Imagine acordar um dia e perceber que não consegue dizer o seu nome, explicar como se sente ou simplesmente acompanhar uma conversa. Para cerca de 8 mil pessoas em Portugal, esta é uma realidade que chega sem aviso, na sequência de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Chama-se afasia e, apesar de afetar aproximadamente 40% das pessoas que sofrem um AVC, continua a ser uma condição pouco conhecida e muitas vezes mal compreendida.
A afasia vai muito além do AVC
Embora o AVC seja a causa mais comum de afasia, não é a única. Tumores cerebrais, traumatismos cranioencefálicos e algumas doenças neurodegenerativas também podem estar na origem desta perturbação da comunicação. Um exemplo recente e amplamente divulgado é o do ator Bruce Willis, diagnosticado com afasia progressiva primária. O seu caso ajudou a trazer atenção mediática para um problema que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, mas que continua a ser invisível para muitos.
Quando a comunicação se torna um desafio diário
A afasia compromete a capacidade de falar, compreender, ler ou escrever — sem afetar a inteligência. É como se a ponte entre o pensamento e a fala se partisse, e com ela, parte da identidade da pessoa.
Para quem vive com afasia, cada interação pode ser uma batalha silenciosa. Dizer “bom dia”, pedir ajuda, participar numa refeição em família ou expressar um sentimento torna-se um desafio. E os impactos vão além da linguagem: afetam o bem-estar emocional, as dinâmicas e papéis familiares, as relações sociais e a autonomia no dia-a-dia.
O problema é social e complexo
Portugal é um dos países da Europa que mais investe na reabilitação imediata após o AVC. No entanto, apesar dos avanços nos cuidados iniciais, existe um vazio preocupante no acompanhamento a médio e longo prazo, sobretudo para quem fica com afasia.
Calcula-se que existam cerca de 40 mil pessoas com afasia em Portugal — muitas delas afastadas da vida ativa e social, sem acesso a suporte psicológico, acompanhamento neuropsicológico, apoios sociais ou soluções de comunicação.
É urgente uma abordagem centrada na vida, não apenas nos défices
Tradicionalmente, a intervenção da Terapia da Fala em Portugal foca-se nos primeiros meses após o AVC, aproveitando a chamada “janela de recuperação espontânea”. Mas, infelizmente, para muitas pessoas a afasia não desaparece completamente e pode “ficar” para sempre, em maior ou menor grau. Exige respostas duradouras, humanas e inclusivas, especialmente para lidar com as consequências psicossociais. Mas estas respostas estão em falta.
É por isso que o Instituto Português da Afasia (IPA) defende e aplica a Life Participation Approach to Aphasia (LPA) — uma abordagem centrada na pessoa, reconhecida internacionalmente, que promove a participação ativa das pessoas com afasia nas suas vidas e comunidades. Mais do que melhorar a linguagem, esta abordagem visa restaurar o sentido de pertença, a autonomia e o bem-estar emocional.

O papel transformador do IPA
O Instituto Português da Afasia (IPA) é uma associação sem fins lucrativos que acredita que a vida é maior do que a afasia. Oferece apoio individualizado, atividades em grupo (presenciais e online), recursos de comunicação aumentativa e alternativa, e suporte para os cuidadores e familiares.

Além disso, a associação promove campanhas de sensibilização, desenvolve projetos de investigação e estabelece parcerias com instituições de saúde, procurando sempre promover um ambiente mais inclusivo e acessível para as pessoas com afasia.
Neste sentido, o IPA, em parceria com a Unidade Local de Saúde de Matosinhos e a Unidade de AVC do Hospital Pedro Hispano, está a conduzir um estudo pioneiro sobre a incidência e o impacto da afasia nos sobreviventes de AVC nos concelhos de Matosinhos, Vila do Conde e Póvoa de Varzim. Os resultados serão divulgados no final deste ano e espera-se que possam contribuir para melhores estratégias de reabilitação, apoio psicossocial e inclusão comunitária para as pessoas com afasia em Portugal.

Todos juntos, somos mais fortes.
Divulgar, partilhar informação sobre a afasia é fundamental, mas existe uma forma ainda mais significativa de apoiar a missão do IPA, sem ter qualquer custo. Ao consignar 1% do seu IRS ao IPA está a ajudar o IPA a continuar o seu trabalho. E, não faltam motivos para consignar.
Porque dar voz a quem a perdeu é, acima de tudo, um ato de humanidade.
Contamos consigo?
É muito simples, basta, ao entregar o IRS em Modelo 3, no Quadro 11 da folha de rosto, assinalar a opção “Instituições Particulares de Solidariedade Social ou Pessoas Coletivas de Utilidade Pública” e preencher com o NIF da Associação IPAfasia: 513 862 072

Nota: Todas as imagens foram disponibilizadas pelo Instituto Português da Afasia (IPA).