Lipedema: O que é e como prevenir?

Marta Padilha // Janeiro 9, 2025
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Lipedema
Lipedema

O lipedema é uma doença crónica e progressiva que afecta cerca de 10% da população feminina mundial. Apesar de ser uma condição frequentemente desvalorizada, a sua inclusão no CID-11 (Classificação Internacional de Doenças) no início de 2022 trouxe maior visibilidade e estudo a esta patologia. Muitas vezes confundida com obesidade ou linfedema — uma condição diferente relacionada com o sistema linfático —, esta doença gera frustração em quem a vive, já que os esforços para a controlar muitas vezes não produzem resultados visíveis.

O lipedema caracteriza-se pela acumulação excessiva de gordura na zona inferior do corpo, especialmente nas ancas, pernas e tornozelos. Esta acumulação ocorre de forma simétrica nos membros inferiores, mas provoca desproporção corporal, pois afecta apenas a parte inferior do corpo, com excepção das mãos e dos pés. Apenas em alguns casos, pode também afectar os braços.

Quais são os sintomas associados?

Para além disso, provoca dor ao toque e à palpação, hematomas e equimoses frequentes, bem como sintomas de pernas cansadas e pesadas.

Qual é a evolução da doença? 

Sendo uma doença crónica, o lipedema não tem cura. Quando não controlado, pode evoluir, agravando os sintomas. 

Estádios e tipos do lipedema

Existem quatro estádios da doença, caracterizados por um aumento progressivo da gordura acumulada, da dor, do desconforto e por alterações na pele. E, dependendo da localização anatómica, são identificados cinco tipos diferentes de lipedema.

A importância do diagnóstico precoce

O diagnóstico precoce feito por um médico especialista e o início de um tratamento adequado são extremamente importantes para evitar a progressão da doença. 

As pacientes relatam frequentemente um grande sentimento de frustração após inúmeras consultas, anos de buscas e tratamentos ineficazes, sendo um alívio encontrar finalmente um nome para uma condição que tanto afecta o seu quotidiano.

Quais são as causas e os fatores de risco?

Apesar de não ter uma causa exclusiva determinada, acredita-se que o lipedema tenha uma forte componente hereditária. Desequilíbrios hormonais, como défice de progesterona e excesso de estrogénio, são apontados como possíveis fatores desencadeantes.

A doença afecta sobretudo mulheres na puberdade ou a partir dos 30 anos. Quando não controlada, pode evoluir para linfedema, atingindo o sistema linfático.

Como prevenir os sintomas e a progressão do lipedema?

Embora não seja possível prevenir o seu aparecimento, é possível prevenir os sintomas e a sua progressão. Para isso, é essencial adoptar um “estilo de vida anti-inflamatório”, baseado nos seguintes pilares:

  • Gestão do peso: Embora mulheres magras também possam ter lipedema, o controlo do peso é fundamental para melhorar os sintomas, o aspecto e a funcionalidade;
  • Alimentação: A dieta deve ser anti-inflamatória, ajustada às necessidades nutricionais e clínicas individuais de cada mulher. Os alimentos processados e ultraprocessados, ricos em sódio e químicos pró-inflamatórios, tais como: enlatados, enchidos, fast food e comidas hipercalóricas e pouco nutritivas, devem ser eliminados da alimentação. A regularidade das refeições também é um fator a ter em atenção, assim como o bom funcionamento intestinal, pois a absorção de nutrientes e a eliminação de tóxicos, se não for feita corretamente, pode dificultar todo o controlo da condição;
  • Treino e actividade física: O lipedema está associado a alterações do tecido conjuntivo e da unidade muscular. As mulheres com lipedema têm menor força e massa muscular nas zonas afetadas, sendo a resposta ao treino específico também inferior. A alteração do tecido conjuntivo faz com que as articulações sejam mais laxas, sendo muito mais frequente a instabilidade articular o que leva a maior risco de lesão articular, mas também uma maior associação a patologia articular, tais como genu valgo, pé plano, instabilidade da charneira lombo sagrada ou disfunção da anca. Por este motivo, o treino muscular ou treino de força é fundamental; ajuda a controlar o risco de lesão, melhora a funcionalidade, melhora a inflamação, aumenta a força e a massa muscular, ajuda a controlar o peso, já para não falar em todo o benefício geral associado. Estão contraindicados os exercícios de impacto, pois aumentam o risco de lesão e favorecem a fibrose do tecido subcutâneo. Estão indicados os exercícios aquáticos, pois a pressão da água ajuda também na microcirculação;
  • Suplementação específica: Neste ponto torna-se imprescindível explicar que não há um produto concreto. A suplementação é adequada a cada mulher e a cada fase de vida. Pode ser necessário um ajuste diferente caso a paciente tenha 20 anos, esteja em pós-parto ou na menopausa;
  • Melhorar a retenção e o edema: Mesmo que não exista insuficiência venosa associada, a utilização de meias de compressão pode ajudar e muito nesta sintomatologia. É necessária a adequação da compressão e a sua utilização diária. A drenagem linfática, seja manual ou mecânica, assim como a utilização de várias medidas na área estética, tem o seu papel no controlo da retenção, inflamação e aspecto da pele. A hidratação diária da pele, a utilização de banhos pouco quentes, a escovação a seco e a massagem de intensidade ligeira, formam parte do autocuidado específico desta condição;
  • Controlar e/ou tratar as comorbilidades associadas: O lipedema está frequentemente associado a outras situações clínicas, tais como: excesso de peso e ou obesidade; hipotiroidismo; depressão; alergias; disbiose intestinal; insuficiência venosa; entre outras. A situação emocional e psicológica não pode ser descurada. Existem muitas mulheres com lipedema que se sentem frustradas, tristes, com dificuldade na socialização e com baixa autoestima, associado à dificuldade na compreensão e gestão da sua condição.

Uma abordagem terapêutica multidisciplinar e personalizada

A abordagem desta doença tem vários pilares que devem ser considerados, pois cada um tem expressões diferentes em cada paciente. Assim, cada mulher deve ser avaliada de forma única, para que o plano terapêutico seja personalizado por médicos, nutricionistas, técnicos de exercício e terapeutas com formação e experiência nesta condição específica. O objetivo desta equipa multidisciplinar será, em conjunto com a paciente, gerir a sua condição e melhorar a sua qualidade de vida.

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