Estarei numa relação tóxica?

Rosa Basto // Fevereiro 21, 2019
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Existem alguns sinais que são indicadores de quando uma relação está vulnerável. Normalmente, identificam-se na forma da comunicação do casal, o aparecimento de uma terceira pessoa ou a quebra da sexualidade.

É muito comum ver pessoas que chegam ao nosso consultório presas, emocionalmente, a uma relação amorosa mal resolvida do passado em que um, a determinado momento, foi rejeitado ou traído mas ficou preso àquela situação. Chegam mesmo a aceitar esmolas carinhosas, vivendo de pequenas ofertas de amor, de poucos afetos, quase como se estivesse a pedir migalhas de amor, e quem sobrevive de migalhas de amor é pobre, e por isso, vive mal.

Impedem-se de dar início a um novo capítulo da sua vida! Talvez lhe possa parecer inacreditável, mas já conheci muitas pessoas obcecadas durante décadas a fio por uma relação destas.

As relações tóxicas condicionam o futuro mas, de certa forma, foram condicionadas pelo passado. Como é que isto acontece?

Antes de mais é importante perceber, que todos nós temos antecedentes, e todos temos modelos de homem, mulher, bem como de família.

A sociedade e os fatores culturais exercem um papel fundamental. Os pais são as referências dos filhos quando estes desenvolvem as suas próprias famílias, por isso, pessoas com famílias desestruturadas cujas referências/modelos são, por exemplo, um pai rígido, agressivo ou violento, um homem que não soube amar a mãe, e o modelo de mãe é de uma mulher sofrida que aguenta a dor quase como uma cruz, irão atrair para si este mesmo padrão, reproduzindo, em certa medida, aquilo que sempre viram como comportamentos “normais”.

Como estes padrões se repetem constantemente, a pessoa fica confusa deixando de perceber onde errou para tal estar a acontecer. O resultado vai ser uma profunda baixa de auto-estima, tão profunda que muitas vezes conduz à ideação suicida.

Claro que nem toda a gente vive desta forma a experiência amorosa, mas é interessante perceber que este padrão existe. Por isso, a primeira sugestão que lhe dou, caso este seja o seu caso, é que procure ajuda para perdoar e limpar o passado, antes de continuar nessa espiral de relações em que acaba sempre por sair magoado e com feridas cada vez mais profundas.

A terapia ajuda a criar estratégias de auto-confiança e segurança para que o afeto que tanto lhe falta, venha primeiro de dentro, para que depois se faça repercutir para fora.

Existem outras pessoas que, apesar de não terem tido histórias como as que referi, sofrem da “perturbação da personalidade dependente”. Estes casos específicos diferem dos outros pelo simples facto de que a personalidade é algo que não se altera, faz parte intrínseca da pessoa, sendo a genética um dos fatores predominantes a influenciar a personalidade. Apesar da personalidade não se mudar, o que se pode mudar é a adaptabilidade e a flexibilidade das pessoas que, de resto, não se diferencia muito da abordagem dos casos que referi anteriormente, apenas nestes últimos o reforço deve ser continuado.

Dica

Trabalhe o amor próprio, o respeito a si mesmo, pois quem não se sabe amar, não se respeita, logo não se dá ao respeito para com os demais.

Como detetar se está numa relação tóxica?

Quando as discussões fazem parte do dia-a-dia do casal, surgem “por tudo e por nada” e se sobrepõem às conversas sadias e positivas, este pode ser o sinal de alerta.

Outro sinal de perigo é a crítica. Nos casais em crise a crítica é frequente e acaba por transformar-se numa lista de ataques pessoais que corrói a relação. Os membros do casal deixam de expressar as suas necessidades e passam a atacar-se constantemente. É muito frequente ouvi-los iniciar as suas frases com: “Tu…” em vez de “Eu…”.

Este sucessivo escalavre leva sistematicamente ao aparecimento de outro sinal de perigo: o desprezo.

Na realidade, à medida que as dificuldades de comunicação se complicam, os membros do casal deixam de se preocupar com o respeito mútuo e dirigem-se por um caminho muito arriscado, marcado por expressões sarcásticas que são muitas vezes descritas como piadas inofensivas.

Contudo, elas visam um humor mais sarcástico do que propriamente inofensivo para ofender o parceiro amoroso/cônjuge. Estas situações levam muitas das vezes à violência verbal e física.

Um outro sinal de perigo tem a ver com a postura de defesa que um ou os dois assumem em relação ao outro. A posição do braço de ferro é também um dos grandes factores de risco para uma relação amorosa.

O orgulho impede a capacidade de pedir desculpa e nenhum dos membros do casal consegue perceber que errou. Os pedidos de desculpa esgotam e as tentativas de reconciliação são cada vez menores, dando lugar a amuos ou graves discussões. Quando esta panorâmica atinge um nível tão degradado, o ambiente familiar é totalmente insuportável.

Para além disso, um dos frequentes sinais no final desta escalada é o isolamento. Algumas vezes, um dos membros do casal isola-se sobre si mesmo, para evitar as críticas e as discussões. Estes casos são mais evidentes em casais com relações de longa data. Por exemplo, com o pretexto do marido ressonar a mulher vai dormir para outro quarto, como solução de não ter que “aturar” o protestar do marido.

Quanto maior for o afastamento entre o casal, menor será a frequência das meiguices.  Não raras vezes, o comportamento público destes casais não indicia sequer que se trata de uma relação amorosa – não trocam carinhos, não dão as mãos, etc. Mais parecem duas pessoas que se suportam e se detestam!

Luto de uma relação

Nos nossos dias, muitas separações conjugais/amorosas têm acontecido. Divórcio/separação tornou-se lugar-comum, onde crescem novas formas de família. Os separados educam tanto os seus como os filhos dos outros. Geram-se conflitos e muita confusão de papéis se impõe na retomada da nova identidade para novamente entrar na vida social.

Além desta nova atitude antecede a dor da perda e o sofrimento. Para alguns, a separação é um alívio, mas para muitos outros acresce um sofrimento enorme, levando mesmo à suscetibilidade de sofrer uma perturbação emocional profunda, como é o caso da depressão Major.

Geralmente, existem situações na nossa caminhada que são tão intensas que vivemos uma perda como um luto. As separações são uma dor que precisa de ser enfrentada com realismo e muita ajuda pessoal, espiritual e, muitas vezes, acompanhada por algum profissional de saúde.

Dica

A comunicação é a chave que encurta as distâncias. Procure o entendimento, uma comunicação mais próxima e, se necessário, a terapia de casal que promove estratégias fantásticas de aproximação.

Por fim, o mais importante é saber o que o faz feliz, o que quer para si. E só depois entregar-se ao amor. Sei que parece um cliché mas permita-se primeiro a ser feliz consigo, a ser auto-suficiente, para que numa relação com alguém, tudo o que venha seja amor em dose dupla!

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