se como se estivesse com frio: mãos geladas, pele pálida e com um aspeto manchado, lábios arroxeados e tremor das mãos (este é um tremor fino, que nada tem a ver com as “sacudidelas” das convulsões!). Nesta altura não deve despir completamente o seu filho nem lhe dar nenhum banho, porque se torna extremamente desconfortável, uma vez que o organismo está a tentar conservar calor. Não sobreaqueça, mas não precisa de lhe aumentar a sensação de frio… 

Nas duas fases seguintes, a criança começa a ficar vermelha, transpirada e quente, porque o organismo vai tentar perder o calor que possui a mais. Aqui sim, vale a pena retirar a roupa do seu filho e, eventualmente, colocá-lo num banho de água tépida, porque está a ajudar o organismo a fazer o seu papel.

O que fazer em caso de febre?

Sendo assim, para além do que acabei de descrever, se o seu filho tiver febre deve fazer o seguinte:

  1. Dar medicação de acordo com aconselhamento médico prévio, sempre que a criança estiver desconfortável (na verdade, não se deve “tratar” a febre, mas apenas o desconforto provocado por ela);
  2. Oferecer bastantes líquidos para a criança beber, para compensar o que perde com a transpiração;
  3. Vigiar a resposta à medicação administrada;
  4. Avaliar a presença de sinais de alarme, que indicam sempre a necessidade de observação médica urgente

Sinais de alerta em caso de febre?

É muito importante estar com atenção a sinais de alarme. Os mais importantes são os seguintes:

  • Idade do bebé inferior a 3 meses;
  • Manchas no corpo que surgem nas primeiras 24 horas de febre, particularmente se não desaparecerem ao fazer pressão sobre elas;
  • Associação a gemido (nos bebés pequenos), convulsões ou dificuldade respiratória;
  • Prostração/sonolência que se mantém mesmo quando a criança está sem febre (durante o pico febril é normal que o seu filho esteja mais murchinho);
  • Temperatura superior a 39,5-40ºC;
  • Crianças com doença crónica;
  • Duração da febre superior a 3-4 dias, sem sinais de melhoria (picos febris mais espaçados e/ou mais baixos).

Posto isto, é importante reforçar a ideia de que na maior parte das vezes a febre é um sinal benigno, sendo fundamental combater um pouco a fobia da febre que se foi instalando na nossa sociedade. Não se esqueça que, na ausência dos sinais de alerta descritos acima, a esmagadora maioria das causas de febre são infeções víricas que passam sem nenhum tipo de tratamento em particular.

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