No verão passado pus a mochila às costas e fui fazer uma viagem pelo mundo. Era um sonho antigo. Adiei-o até encontrar um propósito forte o suficiente para me fazer sair do conforto da minha casa, do estúdio de rádio ou das salas de formação onde estou habitualmente. Fui fazer esta viagem com o intuito de perceber o impacto que a comunicação tem no bem-estar de pessoas que vivem em diferentes culturas, em contextos por vezes adversos.
Passei por 12 países, a maioria no sudeste asiático.
No Butão tive uma das conversas mais inesperadas e reveladoras que podia ter tido – desde logo porque a pessoa a quem me refiro é uma monja de clausura, que vive num mosteiro situado nas colinas acima da cidade de Punakha, a 2800 metros de altitude. O nome dela é Nima Dema e concedeu-me o privilégio de conversar com ela, apesar do seu recolhimento e timidez.
Perguntei-lhe o que mais gostava na sua experiência no mosteiro e a resposta dela deixou-me em suspenso. Nada, disse ela. Numa fração de segundos, tracei vários cenários na minha cabeça, nenhum especialmente positivo para a Nima, tendo em conta aquela resposta. Comecei a fazer assunções. Mas tive a felicidade de a conversa não ter ficado por ali, e a possibilidade de fazer mais perguntas, num misto de curiosidade, mas também de alguma coragem e atrevimento, atendendo ao contexto. Na verdade, esta jovem monja tinha ido para o mosteiro por sua vontade, porque queria encontrar uma serenidade interior que não tinha cá fora, e sentia-se feliz com a estabilidade emocional que tinha alcançado no mosteiro. Serenei quando compreendi as motivações da monja Nima – e percebi que aquele “nada” inicial tinha muito mais para contar.
Estou a partilhar esta história porque acredito que precisamos de trazer mais este princípio da curiosidade para os nossos dias, para as nossas conversas – com amigos, com os nossos filhos, com a nossa equipa, nos nossos lugares de trabalho. No ritmo quase sempre acelerado dos nossos dias, quantas vezes acabamos por tirar conclusões demasiado precipitadas de uma informação que recebemos?
A curiosidade pode transformar a maneira como nos relacionamos.
Primeiro, porque quando mostramos interesse genuíno pelo outro estamos a abrir portas para compreender as suas perspetivas e motivações – e eventualmente para aprender algo com elas (mesmo que não estejamos de acordo). E depois, porque escutar o outro é um passo essencial para conquistarmos algo que todos ambicionamos também, que é: sermos ouvidos. Sermos realmente ouvidos.

Fazemo-nos ouvir tanto melhor, quanto mais colocamos os outros no centro das nossas interações.
Tantas vezes acontece, numa conversa, ficarmos só à espera da nossa vez para falar e debitar os nossos argumentos; ou no trabalho, na apresentação de um projeto novo à equipa, estarmos muito focados em nós e na mensagem que queremos transmitir, em vez de passarmos “a bola” para a audiência, envolvendo-a e escutando-a.
Mas quando damos palco a quem está à nossa frente, tudo muda porque somos capazes de ajustar a nossa mensagem para aquela pessoa (ou audiência) em específico e ela vai relacionar-se com o que estamos a dizer.
Cria-se uma conexão – e quando há conexão, ficamos mais disponíveis para ouvir.
Por isso, evite estes comportamentos que bloqueiam o foco no outro – e que vão dificultar que a sua mensagem seja ouvida:
- Interromper as pessoas antes de terminarem de falar;
- Enquanto a pessoa fala, ensaiar mentalmente o que vai dizer a seguir;
- Ouvir com o propósito de resolver e não de compreender;
- Oferecer soluções imediatas;
- Fazer derrapar a conversa.
Aceita um desafio?
Então, o meu desafio é este: numa conversa, pergunte mais; numa apresentação, dedique mais tempo a conhecer a audiência que tem à sua frente e procure perceber o que as pessoas sentem sobre o assunto; num debate de ideias, dê espaço ao outro para explicar porque pensa de uma determinada forma.
Antes de pensar como pode brilhar, seja curioso e permita que os outros brilhem.
