“O Mundo nunca mais vai ser igual.” Não vai, o que não é necessariamente negativo. Estamos todos a experienciar algo histórico, que nos vai marcar sem a mínima dúvida. Muito de nós vai mudar, está a mudar. O Mundo como o conhecemos também, e, enquanto humanidade, vamos dar outro valor à palavra união, resistência e força.
“O mundo nunca mais vai ser igual.”
E, atualmente, estamos perante uma situação que julgámos nunca acontecer durante a nossa existência, apesar de todos os avisos ao longo dos anos. Sentimo-nos como atores num filme de ficção científica, em cenário apocalíptico, e, por breves momentos de manhã, acreditamos que tudo não passou de um pesadelo.
Estamos ansiosos, stressados e com medo.
Para além da presença deste inimigo e de uma frota invisível que ameaça (e mata) o mundo, somos obrigados, por um lado, a enfrentá-lo na linha da frente, a assegurar os bens essenciais e a vida dos demais, e, por outro – dependendo claro da nossa profissão -, somos vivamente aconselhados ou obrigados a ficarmos em casa, isolados da vida a que fomos acostumados.
Estamos preocupados com a nossa saúde física, mas também a nossa saúde mental se encontra em campo de batalha, fragilizada e assustada. Neste artigo foco-me apenas na ansiedade e stress, mas gostava de deixar a ressalva de que, perante a presente situação (ou semelhantes), a ansiedade em excesso não é o único obstáculo à saúde mental, e que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é natural que nesta fase as pessoas se possam sentir “tristes, ansiosas, confusas, assustadas ou zangadas”, podendo outras psicopatologias serem uma consequência da mesma. Perante estes cenários, alerto para a importância do apoio psicológico.
Precisamos de compreender o stress e a ansiedade, para que possamos lidar melhor com o que estamos a sentir.
O stress e a ansiedade fazem parte do nosso dia-a-dia e ainda bem. Todas as emoções são adaptativas, protegem-nos e permitem-nos interagir com o mundo que nos envolve, quando sentidas de forma adaptativa. Nesta linha de raciocínio, também o stress – uma resposta do nosso corpo perante um agente stressor -, e a ansiedade – caracterizada por sentimentos de tensão, preocupação e insegurança, podendo ser acompanhada por sintomas físicos -, são essenciais à vida. Novamente, quando adaptativos e controlados.
Porém, de facto, esta guerra é com um inimigo invisível, que se disseminou rapidamente e, consequentemente, não nos sentimos seguros nem na rua, nem com o outro ou mesmo com as nossas roupas e pele. Como tal, a nossa resposta de stress ativa mal colocamos o pé na rua, quando alguém que mora connosco chega a casa, quando estamos a trabalhar ou quando vemos as notícias ou/e estamos ansiosos e preocupados com o nosso futuro, com os outros e com o Mundo. Estamos sobrecarregados e rodeados de estímulos. Sentimos que a nossa sobrevivência é ameaçada constantemente. Como seria de esperar, o nosso sistema nervoso simpático – responsável por responder em situações de stress e que nos permite reagir -, encontra-se hiperestimulado e podemos estar perante um desequilíbrio entre o mesmo e o nosso sistema nervoso parassimpático – essencial para que o nosso corpo retorne a um estado emocional estável e de calma.
Os maiores níveis de ansiedade e stress sentidos na presente situação são normais. Permitem-nos agir, estar mais alerta e implementar todas as medidas aconselhadas, mas, devemos adoptar certas medidas para os minimizar quando em excesso e encontrarmos um equilíbrio.
Como manter o equilíbrio?
1. Defina objetivos, mantenha rotinas habituais de sono e alimentação, e explore a sua criatividade.
As rotinas são essenciais e não é por acaso que são uma das medidas mais aconselhadas durante esta quarentena. Isto porque, as rotinas organizam-nos, dão-nos uma sensação de controlo e estrutura que é necessária nesta fase. Como sugestão, explore novas tarefas e competências (por exemplo: pintar, bricolage, jardinagem, cozinhar, escrever, gravar um podcast…). Defina objetivos concretos e metas diárias (por exemplo: limpezas, ler livros, exercício físico, escrever um blog etc.). Mantenha-se activo/a o mais possível.
2. Evite pensamentos destrutivos e encontre um sentido positivo para a sua quarentena.
Atualmente podemos sentirmo-nos “presos” a sentimentos e pensamentos, passando minutos, horas ou dias a pensar no mesmo assunto, o que resulta em maiores níveis de ansiedade e stress. Pensar quanto tempo falta, que a vida era melhor há uns meses atrás, e entrar em negação da presente realidade só vai gerar maior ansiedade, sem qualquer benefício Precisamos de maior disciplina com a nossa mente. Esta é uma situação temporária, e, ao invés de pensarmos “estou presa/o aqui”, podemos pensar “agora tenho tempo para ler aquele livro, tempo para mim, tempo para ver e fazer o que não conseguia”. É crucial darmos o sentido positivo à nossa quarentena/isolamento.
3. Mantenha-se em contacto com o outro todos os dias.
Nós somos seres sociais e o isolamento tem um impacto negativo na nossa saúde mental. Felizmente, atualmente somos muito avançados ao nível das tecnologias, facilitando este processo. Como tal, invista em vídeo chamadas, mensagens e chamadas telefónicas. Fale com os vizinhos pela janela. Combine jantares e almoços via vídeo. Partilhe com o outro experiências, momentos, sentimentos, emoções e mensagens de esperança. Se souber de alguém que está sozinho nesta quarentena, ligue-lhe. Todos os dias.
4. Vamos parar as correntes de fake news e alarmismo e não abusar das notícias.
Notícias sim, porque é essencial mantermo-nos informados, mas de preferência uma vez por dia. Não queremos sobrecarregar-nos de informação e estímulos desnecessários. Sobre as fake news e alarmismos, estas só aumentam o pânico e a sensação de insegurança. Informação apenas através de fontes credíveis e fidedignas.
5. Abrace o mindfulness no seu dia-a-dia.
Mindfulness ou atenção plena, pode ser uma competência, ferramenta ou estado. Neste caso, queremos mais momentos tranquilos e focados no momento presente no nosso dia-a-dia. Esta é uma medida muito promovida, mas essencial. É importante ativar o sistema nervoso parassimpático e minimizar o excesso de estímulos stressantes. Um banho relaxante, meditação, yoga, pintar, ler… o que resultar para si, invista, todos os dias.
Em suma, estamos todos mais ansiosos, preocupados com o futuro. É normal, e alguma ansiedade é necessária para que se continuem a implementar medidas. Mas, o pânico é o nosso maior inimigo. Agora é o momento de pensarmos dia-a-dia com a certeza de que o ser humano e a ciência vão resolver esta situação. Temos todos os médicos, cientistas, epidemiologistas do mundo a trabalhar para a resolução do problema. Profissionais que já encontraram inúmeras respostas para muitos outros vírus e este não vai ser diferente. Só precisamos de lhes dar tempo e para isso temos de ficar em casa. Resiliência é a palavra-chave para superarmos esta batalha. Estamos mais unidos que nunca. Um por todos e todos por um.