Ecrãs e Crianças: Como proteger o desenvolvimento dos mais pequenos

Tiago Proença dos Santos // Dezembro 16, 2024
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ecrãs crianças
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Hoje, os ecrãs fazem parte da nossa rotina, mas será que conhecemos os impactos que têm nas crianças? A Sociedade Portuguesa de Neuropediatria (SPN) lançou um alerta: os dispositivos digitais, como telemóveis e tablets, devem ser usados com extrema moderação nas idades mais jovens. Afinal, o uso excessivo pode prejudicar o neurodesenvolvimento, o comportamento e até as competências sociais e físicas dos mais pequenos.

Os perigos de um “entretenimento fácil”

Enquanto neuropediatra e membro da Direção da SPN, tenho assistido na minha prática clínica que os ecrãs táteis, ao contrário da televisão ou dos primeiros computadores, criam uma exposição contínua a estímulos. As crianças levam o telemóvel para todo o lado: no carro, à mesa do restaurante ou até a caminho da escola. Isso compromete o desenvolvimento neurológico, porque estão habituadas a uma ‘dopamina fácil’ e não aprendem a lidar com o aborrecimento, frustração ou a lutar para conquistar objetivos mais difíceis.

Este impacto estende-se a todas as áreas do Neurodesenvolvimento infantil:

  • Desenvolvimento motor: Crianças que passam muito tempo em ecrãs podem ter dificuldades em tarefas motoras simples como jogar à bola, andar de bicicleta, escrever, recortar ou pintar;
  • Linguagem: Em vez de aprenderem a comunicar com os pais e colegas, muitas crianças reproduzem palavras em inglês ou brasileiro, retiradas de vídeos ou aplicações. Estas alterações acentuam traços de isolamento social e dificultam o estabelecimento de vínculos e criação de empatia;
  • Comportamento: Os pais que recorrem ao tablet para gerir birras acabam por reforçar a incapacidade de lidar com frustrações, algo essencial para o desenvolvimento emocional, perdendo a necessária figura de autoridade.

Recomendações da SPN: Menos é mais

A SPN deixa orientações claras baseadas na revisão da literatura para ajudar as famílias a regular o uso de tecnologia nas diferentes idades:

  • Até aos 3 anos: Evitar completamente os ecrãs, com exceção de videochamadas. Televisão limitada a 30 minutos por dia;
  • Dos 4 aos 6 anos: Máximo de 30 minutos diários, sempre sob supervisão de um adulto;
  • Dos 7 aos 11 anos: Não mais do que uma hora por dia, com controlo parental. Reforçar atividades saudáveis como exercício físico e leitura;
  • Dos 12 aos 18 anos: O tempo de ecrã pode aumentar gradualmente, mas nunca ultrapassando duas horas diárias até aos 15 anos, ou três horas entre os 16 e os 18 anos.

À mesa, sem ecrãs

Um momento especial como as refeições deve ser partilhado, não passado a olhar para um telemóvel. “A mesa é um espaço de interação social, onde se criam memórias e partilhas. Quando damos um tablet a uma criança, estamos a excluí-la desses momentos.”

Cuidar hoje, proteger o futuro

Assim, sublinhamos que limitar o uso de ecrãs não é apenas uma medida de proteção imediata, mas, sim, um investimento no futuro das crianças. Tal como já olhamos com repulsa para práticas que eram comuns há 50 anos, como dar álcool às crianças, daqui a algumas décadas, o uso excessivo de dispositivos digitais será visto com os mesmos olhos.

O aumento da prevalência e gravidade de patologias como a Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção, Autismo, Dificuldades de aprendizagem, alterações de comportamento está estreitamente relacionada com a utilização destas tecnologias.

Cuidar das crianças significa ajudá-las a desenvolverem-se de forma equilibrada e saudável. Afinal, o melhor presente que lhes podemos dar é a possibilidade de explorarem o mundo com as suas próprias mãos e imaginação.

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